Coronavírus já provocou 2800 mortos em 45 países. EUA detectam primeiro caso de contaminação local

Em Portugal, a Direcção-Geral da Saúde registou já 25 casos suspeitos de infecção, sete dos quais ainda estavam em estudo na quarta-feira à noite.

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O novo coronavírus já fez pelo menos 2800 mortos e mais de 82 mil pessoas infectadas em mais de 40 países JEON HEON-KYUN/LUSA

O surto de Covid-19 está já a alastrar-se mais rapidamente no resto do mundo do que na China, registando-se pelo menos 2800 mortos e mais de 82 mil pessoas infectadas em mais de 40 países.

Na Europa, há casos confirmados em vários países, com Itália a registar um aumento repentino de infecções nos últimos dias. Em Portugal, até então, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) registou 25 casos suspeitos de infecção, sete dos quais ainda estavam em estudo na quarta-feira à noite. Os restantes 18 casos suspeitos não se confirmaram, após testes negativos, mas o “risco para a saúde pública em Portugal é considerado moderado a elevado”, segundo a DGS.

O único caso conhecido de um português infectado pelo novo vírus é o de Adriano Maranhão, um tripulante de um navio de cruzeiros que foi internado num hospital da cidade japonesa de Okazaki, a cerca de 300 quilómetros de Tóquio.

Segundo os dados actualizados pela Comissão Nacional de Saúde da China, até à meia-noite (16h de quarta-feira em Lisboa), a China somava um total de 2744 mortos e 78.497 casos confirmados (dos quais 8346 encontram-se em estado grave). Na província de Hubei, o epicentro da epidemia, que acumula 84% dos casos e 96% das mortes, o número de novos casos ascendeu esta quarta-feira a 409, ao mesmo tempo que morreram 26 pessoas, a maioria em Wuhan, capital da província.

O balanço provisório da epidemia do coronavírus Covid-19 globalmente é de 2800 mortos e mais de 82 mil pessoas infectadas, de acordo com dados de 48 países e territórios. Das pessoas infectadas, mais de 33 mil recuperaram.

Além de 2744 mortos na China, onde o surto começou no final do ano passado, há registo de vítimas mortais no Irão, Coreia do Sul, Itália, Japão, Filipinas, França, Hong Kong e Taiwan.

EUA detectam primeiro caso de contaminação local

Esta quinta-feira, de acordo com a agência Reuters, a Dinamarca e a Estónia registaram também os primeiros casos de infecção. Segundo as autoridades de saúde dinamarquesas, um homem que regressou recentemente da região italiana da Lombardia foi diagnosticado com o novo coronavírus esta quarta-feira e encontra-se actualmente em isolamento em casa. Na Estónia, as autoridades de saúde confirmaram tratar-se de um homem que esteve recentemente no Irão.

Os Estados Unidos detectaram também o primeiro caso de contaminação local pelo Covid-19, com o número de infectados a aumentar para os 60, noticiaram os media norte-americanos esta quarta-feira. O paciente em questão, que não viajou recentemente para o exterior nem esteve em contacto com um caso de coronavírus confirmado, vive no norte do estado da Califórnia, de acordo com o jornal Washington Post, que cita informações do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americano.

De acordo com o diário, os funcionários do CDC começaram a rastrear os contactos mantidos pela pessoa afectada para descobrir como pode ter sido infectado e quem mais poderá ter sido exposto.

A informação foi tornada pública logo depois do condado de Orange, no sul da Califórnia, perto de Los Angeles, ter declarado o estado de emergência de saúde local para combater o surto do novo coronavírus, tornando-se na segunda localidade no estado a tomar medidas urgentes, após a cidade de São Francisco.

No mesmo dia, o Presidente norte-americano indicou o vice-presidente, Mike Pence, para a coordenação da resposta à epidemia do novo coronavírus nos EUA, apesar de considerar que o risco para o país é “muito fraco”.

Donald Trump fez o anúncio durante uma conferência de imprensa na Casa Branca, em Washington, na qual apareceu rodeado por diversos dirigentes de serviços e agências sanitárias. O secretário da Saúde norte-americano, Alex Azar, que falou após Trump, notou, porém, que o risco de propagação do Covid-19 nos EUA podia “evoluir rapidamente”.

Arábia Saudita suspende entrada de peregrinos em Meca

Embora faça recomendações, em Portugal, a DGS informou hoje que não existem restrições à estadia em território português de crianças, jovens e adultos que regressem de uma área de transmissão activa do Covid-19.

Já a Arábia Saudita suspendeu esta quinta-feira temporariamente a entrada de peregrinos que visitam a mesquita do profeta Maomé e os lugares sagrados do Islão em Meca e Medina, bem como turistas de países afectados pelo coronavírus. A suspensão foi anunciada quando faltam alguns meses para o hach, a grande peregrinação anual e um dos cinco pilares do Islão.

Até o momento, a Arábia Saudita não registou casos de coronavírus no território, embora alguns dos seus cidadãos residentes em outros países tenham testado positivo desde o início do surto, que já afectou a maioria dos países do Médio Oriente.

Nesta semana, o Covid-19 expandiu-se por toda a região e causou uma onda de suspensões de rotas aéreas e marítimas, especialmente entre os demais países árabes e o Irão, mas também começou a afectar ligações com Itália, Coreia do Sul e Tailândia.

Mulher infringe medidas de quarentena na China

Esta quinta-feira, a imprensa local anunciou que uma mulher que saiu recentemente da prisão e que está infectada pelo coronavírus conseguiu viajar mais de 1100 quilómetros desde Wuhan até Pequim, infringindo as medidas de quarentena. Segundo o jornal estatal Global Times, a mulher, de sobrenome Huang e natural de Pequim, regressou à capital chinesa num carro conduzido por familiares no mesmo dia em que saiu da prisão, em Wuhan, cidade onde se propagou o novo coronavírus. A prisão em Wuhan onde Huang cumpriu pena identificou já 230 casos.

A mulher, que desde 18 de Fevereiro tinha febre e dores de garganta, e acabou por ser diagnosticada em Pequim, ficou desde sábado até segunda-feira num bairro no sul da capital, o Xinyijiayuan. “Fomos hoje notificados pelo condomínio sobre este caso de infecção, mas já tinha lido nos jornais”, revelou um dos moradores citado pela Lusa. “Limparam tudo com desinfectante, ninguém sai de casa”, contou o mesmo morador, um estrangeiro radicado em Pequim há dez anos. A empresa onde a sua mulher se encontra empregada ordenou, entretanto, que trabalhasse a partir de casa, como forma de prevenção.

O caso, que está a ser investigado pelas autoridades locais, suscitou críticas nas redes sociais chinesas e até na imprensa local sobre a gestão da crise em Hubei, província da qual Wuhan é capital.

Várias cidades de Hubei, que acumula 84% dos casos e 96% das mortes a nível nacional, foram colocadas sob quarentena a 23 de Janeiro passado, com entradas e saídas bloqueadas. “O Governo central reiterou repetidamente que os controlos em Wuhan devem permanecer muito rígidos para vencer esta batalha”, observou o Global Times.

O jornal considerou que, caso esses esforços não sejam mantidos, “todo o trabalho feito até agora pode ser em vão e causar um ressurgimento do vírus”.

Na segunda-feira, as autoridades de Wuhan disseram que iam permitir a saída de não residentes da cidade, desde que não acusassem sintomas, mas acabaram por revogar a decisão no mesmo dia.

China espera ter surto controlado até Abril

A Organização Mundial de Saúde declarou o surto do Covid-19 como uma emergência de saúde pública de âmbito internacional e alertou para uma eventual pandemia, após um aumento repentino de casos em Itália, Coreia do Sul e Irão nos últimos dias.

Porém, a União Europeia garantiu esta terça-feira estar a trabalhar “em todas as frentes” para prevenir a propagação do novo coronavírus na Europa, sublinhando a importância da coordenação dos Estados-membros “em tempo real” para enfrentar um fenómeno que é “dinâmico”.

Já a China espera ter o surto do novo coronavírus sob controlo até ao final de Abril, afirmou esta quinta-feira o chefe da equipa de médicos especialistas da Comissão Nacional de Saúde da China, o pneumologista Zhong Nanshan, citado pela agência Lusa.

Numa conferência de imprensa, em Cantão, a capital da província de Guangdong, o médico afirmou que “embora tenha havido um grande surto em Wuhan, a doença não se espalhou de forma maciça em outras cidades”. Zhong sublinhou que o número de casos na China começou a diminuir após 15 de Fevereiro “devido à forte intervenção do Estado” e aos “cancelamentos de viagens após as férias do Ano Novo Lunar”.

O especialista revelou ainda que as previsões de alguns especialistas estrangeiros, que estimaram que o número de casos na China ia atingir os 160.000, “não tiveram em conta a intervenção do Governo chinês”. “A nossa equipa previu que o número de pacientes atingisse cerca de 70.000. Apresentamos esses números a uma publicação internacional, mas não foi aceite”, referiu.

Face ao aumento exponencial de casos na Coreia do Sul, Itália e Irão, o médico acredita que a China deve agora “cooperar e partilhar a sua experiência com outros países” e nota que, embora a epidemia tenha começado na China, “isso não significa necessariamente que a China seja a fonte da doença”.

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