Cervejaria Galiza vislumbra o seu (possível) final feliz: insolvência com manutenção dos postos de trabalho

Restaurante que está a ser gerido pelos trabalhadores desde Novembro vai entrar num processo de “insolvência controlada”.

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Cervejaria está a ser gerida por trabalhadores desde Novembro de 2019 Anna Costa/ PÚBLICO

Não é a solução “ideal”, mas, dentro do actual contexto, pode ser o princípio do possível final feliz para a Cervejaria Galiza. Mais de três meses depois de uma comissão de trabalhadores ter assumido, com a concordância da administração, a gestão do restaurante do Porto, o espaço vai entrar num processo de “insolvência controlada”, com a garantia da manutenção dos postos de trabalho.

O compromisso ficou lavrado em acta de uma reunião com mais de duas horas que juntou, esta quarta-feira, o Sindicato de Hotelaria do Norte, trabalhadores e proprietários da Cervejaria Galiza na Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho. A possibilidade de insolvência é antiga no processo e não era a preferida dos trabalhadores, disse ao PÚBLICO Nuno Coelho, coordenador do sindicato. “Não ficamos contentes”, contou, falando do momento em que esse desfecho começou a ser desenhado.

No entanto, e tendo em conta o contexto actual, parece-lhe “o possível e o mais adequado”, afirmou. Uma assembleia de credores fará um leilão de venda do estabelecimento, ficando com ele quem oferecer mais. A empresa sempre garantiu que as três dezenas de trabalhadores seriam incluídos no negócio a fazer e essa linha mantém-se.

Durante todo o processo, a cervejaria, aberta desde 1972 e “herdeira” da cervejaria C.U.F., não deverá encerrar. Uma decisão correcta e boa para todos, avalia Nuno Coelho. A Segurança Social não tem de arcar com subsídios de desemprego e fica com a garantia de que a dívida poderá ser paga, os trabalhadores mantêm o seu ordenado, os clientes podem usufruir do restaurante.

Mais de “três meses de incerteza” significam também um nível de cansaço significativo para os trabalhadores, que além do seu trabalho habitual foram obrigados a cumprir tarefas como compra de alimentos e gestão de contas e no início do processo chegaram mesmo a dormir no estabelecimento, para garantir que o mesmo não seria encerrado contra a vontade deles. Por isso, relata Nuno Coelho, a notícia trouxe alguma satisfação: “Ficaram mais aliviados”, contou.

A resistência dos trabalhadores da Galiza gerou no Porto uma vaga de solidariedade, com visitas de várias personalidades e políticos, incluindo o Presidente da República e o presidente da Câmara do Porto. Na noite de 11 de Novembro, alguns trabalhadores fizeram uma vigília em frente ao restaurante por suspeitar de que algo estaria para acontecer – e acabaria por ser assim que conseguiriam impedir o encerramento sem aviso que era preparado. A administração concordou com uma gestão temporária feita pelos trabalhadores e nos últimos meses a comissão conseguiu pôr os salários em dia e voltar a ter casa cheia.

Os problemas no conhecido restaurante do Porto estavam há muito instalados. As dívidas ao Fisco e à Segurança Social ascenderam aos dois milhões de euros e mesmo depois de um Processo Especial de Revitalização o valor não terá diminuído muito. O valor exacto, aliás, foi sempre uma incógnita, relata Nuno Coelho. “Nunca soubemos a verdadeira extensão de tudo.”

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