Quando não é “apenas” dor menstrual

Como muitas mulheres acreditam que a dor é uma consequência própria da menstruação, acabam por se habituar a viver com este tipo de sintomas durante vários anos.

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Adriano Miranda/Arquivo

Certo que a intensidade da dor menstrual pode ser variável, indo desde um leve desconforto na zona pélvica, até à capacidade de provocar uma dor intensa, que pode mesmo ser incapacitante. Igualmente certo, mas muitas vezes menosprezado, é o facto de a dor que ocorre durante a menstruação também poder ser secundária a algumas doenças dos órgãos reprodutores femininos, nomeadamente: endometriose, fibromiomas do útero, doença inflamatória pélvica, entre outras.

A endometriose, quando pesquisada e investigada de forma adequada, é frequentemente identificada como uma causa importante de dismenorreia secundária (dor menstrual), de dor pélvica crónica e de infertilidade. Como muitas mulheres acreditam que a dor é uma consequência própria da menstruação, acabam por se habituar a viver com este tipo de sintomas durante vários anos, e a endometriose acaba por ser diagnosticada tardiamente ou numa fase avançada da doença. A automedicação com anti-inflamatórios é também uma prática muito disseminada entre as senhoras que apresentam este tipo de queixas que, durante anos, vão controlando os sintomas de uma doença que não sabem que têm.

Outros sintomas, também relacionados com a endometriose e que não devem ser interpretados como “normais” ou fazendo parte do que “habitualmente já sinto” são a dor durante a relação sexual (dispareunia) que frequentemente está relacionada com as aderências que existem na pélvis da mulher com endometriose. Durante a penetração profunda há um arrastamento do útero e estiramento dos ligamentos pélvicos o que provoca dor no ato sexual.

Sintomas como menstruações muito abundantes, hemorragias intermenstruais de cor acastanhada persistente, queixas intestinais como dor ao evacuar, queixas urinárias que agravam na menstruação e perda de sangue pela urina durante o período menstrual, são tudo sintomas que nos fazem pensar no diagnóstico de endometriose.

A endometriose caracteriza-se pela presença de glândulas endometriais e estroma endometrial (camada interior do útero) em localização extra-uterina, podendo envolver além do próprio útero, os ovários, as trompas, o peritoneu, a bexiga, o intestino e mesmo órgãos mais distantes como o diafragma e o pulmão. Quando ocorre a menstruação, estas células localizadas fora do endométrio, também sangram e desencadeiam um processo inflamatório nos órgãos onde estão alojadas. As lesões de endometriose podem ser superficiais ou profundamente infiltrativas, invadindo e infiltrando os nervos da pélvis e condicionando a função dos órgãos envolvidos.

É nestas localizações extra-uterinas que os tecidos sofrem transformações semelhantes às que ocorrem no útero durante o ciclo menstrual, que se traduzem, mais frequentemente, por dor e infertilidade.

É importante estarmos atentos a uma doença que pode não ser diagnosticada em exames de rotina, se não for minuciosamente pesquisada por especialistas. O diagnóstico da endometriose passa, numa primeira fase, pela realização de exames de imagem, nomeadamente uma ecografia pélvica endovaginal sendo, em casos específicos complementada com um estudo por ressonância magnética pélvica. É imprescindível que estes exames sejam realizados por médicos diferenciados no diagnóstico e tratamento desta doença. O tratamento da endometriose tem como grande objetivo resolver as queixas de dor pélvica, por vezes incapacitante, e o tratamento da infertilidade que frequentemente está associada a esta condição.

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