Mário Nogueira aponta o dedo a Costa: “Não há ministro para a educação”

Secretário-geral da Fenprof acusa o Governo de anular propostas da esquerda e de manter o que diz ser o “roubo de tempo de serviço” dos professores. “A desilusão acentua-se”.

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Mário Nogueira NUNO FOX/Lusa/Arquivo

O secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, subiu ao palco do congresso da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), no Seixal, para acusar o ministro Tiago Brandão Rodrigues de ser intransigente e de não querer negociar com os sindicatos dos professores. E, disparando contra o que diz ser a falta de investimento do Governo na “defesa da escola pública”, sentenciou: “Verdadeiramente, não há ministro para a educação.”

Não pediu a demissão do governante, mas carregou nas críticas. Falando como membro do conselho nacional da Intersindical, Mário Nogueira acusou o executivo de anular as “muitas” propostas que surgem “à esquerda do PS” para a área da educação. Tem sido assim “salvo poucas excepções”, como o fim “das injecções ilegais de dinheiros públicos em colégios privados ou a distribuição gratuita de manuais escolares”. Um Governo que diz estar manietado pelas “imposições de Bruxelas”, com um ministro que impõe decisões sem negociar.

“Quando excepcionalmente Tiago Brandão Rodrigues [se] reúne com os sindicatos é para lhes dizer que é o Governo que decide o que se negoceia, como se negoceia e qual o produto final da negociação. Tudo o que sair fora dessa lógica, segundo o governante, não é caminho, mas beco sem saída”, afirmou.

No Orçamento do Estado recém-aprovado, disse, “a desilusão acentua-se”, da falta de contagem do tempo de carreira dos professores ao envelhecimento do corpo docente, passando pelos salários em “forte desvalorização”, pelo “desgaste” causado pelos “abusivos e ilegais horários de trabalho” e pela “precariedade”.

A crise política de Abril, quando António Costa, ao ameaçar demitir-se se o Parlamento aprovasse, como acontecera em sede de comissão parlamentar, a reposição integral do tempo de carreira dos professores, não foi esquecida no discurso de Mário Nogueira. Mas, embora tenha dito que “as carreiras continuam por regularizar, mantendo-se o roubo do tempo de serviço”, não verbalizou o período que os sindicatos durante meses reivindicaram – nove anos, quatro meses e dois dias.

Foi quando acusou o executivo de seguir imposições orçamentais europeias e de não dar prioridade aos “interesses e direitos da generalidade dos portugueses” que Nogueira foi mais longe ao acusar o executivo de Costa de ser um “fiel depositário da caridosa política marcelista”. O que lhe fez lembrar o que cantava José Barata Moura “há quase 50 anos”, o tempo de vida da CGTP: “O pobre no seu penar/ habitua-se a rastejar/ E no campo ou na cidade/ Faz da sua infelicidade/ Algo para os desportistas/ Da caridade”.

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