O novo Museu da Cidade do Porto será como uma linha de metro: sempre em expansão

A “refundação” do museu municipal contempla uma nova imagem, mas também uma nova estratégia de programação pensada pelo curador Nuno Faria. Ao longo do ano de 2020, a natureza estará em destaque nas várias estações culturais que compõem este projecto a que Rui Moreira chamou uma “neverending story”.

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Nuno Faria, Rui Moreira e os designers R2: Lizá Ramalho e Artur Rebelo Tiago Lopes
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O novo Museu da Cidade foi apresentado na Biblioteca Almeida Garrett Tiago Lopes

Com uma nova identidade “geográfica, semântica e gráfica”, o Museu da Cidade, no Porto, prepara-se para uma nova fase da sua história. Nuno Faria, director artístico do projecto, apresentou esta quinta-feira “a nova leitura” do equipamento, que aposta na “multiplicidade e na complementaridade dos 16 espaços” de relevância histórica e cultural que o compõem, espalhados por toda a “malha urbana” da cidade – numa constante relação metafórica com o que é uma “linha de metro”.

Apesar de o organismo ter sido fundado em 1989, a reestruturação agora operada – “um grande anseio”, nas palavras de Rui Moreira –, com imagem gráfica tratada pelo atelier R2, obedece a cinco novos eixos que orientaram todo o trabalho de refundação, iniciado há um ano, e que se apresentam em perfeita sintonia com o espólio detido pela cidade. Estes cinco eixos (material, líquido, romântico, sonoro e natureza) cruzam-se entre si numa dinâmica que visa orientar os visitantes pelas diferentes rotas construídas, ainda que longe de serem impositivas na compreensão da mensagem.

No denominado eixo material inserem-se estruturas como o Banco de Materiais ou o Arqueossítio. Através da rota sugerida, pode ser feita “uma leitura material e estratigráfica da cidade”, com Nuno Faria a destacar a força “da história fora da história, fora da escrita, construída através dos gestos dos nossos antepassados”. Deste eixo faz ainda parte a Extensão da Indústria, inicialmente prevista para o Matadouro Municipal, mas que terá nova localização no CACE Cultural, no Freixo. Segundo o presidente da autarquia e vereador da Cultura, esta opção deve-se ao atraso do Tribunal de Contas que ainda não se pronunciou acerca do recurso apresentado pela Câmara do Porto depois do chumbo decretado em Fevereiro de 2019. “Não podemos ficar à espera, e o CACE Cultural parece-nos um espaço adequado”, disse Rui Moreira, na Biblioteca Almeida Garrett.

No que à vertente da natureza diz respeito, Nuno Faria considera que esta área merece especial atenção ao nível da programação do museu nesta nova fase da vida do equipamento devido à “recorrência de jardins que integram o Museu da Cidade”, mas não só. A ideia de que os espaços verdes da cidade do Porto podem servir como “balão de ensaio operativo para pensarmos a biodiversidade e o mundo em que vivemos hoje” é outra das razões apresentadas pelo director artístico para tal aposta. Não é por isso de estranhar que as questões ambientais tenham sido escolhidas como o principal ponto da programação para 2020 do reestruturado Museu que se pretende “um espaço aberto e que não se confine aos seus limites físicos”.

Projecto a 80 por cento

No imediato, a nova fase do projecto arranca a 80 por cento, já que alguns dos espaços que integram a estrutura museológica terão que ser ainda intervencionados antes de abrirem portas ao público. É o caso da Casa dos 24, ou da Casa da Bonjóia – que, segundo as previsões da autarquia, será a última estrutura a ficar operacional. No caso do Reservatório da Pasteleira, recentemente reabilitado, estima-se que abrirá no final do presente ano já com uma nova exposição. Também a Extensão do Romântico (antigo Museu Romântico), actualmente aberta ao público, será encerrada e sofrerá alterações depois da reflexão promovida pelas plataformas criadas para o efeito.

Na mesma lógica, Rui Moreira fez questão de destacar o carácter evolutivo do projecto, o que chamou de “never ending story”. Na visão do autarca, não há motivos para que o plano apresentado não seja actualizado numa lógica de continuidade que deve permanecer independentemente da força política que no futuro possa governar o Porto. “Há um património imenso, com muita potencialidade; por isso não é possível dizer quando é que isto vai acabar. Felizmente, não faltam equipamentos.”

Durante a conferência de imprensa de apresentação do novo Museu da Cidade, uma outra característica do projecto mereceu destaque. Segundo Nuno Faria, nos próximos meses serão criadas “plataformas públicas de reflexão”, compostas por pessoas externas à direcção artística, que terão um papel activo na programação dos espaços inseridos no projecto. “São pessoas que nos ajudarão a pensar alguns destes equipamentos e a pensar o Museu que a cidade quer numa lógica de ‘museu para a cidade e cidade para o museu’. As plataformas terão geometrias variáveis e, no seu âmbito, serão dinamizadas conferências com vários especialistas”, concluiu.

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