Sanders sai do Iowa sem o grande prémio, mas com os bolsos cheios de dinheiro

Senador do Vermont recebeu mais fundos só em Janeiro do que os seus adversários no Partido Democrata em qualquer trimestre de 2019. A cinco dias das primárias em New Hampshire, os resultados no Iowa ainda são provisórios e mostram um empate técnico entre Pete Buttigieg e Bernie Sanders.

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Bernie Sanders teve mais votos no caucus do Iowa, mas pode não receber mais delegados do que Pete Buttigieg Brendan McDermid/REUTERS

Com a segunda votação na longa corrida de eleições primárias já ao virar da esquina, na próxima terça-feira, os candidatos do Partido Democrata à Casa Branca têm percorrido os caminhos do estado de New Hampshire ainda com o fantasma do Iowa a pesar na bagagem. Mas até os mais interessados em saber o resultado final da caótica votação de segunda-feira já seguiram em frente, com os olhos postos na dispendiosa campanha que os espera nas próximas semanas – enquanto Bernie Sanders anunciou um novo recorde de apoios financeiros em Janeiro, Pete Buttigieg deu um salto a Nova Iorque para tentar encher os cofres da sua campanha.

Esta quinta-feira, a equipa de Sanders anunciou que o candidato favorito da ala mais à esquerda do partido recebeu 25 milhões de dólares (22,6 milhões de euros) só no mês de Janeiro, em pequenas contribuições individuais de mais de um milhão de apoiantes.

É uma quantia que deve deixar qualquer outro candidato preocupado, exceptuando, talvez, o multimilionário Michael Bloomberg. Não só é uma grande fonte de financiamento para recuperar dos enormes gastos da campanha no Iowa, e para pagar anúncios televisivos e outras acções de campanha em estados que ainda não foram a votos, como confirma a ideia de que o senador do Vermont tem uma base de apoio sólida e fiel: 25 milhões de dólares num mês é mais do que qualquer outro candidato juntou num trimestre de 2019.

“Nós vamos ganhar, e não porque tenhamos doadores multimilionários e angariações de fundos à porta fechada”, disse Bernie Sanders. “O que nós temos é muito, muito mais poderoso: um movimento de raiz alimentado por mais de um milhão de americanos da classe trabalhadora a doar 18 dólares de cada vez. Juntos, vamos derrotar Donald Trump e transformar este país.”

É, também, sinal de uma mudança na forma de financiamento das campanhas eleitorais para a Casa Branca, à imagem do que aconteceu em 2016 com o mesmo candidato. Quando antes era impensável alimentar uma candidatura a nível nacional sem o apoio de alguns grandes doadores, agora é possível ser-se um dos favoritos com o apoio de milhões de pequenos doadores.

A importância do dinheiro

A almofada financeira para o muito que falta nas eleições primárias do Partido Democrata é essencial para os candidatos que queiram lutar até ao fim. É por isso que acompanhar a entrada e saída de verbas, antes e depois de uma votação, é um bom indicador da saúde das várias campanhas.

E é também por isso que uma vitória clara e anunciada rapidamente na primeira votação de todas, a que aconteceu segunda-feira no Iowa, era importante para os candidatos.

Num e-mail enviado aos seus apoiantes na terça-feira, a campanha da senadora Elizabeth Warren resumiu a importância do caucus no Iowa e a principal consequência do atraso na divulgação dos resultados: “Não tivemos uma noite em grande, com notícias excitantes sobre os resultados, nem o empurrão na angariação de fundos que costuma acontecer ao fim da noite.”

Esta quinta-feira, com 97% dos votos contados no Iowa, a pequena distância que separava Pete Buttigieg e Bernie Sanders ficou ainda mais pequena e transformou-se num empate técnico – 26,2% dos delegados para o candidato da ala centrista e 26,1% para o favorito na ala mais à esquerda no Partido Democrata.

Em mais um exemplo de como os resultados eleitorais nas primárias, especialmente no início da corrida, significam coisas diferentes para os diferentes candidatos, Pete Buttigieg – que terá um bom resultado no Iowa, termine em primeiro ou em segundo – não pôde concentrar-se apenas em New Hampshire até ao dia da votação na próxima terça-feira, ao contrário de Bernie Sanders.

Buttigieg, que pode tornar-se no preferido da ala centrista do Partido Democrata se Joe Biden não recuperar do mau resultado no Iowa (está em 4.º), teve de interromper a campanha em New Hampshire na quarta e na quinta-feira para viajar até Nova Iorque, num esforço adicional de captação de fundos que não preocupa Sanders, por exemplo.

Os outros favoritos na corrida, Elizabeth Warren e Joe Biden, também estão a ser obrigados a fazer manobras orçamentais, depois de resultados menos positivos no Iowa – uma tendência que pode mudar se ficarem acima das expectativas em New Hampshire.

Enquanto Warren cortou 500 mil dólares (450 mil euros) nos gastos com anúncios no Nevada e na Carolina do Sul (as duas votações que se seguem ao New Hampshire, ainda em Fevereiro), Biden tem quatro sessões de angariação de fundos na próxima semana.

“Apenas tento ser sempre cuidadosa com a forma como gastamos o nosso dinheiro”, disse Elizabeth Warren.

Bloomberg à espreita

Essa preocupação não existe na campanha de Michael Bloomberg, o antigo mayor de Nova Iorque que não foi a tempo de participar no caucus do Iowa nem nas primárias em New Hampshire, e que aposta tudo no dia grande da longa campanha – a “super terça-feira” 3 de Março, quando 14 estados vão a votos no mesmo dia, incluindo a Califórnia e o Texas.

Bloomberg, que já gastou 200 milhões de dólares (181 milhões de euros) do seu bolso numa campanha em que ainda não foi a votos, tem-se concentrado nos estados com mais delegados e nos que o Partido Democrata precisa de recuperar nas eleições de Novembro se quiser derrotar Donald Trump, como o Michigan e a Pensilvânia.

Em Filadélfia, na Pensilvânia, a campanha de Bloomberg organizou esta semana um comício com um espectáculo de laser, e comida e bebida grátis, onde o multimilionário se apresentou como o “Un-Trump” (o “destrumpificador”) do país – o mais bem preparado para enfrentar o Presidente norte-americano nos debates e numa campanha que promete ser brutal.

“Nada do que o Donald Trump possa dizer ou fazer me prejudica. Ele não vai achincalhar-me, e eu não vou permitir que ele vos achincalhe”, disse Bloomberg.

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