Acordo após acusações de racismo obriga executivos da Prada a formação emocional

Em finais de 2018, a casa milanesa foi acusada de promover o racismo. Mais de dois anos depois, um acordo encerra as queixas e obriga os executivos da Prada a aprender o que é “igualdade racial”.

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Um dos objectos que suscitou as acusações de racismo contra a marca italiana Chinyere Ezie/Facebook
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Miuccia Prada Alessandro Bianchi/Reuters

Uma montra repleta de bonecos negros, em jeito de caricatura e com traços de macacos, na loja da Prada de Nova Iorque e parte da colecção Pradamalia, desencadeou uma torrente de reclamações contra a marca de moda italiana em finais de 2018. A imagem chegou às redes sociais através de uma publicação da advogada de direitos humanos do Centro de Direitos Constitucionais, Chinyere Ezie, especialista em casos de discriminação racial e de género. “Não escrevo muitos posts públicos, mas neste momento estou a tremer de raiva”, desabafou no Facebook.

Com a replicação do post, que teve mais de 11 mil partilhas directas só naquela rede social, a Prada depressa reagiu, retirando os objectos em causa e pedindo desculpa pela sua falha “não intencional”, prometendo ainda concentrar-se na diversidade. Num comunicado, citado na época pelo The Guardian, a empresa era peremptória: "[Na Prada], abominamos todas as formas de racismo e imagens racistas”.

No entanto, a Comissão de Direitos Humanos de Nova Iorque (NYCCHR, na sigla original), o organismo municipal que se encarrega de supervisionar a aplicação das leis de direitos humanos na cidade norte-americana, não se contentou com a correcção. Desde o incidente até agora, a Prada e a agência nova-iorquina têm estado em conversações até, por fim —​ e depois de uma queixa formal de Ezie —, terem chegado esta terça-feira a um acordo que inova, no sentido em que se concentra muito mais em evitar episódios futuros do que em castigar o incidente passado.

Assim, segundo o documento assinado ontem e citado pelo The New York Times, a Prada compromete-se a proporcionar formação de sensibilidade, nomeadamente sobre questões de igualdade racial, a todos os funcionários a laborar em Nova Iorque, assim como aos executivos com escritório em Milão, uma vez que, argumenta a comissão, as decisões destes têm repercussões na loja nova-iorquina. Ou seja, a designer Miuccia Prada, o marido desta e CEO do grupo, Patrizio Bertelli, e Carlo Mazzi, presidente da Prada, vão ter aulas de como gerir sensibilidades e emoções, sendo que o empenho dos mesmos nesta formação terá de ser comunicada à Comissão de Direitos Humanos de Nova Iorque pelo conselho de administração da empresa.

Paralelamente, adianta o mesmo jornal, a Prada aceitou integrar nos seus quadros superiores um director que ficará responsável pela área da diversidade e inclusão, estando os candidatos sujeitos à aprovação da NYCCHR. As responsabilidades deste novo director passam por “verificar os designs da Prada antes de serem vendidos, anunciados ou promovidos de qualquer forma nos Estados Unidos”.

E a NYCCHR não deverá deixar de ter a Prada debaixo de olho, exigindo relatórios periódicos sobre os progressos da empresa no sentido de promover a diversidade e a inclusão. Além disso, daqui a um ano, a mesma agência exige ser informada sobre a constituição da empresa.

No Twitter, a comissão congratulou-se pelo acordo conseguido, que “procura emendar os danos causados pela Prada, ao estabelecer medidas de justiça restaurativa sem precedentes na empresa para combater o racismo contra negros e garantir mudanças duradouras”.

Para Chinyere Ezie, cuja queixa deu origem a este acordo, o resultado é satisfatório. “[O acordo] representa um novo modelo de responsabilidade corporativa.”o consultor norte-americano de moda Robert Burke, citado pelo The New York Times, defende que a acção poderá ter um efeito dominó no resto do sector: “Qualquer marca que ainda não esteja a implementar este tipo de mudança e salvaguarda começará a fazê-lo muito rapidamente”.

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