Encenador Tiago Correia acusa Teatro Municipal do Porto de “censura”

Encenador Tiago Correia acusa a direcção do Teatro Municipal do Porto de “censura, chantagem emocional, coacção, ameaça e abuso de poder” e junta-se à escritora Regina Guimarães no protesto.

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O encenador Tiago Correia paulo pimenta

O encenador Tiago Correia acusou ontem o director do Teatro Municipal do Porto (TMPorto), Tiago Guedes, de “censura”. As declarações, publicadas na sua página de Facebook, surgem na sequência de outra acusação de censura ao TMPorto, feita na véspera ​por Regina Guimarães. A escritora diz ter visto retirado de uma folha informativa que acompanhava a peça Turismo, pela Companhia A Turma, um texto da sua autoria com uma nota de rodapé na qual criticava a noção de “cidade líquida” de Paulo Cunha e Silva, ex-vereador da Cultura da autarquia portuense, que morreu em 2015.​ 

Tiago Correia, encenador da peça que subiu a palco nos dias 31 de Janeiro e 1 de Fevereiro no Teatro Campo Alegre, distanciou-se das declarações de Tiago Guedes, que justificou não ter publicado o texto com a concordância do encenador. Nas redes sociais, quis clarificar que “o que Tiago Guedes chama ‘concordar’, eu chamo de censura, chantagem emocional, coacção, ameaça e abuso de poder”.

O encenador afirma que “a dois dias da estreia” Tiago Guedes o tentou convencer, por contacto telefónico, a retirar a folha de sala de Turismo por “insultar a memória de um morto”, para além de ser resultado de uma “instrumentalização” de Regina Guimarães com vista a um “ataque político”. Para Tiago Correia, a acusação é “um absurdo”: “Nunca entendi o texto da Regina desta maneira, texto que muito me honra e ao meu trabalho”. O encenador acrescenta que nos “cinco minutos” que pediu a Tiago Guedes, o fez no intuito de falar com a dramaturga, Regina Guimarães, o que não foi possível, continua, por ela se encontrar numa reunião do Conselho Municipal da Cultura, em que estavam também presentes pessoas da direcção do TMPorto. “Eles sabiam que ela estava ocupada e fizeram isto nas costas dela”, explicou Tiago Correia. Regina Guimarães, contactada pelo PÚBLICO, confirmou estar presente nessa reunião.

O encenador afirma ainda na sua página de Facebook que foi acusado por Tiago Guedes no decurso do mesmo telefonema de publicar sem o seu consentimento o livro homónimo da peça, com o texto de Regina Guimarães como prefácio, apesar de ser uma “publicação independente” da co-produção da peça.

No mesmo dia do telefonema, chegada a hora do ensaio para a imprensa, Tiago Correia foi informado pelo director do TMPorto de que uma “comitiva” da direcção iria supervisionar “o conteúdo do espectáculo”. Durante as entrevistas, a comitiva não interveio, mas Tiago Correia entende que criou um ambiente “hostil”.

O encenador denunciou também um “boicote à comunicação e divulgação do espectáculo”. O TMPorto não terá cumprido com a estratégia delineada — a partilha dos seis teasers da peça e dos vários artigos da imprensa e uma entrevista em vídeo que nunca chegou ser publicada — e a Companhia A Turma recebeu a indicação de que teria de alterar as notas de imprensa, retirando o parágrafo que fazia referência a Regina Guimarães e eliminando a expressão “despejo criminoso”. Turismo aborda o fenómeno da gentrificação das cidades e consequentes casos de despejo perante a pressão imobiliária.

Num comunicado ontem enviado à imprensa, a direcção do TMPorto considerou a acusação de censura “descabida”: “A produção dos conteúdos de comunicação da peça é contratualmente da exclusiva responsabilidade da equipa de comunicação do teatro. A decisão da direcção do teatro de não publicar um texto insultuoso e descontextualizado do espectáculo em apreço, quando é sua a responsabilidade da produção da folha de sala, não pode ser confundida com censura”. O comunicado esclarece ainda que a decisão de não distribuir o texto foi “da exclusiva responsabilidade do director do teatro, em respeito à memória de Paulo Cunha e Silva”.

Tiago Guedes confirmou, em declarações ao PÚBLICO, a proibição da venda do livro no Teatro Campo Alegre. A decisão foi tomada por uma questão de “coerência”. Tiago Guedes reconheceu que a publicação do livro não dizia respeito à co-produção e que a retirada da permissão para vender o livro à porta do teatro se devia ao facto de ser “estranho” não distribuir a folha de sala mas transmitir esse conteúdo num outro formato. O director do TMP negou ainda o boicote à divulgação da peça, defendendo que o espectáculo teve “mais comunicação” do que a maior parte das produções do Teatro Municipal do Porto. com Lusa.

Texto editado por Maria Paula Barreiros

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