Da Glória ao mundo, Fatinha desenha o amor, as viagens, a vida

Natural de Aveiro, foi em Antuérpia que se afirmou como ilustradora e soma prémios internacionais. Entre viagens, Fatinha Ramos criou agora Love Around The World, uma história de amor entre duas mulheres, verídica, que planeavam viajar e casar-se nos 22 países onde o casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal. Final feliz, pelo menos no desenho.

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"Love Around the World": a história também passa por Portugal. FATINHA RAMOS
,Amor ao redor do mundo
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"Love Around the World": Paris FATINHA RAMOS
Prefeitura de Antuérpia
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Detalhe de trabalho para o edifício da Câmara Municipal de Antuérpia, Património UNESCO, em obras de renovação. Cada ilustração tem 4m de altura. FATINHA RAMOS
,Ilustração
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Detalhe de trabalho para o edifício da Câmara Municipal de Antuérpia, Património UNESCO, em obras de renovação. Cada ilustração tem 4m de altura. FATINHA RAMOS
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Detalhe de trabalho para o edifício da Câmara Municipal de Antuérpia, Património UNESCO, em obras de renovação. Cada ilustração tem 4m de altura. FATINHA RAMOS
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Detalhe de trabalho para o edifício da Câmara Municipal de Antuérpia, Património UNESCO, em obras de renovação. Cada ilustração tem 4m de altura. FATINHA RAMOS
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Detalhe de trabalho para o edifício da Câmara Municipal de Antuérpia, Património UNESCO, em obras de renovação. Cada ilustração tem 4m de altura. FATINHA RAMOS

O nome Fátima só aparece nos documentos oficiais. Sempre foi tratada por Fatinha e é Fatinha que gosta de ser. Natural da Glória, Aveiro, vive há cerca de 19 anos em Antuérpia, na Bélgica, onde tem vindo a desenvolver uma carreira como ilustradora que já a levou a conquistar vários prémios internacionais. A ilustração do livro Sonia Delaunay: A life of color, editado pelo MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque) foi um dos seus projectos com maior reconhecimento e também um dos que mais gostou de desenvolver. Fatinha Ramos começou a desenhar ainda em criança, na cama do hospital – a receber tratamento para uma doença óssea –, e nunca mais parou.

Seguindo o conselho dos pais, optou pelo curso de design, em vez da licenciatura em pintura. Formou-se em Design Gráfico na ESAD, no Porto, e seguiu para a câmara de Aveiro para fazer um estágio. Pouco depois, começou a fazer as malas para rumar a Antuérpia. Coisas do cupido. Na altura namorava com um belga e foi por amor que se mudou para a região da Flandres, terra que não tardou a considerar também sua. “Já lá vivo há muito tempo”, repara, apontando uma grande vantagem: “Não é longe de Portugal, são duas horas e meia de avião, portanto, vai dando para vir cá muitas vezes.”

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Fatinha Ramos volta sempre que pode a Portugal ao encontro da "luz, das cores, do mar e da comida" Nelson Garrido

Quando chegou a Antuérpia começou a trabalhar na área da publicidade, como directora de arte, tendo, inclusive, desenvolvido “campanhas nacionais para o Governo da Flandres”, recorda. Em 2003, conquistou o CCB (Creative Club of Belgium) Golden Creative Award em publicidade.

Logo a seguir foi viver e trabalhar para a Nicarágua durante meio ano, no âmbito de um projecto dos Arquitectos Sem Fronteiras. “Fomos construir casas para as pessoas mais pobres”, recorda, a propósito de uma experiência que lhe permitiu, também, explorar novas paisagens e culturas. “Viajámos pela Nicarágua e também pela Costa Rica e gostei de ambos os países”, introduz. Enquanto a Costa Rica era mais verde, mais arranjadinha, mais turística, a Nicarágua, na altura, era mais wild mas isso também lhe dava charme”, especifica.

Por volta de 2013, 2014 decidiu começar a correr atrás do sonho de trabalhar como ilustradora. Deu o salto e trocou em definitivo o design pela ilustração. “Não estava a gostar daquilo que estava a fazer e decidi entrar em acção, porque a vida é curta de mais. Fiz uma lista de todas as coisas que queria fazer na minha vida e cheguei à conclusão que tinha de viver mais 250 anos para poder fazer tudo”, testemunha. No fundo, decidiu começar a dar mais cor à sua vida. E também à nossa.

Despediu-se de todos os seus clientes, retirou do seu website todas as tarefas que não queria continuar a fazer e decidiu fazer uma exposição individual que foi um sucesso – a mostra Unbreakable, que viajou também até ao Porto.

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Love Around the World fatinha ramos

Sinal de que a artista sempre lá esteve, dentro dela. “Não se pode escolher ser ou não artista. Ou se é ou não se é”, declara. “Eu andei alguns anos sem me afirmar como artista, mas não era feliz”, prossegue. Hoje, confessa-se 100% realizada. Ama tanto aquilo que faz que, por vezes, durante o processo criativo, até chega a perder a noção do tempo. E é também com paixão que fala de cada um dos seus projectos. Curiosamente, o último traz o amor no título. “Chama-se Love Around The World e é sobre duas mulheres que se apaixonam, a Fleur e a Julian, que decidem criar um projecto artístico, 22 The Project, que as levaria a casarem-se nos 22 países onde era possível pessoas do mesmo sexo casarem-se”, desvenda, a propósito do seu mais recente livro.

Uma história com passagem por Portugal

Fatinha Ramos nem hesitou quando recebeu o convite para ilustrar o livro que retrata uma história verídica e interrompida de forma súbita. “Elas casaram-se em Antuérpia, Amesterdão, Nova Iorque e, no quarto casamento, em Paris, a Julian descobre que tem um cancro no cérebro e uns meses depois morre”, relata a ilustradora. Fatinha Ramos sentiu que tinha de dar o seu contributo para ajudar a dar a conhecer este projecto ao mundo, mostrando, essencialmente, “que o amor existe, independentemente de ser entre um homem e uma mulher ou duas pessoas do mesmo sexo”. 

A história de Love Around The World também passa por Portugal. A criatividade de Fatinha Ramos colocou Fleur e Julian “a casarem-se no Porto e vestidas de minhota”. E mais não dizemos, uma vez que o livro só irá ser apresentado no nosso país em Abril. “A Fleur e eu vamos estar em Lisboa, no Planetiers World Gathering, no dia 24 de Abril, a fazer uma sessão de apresentação oficial”, anuncia a artista.

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Detalhe de trabalho para o edifício da Câmara Municipal de Antuérpia, Património UNESCO, em obras de renovação. Cada ilustração tem 4m de altura. fatinha ramos

Em Antuérpia, vive na parte sul da cidade, junto “aos museus, às galerias e perto do rio”, faz questão de vincar. Gosta de estar por lá, também pelas pessoas, pelas relações que foi construindo. Ainda assim, sempre que pode viaja até Portugal, para rumar à cidade de Aveiro, ao encontro da família e dos amigos. E “da luz, das cores, do mar e da comida” de que tanto gosta.

Foi na sua cidade natal que a Fugas a encontrou, em tempo de festa e de animação, em honra de São Gonçalinho, que Fatinha Ramos foi, este ano, desafiada a ilustrar. “Foi uma honra e também uma grande responsabilidade fazer esta litografia”, testemunha.

Kokeshi antiga que trouxe do Japão (país com uma cultura que a fascina) Nelson Garrido
Moleskine que anda sempre com ela para rabiscos de ideias Nelson Garrido
Câmara fotográfica que leva sempre que viaja Nelson Garrido
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