Hospitais Pulido Valente e Militar no Porto prontos para receber portugueses que queiram ficar em isolamento

Medidas de rastreio a aplicar aos portugueses retirados da China ainda estão a ser estudadas. Caso da possibilidade de se fazer um teste semelhante ao que é feito aos casos suspeitos. DGS confirma mais um caso suspeito.

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Paulo Pimenta

O Hospital Pulido Valente, em Lisboa, e o Hospital Militar, no Porto, já estão preparados para receber os portugueses que vão ser retirados na China e que pedirem para ficar em isolamento. Ainda não é certa a data de chegada a Portugal dos cerca de 15 portugueses que estavam a residir em Wuhan, cidade chinesa que é o epicentro do surto provocado por este novo coronavírus que já infectou mais de 10 mil pessoas e matou mais de 200

Já ao final da tarde de sexta-feira e depois da realização da conferência de imprensa, a Direcção-Geral da Saúde confirmou a existência de um caso suspeito que está internado no Hospital de São João, no Porto. O doente regressou da China no dia 22, onde teve contacto com um cidadão que estaria infectado. É o segundo caso suspeito que Portugal regista, sendo que o primeiro deu resultado negativo.

Na conferência de imprensa, Graça Freitas referiu que tem havido muitos contactos de médicos para a linha médica que dá apoio e valida se se trata ou não de um caso suspeito. “Desde há cerca de uma semana a linha médicos começou a ser frequentemente activada. Muitos médicos têm usado a linha para dizer que têm uma pessoa em determinadas circunstâncias, se é para validar ou não. Só houve um caso suspeito validado e que esteve em investigação”, afirmou, embora admitindo que não podia garantir que não existam mais casos suspeitos. 

Em relação aos portugueses que estão a ser retirados da China, “estes concidadãos vêm do epicentro de uma epidemia e podem manifestar vontade de ficar mais uns dias em isolamento profiláctico, porque todos têm família e podem ter receio. E é por isso que o Ministério da Saúde providenciou instalações tranquilas e confortáveis para que possam estar em não-internamento”, explicou a directora-geral da Saúde. Graça Freitas adiantou que o Hospital Pulido Valente já tem uma zona preparada e o mesmo se passa com o Hospital Militar no Porto.

Graça Freitas reforçou que estas pessoas não vão ficar em internamento, “apenas a ocupar um espaço em instalações hospitalares por razões logísticas e porque é mais fácil”. “São pessoas saudáveis, se algum adoecer, entra no protocolo” criado para os casos suspeitos. O isolamento, sempre voluntário, também pode ser em casa, medida que já foi aplicada noutros surtos. 

Sobre as medidas de rastreio a aplicar a estes portugueses, a directora-geral da Saúde avançou que ainda há medidas que estão a ser estudadas. Como por exemplo a possibilidade de se fazer um teste semelhante ao que é feito aos casos suspeitos. 

“O rastreio pode ser feito de duas formas: apenas com um inquérito ou com um protocolo analítico com duas zaragatoas e mandamos para o laboratório. Esse rastreio pode não ser 100% conclusivo. Se estiver em período de incubação pode não dar positivo”, disse, adiantando que a Direcção-Geral da Saúde (DGS) está a ser aconselhada por um grupo de peritos mas que ainda não há um consenso sobre a utilização do teste. Graça Freitas assegurou que o plano de acção global está preparado e que há tempo para definir estes pormenores até à chegada dos portugueses a território nacional. 

A directora-geral da Saúde reforçou que esta é uma operação complexa mas que tudo está a ser feito pela DGS e Ministério da Saúde “para que seja encontrada a melhor solução para todos”. “Neste momento estamos a colectar informação, não é fácil obter informação sobre estas pessoas que permitam perceber melhor se fazem parte das mesmas coortes, se partilharam casa, se estiveram expostas ao mesmo tipo de risco. Saberemos quando as equipas contactarem com elas no voo ou à chegada.”

Uma coisa é certa, disse Graça Freitas, “estas pessoas são especiais. Estiveram mais de 30 dias no epicentro de uma doença nova. São especiais, tanto que não está sair quase ninguém da cidade, a não ser pessoas no âmbito da protecção civil”.

Quanto a medidas a ser aplicadas nos aeroportos, Graça Freitas afirmou que “o rastreio deve se feito à saída e a China é o país que melhor faz rastreio. Tem feito tudo para conter este surto”, disse, lembrando que existem protocolos para informar as autoridades de saúde em terra se houver um caso suspeito detectado num avião ou num barco. “Na SARS e noutras epidemias, das milhares pessoas rastreadas à entrada [essa prática] não levou à detecção de nenhum caso. O rastreio generalizado não é considerado um rastreio adequado.” Está já a ser disponibilizada nos aeroportos informação em três línguas dando a indicação que as pessoas devem ligar para o SNS 24.

Em relação ao surto, Graça Freitas afirma que a boa notícia é que, apesar da sua expansão, tem sido possível conter cadeias de transmissão pessoa a pessoa e a taxa de letalidade do vírus é relativamente baixa, entre os 2% e os 3%. Contudo, é preciso manter a vigilância para o caso de haver uma alteração que mude este quadro. 

Tudo indica que a transmissão do vírus se faz através de gotículas. Além do laboratório do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, também há laboratórios capazes de fazer o teste de despistagem da presença do vírus ou não. Qualquer caso positivo tem de ser comunicado para activação do protocolo e que passa pelo encaminhamento do doente para os hospitais de referência: Curry Cabral e Dona Estefânia em Lisboa e São João no Porto.

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