“A partir de agora Joacine Katar Moreira irá representar-se a ela própria”

A retirada de confiança política a Joacine Katar Moreira foi aprovada por 83% dos membros da assembleia do partido.

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Joacine Katar Moreira já disse que irá permanecer no Parlamento daniel rocha

A direcção do Livre resumiu a retirada de confiança política a Joacine Katar Moreira, aprovada durante a madrugada desta sexta-feira numa reunião que durou mais de oito horas, numa frase: “Hoje não é um dia feliz para o partido.” A decisão foi aprovada por 34 dos 41 membros da assembleia presentes na reunião. Joacine Katar Moreira ainda não reagiu, nem aos jornalistas, nem à direcção.

“A ausência de Joacine Katar Moreira da reunião da assembleia para a qual foi convocada foi mais uma prova de que não tem consideração pelo partido”, analisou um dos dirigentes do Livre, Pedro Mendonça. Para o Livre, os papéis do divórcio foram assinados por Katar Moreira.

Ainda hoje, a direcção do Livre irá pedir o agendamento de uma reunião com o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, para reforçar a sua intenção de o partido deixar de ser representado pela deputada. “A partir de agora, Joacine Katar Moreira irá representar-se a ela própria”, salientou a direcção.

“Não foi uma decisão fácil, precipitada ou pouco discutida”, garantiu esta sexta-feira de manhã a direcção do Livre, numa conferência de imprensa na sede do partido. “Joacine não discutiu, não aceitou o mínimo conselho dos seus companheiros”, resumiram os dirigentes.

Sobre os pontos de divergência com a deputada, a direcção do Livre deu vários exemplos. Um deles foi a recusa de Joacine se reunir com partidos de esquerda na semana de discussão e entrega do Orçamento do Estado na generalidade. “Joacine Katar Moreira recusou-se a reunir-se com os partidos de esquerda, como o PCP e o BE. Essas reuniões aconteceram com a direcção, porque Joacine Katar Moreira informou que não iria comparecer a essas reuniões, sem apresentar qualquer argumento”, contou Pedro Mendonça.

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Da esquerda para a direita: Ana Raposo Marques, Pedro Mendonça e Safaa Dib António Pedro Santos/Lusa

A decisão de retirada da confiança política foi comunicada por um dos porta-vozes e membro do grupo de contacto (direcção), Pedro Mendonça, que esteve acompanhado por Ana Raposo Marques e Safaa Dib, também dirigentes do partido, que começaram por fazer uma distinção entre a sua falta de confiança política, por um lado, e os ataques racistas de que a deputada foi alvo, por outro. “Este é um momento difícil, mas foi um momento necessário”, continuou. “Joacine Katar Moreira terá sempre o nosso apoio e a defesa dos seus camaradas na luta contra o fascismo, racismo e novos populismos. A retirada de confiança política não significa que deixe de ser defendida dos ataques vis que têm acontecido nestes dias. Uma coisa são as divergências políticas, outra são os direitos humanos”, vincou.

No entanto, apesar do apoio contra estes ataques, o partido diz que não consegue continuar a trabalhar com a deputada. “O país assistiu, no último congresso, ao que Joacine Katar Moreira chamou a camaradas do partido. Não era possível continuar a fingir que estava tudo bem”, disse. “Que fique claro que este divórcio agora anunciado em nada alterará a nossa defesa de Joacine Katar Moreira”, reafirmou, num recado para fascistas, sexistas e racistas. “Para chegar a esta decisão, foram horas e horas a tentar trabalhar nas divergências.”

Apesar dos esforços que as duas partes dizem ter feito, o divórcio foi mesmo inevitável. O partido fundado por Rui Tavares opta, assim, por abdicar da sua representação parlamentar, cessando a sua relação com a deputada eleita por Lisboa. Não obstante, a direcção garante que não irá pedir que Joacine Katar Moreira renuncie ao mandato dela. “Conhecemos a lei, defendemos a Constituição e nunca faríamos isso a um nosso eleito”, afirmou Pedro Mendonça.

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