O dia em que fiquei (por alguns minutos) com uma perna maior que a outra

A drenagem linfática manual resulta na perda de volume e, ao acelerar os processos metabólicos, na perda de peso. No entanto, na Royalty Clinic, em Lisboa, o foco é mais ambicioso: promover a saúde.

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A drenagem linfática manual resulta na perda de volume instantânea e, ao acelerar os processos metabólicos, na perda de peso
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Movimentos circulares, ora rápidos, ora suaves. Por vezes com uma pressão maior, mas indolores. Até porque, defende Janaína Madeira, massoterapeuta com um currículo de mais de uma década, a dor não é suposto estar presente no tratamento de drenagem linfática. “Não se pode estar a tratar um mal, criando outro, como é o caso de massagens que, no dia a seguir, resultam em hematomas.”

Em oposição à sala luminosa da entrada da Royalty Clinic, que abriu portas em Outubro em Lisboa, e que dá para um pequeno e tratado jardim, bem no centro da cidade, quase paredes-meias com o El Corte Inglès, nas salas de tratamentos é a meia-luz que impera, proporcionando a tranquilidade necessária para nos fazer fugir do caos lá fora e mergulhar num estado de serenidade, amplificado pela música que nos transporta para outros mundos.

O primeiro passo é abrir os gânglios linfáticos, pelos quais, espera-se, se irá conseguir expelir parte das toxinas que habitam no nosso corpo. Lixo que, pelo facto de “a nossa canalização por vezes estar maltratada”, acaba por encontrar em recantos vários do corpo o local ideal para se alojar, muitas vezes transformando-se na malfadada celulite que, mais do que um problema estético, sublinha a nossa terapeuta, constitui uma inflamação dos tecidos muitas vezes demasiado desvalorizada. Daí que, explica, não faça sentido agredir uma zona inflamada, fazendo antes por promover a descongestão da mesma.

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O desprezado sistema linfático

O sistema linfático consiste numa rede de vasos que percorre todo o organismo, através do qual a linfa — um fluido que contém glóbulos brancos, em particular linfócitos, responsáveis pelo combate às infecções — é transportada até todos os tecidos. Após um processo de filtragem nos gânglios linfáticos, a linfa é lançada na corrente sanguínea, voltando aos mesmos para eliminar as impurezas.

“O problema”, explica Janaína Madeira, “é que muitas vezes o sistema linfático, que podemos comparar a um elaborado sistema de canalização, está obstruído”. O facto desencadeia o regresso de todo o lixo que os gânglios não conseguem filtrar, acabando, por exemplo, na retenção de líquidos ou, numa situação mais severa, intoxicar a corrente sanguínea que alimenta todos os órgãos. E, acrescenta a terapeuta, a maioria das pessoas ainda está muito desatenta aos problemas de saúde que este cenário pode desencadear.

Para agravar o quadro, ao contrário do que acontece com o sangue, que é bombeado, a linfa conta apenas com a acção muscular para se movimentar pelo nosso corpo, tornando o processo de drenagem linfática essencial à libertação das toxinas, sobretudo para quem tem uma vida sedentária.

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Uma técnica quase centenária

A técnica de drenagem linfática manual foi desenvolvida pelo casal dinamarquês Emil e Estrid Vodder, no início dos anos 30 do século passado. Os Vodder, que se dedicavam a tratar pessoas com sinusite e condições semelhantes, perceberam que todos os utentes apresentavam um inchaço nos gânglios linfáticos.

A constatação levou-os a estudar o pouco conhecido sistema linfático e a desenvolver uma terapia que consistia em recorrer à massagem para movimentar a linfa. Aquilo a que chamaram de drenagem linfática manual foi apresentado em Paris, em 1936. Porém, foram necessárias quase três décadas para que o método fosse reconhecido, quando o médico alemão Johannes Asdonk (1910-2003) passou a usar a drenagem linfática manual como um complemento aos tratamentos de quimioterapia.

Vamos nesta conversa, sobre como surgiu o método e que aplicações tem, quando Janaína me chama a atenção para a perna que acabou de massajar, deixando-me boquiaberta: a diferença de volume entre as duas pernas é de quase dois centímetros, perfeitamente visível a olho nu. No entanto, a massoterapeuta não se fica pelas pernas, defendendo que o processo de drenagem linfática manual não deve ser aplicado zona a zona, mas percorrer o corpo todo numa única sessão. Até porque corre-se o risco de movimentar a linfa de uma zona do corpo para outra sem que se consiga efectivamente provocar a expulsão dos microorganismos lesivos.

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Estética vs. saúde

A drenagem linfática manual resulta na perda de volume e, ao acelerar os processos metabólicos, na perda de peso. No entanto, defende Janaína, esse não é o seu foco, mas apenas dois efeitos colaterais benéficos.

“Queremos sublinhar a importância do tratamento sobretudo para a saúde.” Afinal, a drenagem linfática manual ajuda quem tem dificuldades em dormir, quem sofre de ansiedade e acaba, até, por desacelerar o envelhecimento, ao libertar a pele de toxinas, permitindo uma maior produção de colagénio.

Além do mais, a terapeuta explica que a técnica é frequentemente aplicada em mulheres grávidas e no pós-parto, assim como em quem está numa fase de pré-menopausa. Também em situações de pós-operatório, a massagem é aconselhada por ajudar, explica, o corpo a libertar-se das toxinas presentes nas anestesias.

Já em pessoas que apresentem um quadro viral, como uma gripe, ou que tenham uma infecção bacteriana, Janaína explica que a drenagem linfática manual pode agravar o problema — e, no caso da bactéria, levá-la a viajar pelo corpo, perturbando outros órgãos. A técnica é ainda contra-indicada em casos de tuberculose, infecções e processos inflamatórios agudos, edemas resultantes de insuficiências renais, hepáticas ou cardíacas não controladas, trombose venosa profunda, insuficiência cardíaca congestiva e hipertireoidismo.

Em casos oncológicos, poderá ser possível aplicar a drenagem linfática manual, mas apenas com autorização médica. O mesmo se aplica a portadores do vírus VIH. 

No que diz respeito a crianças, Janaína defende que as mesmas “já têm um metabolismo acelerado”, não vendo benefício em aplicar esta técnica aos mais novos. No entanto, numa fase de pré-adolescência, a drenagem linfática manual pode potenciar o equilíbrio hormonal e controlar os níveis de ansiedade próprios da idade. Por essa razão, tem em curso um protocolo com uma pediatra.

Entretanto, Janaína já me pôs as pernas do mesmo tamanho, trabalhou braços e abdómen. O resultado é visível no imediato. Mas, explica, será ainda mais evidente nas 72 horas que se seguem, com o corpo a expelir tudo o que ela conseguiu empurrar até “ao fim dos canos”. E, como tinha prometido, sem dor.

O PÚBLICO fez o tratamento a convite da Royalty Clinic.

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