Caso das messes. General nega ser corrupto: “Não percebo por que me fizeram isto”

Principal arguido da Operação Zeus falou pela primeira vez sobre esquema de sobrefacturação nas messes. No tribunal de Sintra garantiu desconhecer esquema criminoso, apesar de subordinados seus já terem confessado.

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Fernando Veludo/NFactos

Foi a primeira vez que o principal arguido do processo de corrupção nas messes da Força Aérea, o major-general Milhais de Carvalho, falou perante a justiça na Operação Zeus. Fê-lo esta quarta-feira no Tribunal de Sintra, para dizer que está inocente.

Em causa está um esquema de sobrefacturação que seria levado a cabo há muitos anos em praticamente todas as messes das bases da Força Aérea. Conluiadas com os militares, as empresas fornecedoras de bens alimentares facturavam quantidades de géneros superiores às efectivamente entregues nas cantinas. O lucro era depois repartido entre os empresários e os homens da Força Aérea, que receberiam destes fornecedores dinheiro em envelopes. No topo desta rede criminosa estaria o general Milhais de Carvalho, hoje já na reserva. Chegou a estar sete meses em prisão preventiva, mas encontra-se já em liberdade. Até hoje tinha-se sempre remetido ao silêncio durante os interrogatórios.

Esta quarta-feira, durante o julgamento que está a terminar no Tribunal de Sintra, no qual se junta a quase sete dezenas de arguidos no banco dos réus – incluindo os civis das empresas fornecedoras –, o general Milhais de Carvalho proclamou a sua inocência. Fê-lo mesmo depois de a juíza que preside ao colectivo o confrontar com os depoimentos de outros militares que já confessaram o seu envolvimento no esquema, implicando-o.

“Não consigo perceber porque me fizeram isto”, reagiu. “Nego completamente as acusações que me são feitas. Estou inocente. Nunca fui corrupto, nunca falsifiquei documentos e muito menos fui líder de um grupo de bandidos. Só quero que isto se resolva rapidamente, porque os prejuízos disto para a minha vida já foram bastante intensos”. Milhais de Carvalho esteve à frente da Direcção de Abastecimento e Transportes da Força Aérea entre 2011 e 2016. Um subordinado seu, o capitão Luís Oliveira, também arguido neste processo, contou em tribunal há um ano como eram repartidos os lucros deste esquema: “Um terço para o senhor general, um terço para o tenente-coronel Alcides Fernandes, um sexto para mim e outro sexto para um coronel.” Às patentes mais baixas envolvidas também cabiam alguns proventos, embora inferiores.

Segundo a acusação do Ministério Público, a sobrefacturação terá implicado um prejuízo para o erário público superior a 2,55 milhões de euros. A Força Aérea continua a contratar algumas das firmas arguidas neste processo para a abastecerem, uma vez que a lei não prevê que possam ser afastadas dos concursos públicos enquanto não forem condenadas em última instância. Também já celebrou ajustes directos com algumas delas depois de o Ministério Público as ter acusado. 

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