Coronavírus: cinco milhões de residentes saíram de Wuhan antes da quarentena

Governo chinês diz que vírus pode ser transmitido antes da pessoa sentir os sintomas. Macau ameaça pessoas originárias da província de Hubei: ou deixam o território ou serão postas em isolamento.

Foto
Material de protecção enviado para a cidade de Wuhan EPA

Cinco milhões de residentes de Wuhan, onde surgiu o surto do novo coronavírus, deixaram a cidade antes de esta ser fechada e colocada em quarentena pelas autoridades. A informação foi avançada pelo presidente da câmara da cidade chinesa no dia em que o ministro da Comissão de Saúde da China anunciou que o vírus pode transmitir-se durante o período de incubação, que pode ir até 14 dias, quando as pessoas não sentiram ainda os primeiros sintomas da infecção.

Segundo disse, este domingo, Zhou Xianwang, o presidente da câmara de Wuhan, durante uma conferência de imprensa, as pessoas saíram por causa das férias do Ano Novo Chinês e com receio da epidemia do coronavírus. De acordo com o dirigente ainda estão actualmente nove milhões de pessoas dentro da zona de quarentena.

Além de Wuhan, para onde foram enviados 2360 médicos e enfermeiros civis e militares, as autoridades chinesas mandaram fechar mais 13 cidades na província de Hubei. E banir a venda de animais exóticos e selvagens em toda a China – o surto terá começado num mercado de venda deste tipo de animais para consumo humano de Wuhan.

Pessoas que aguardam com ansiedade que os cientistas chineses desenvolvam uma vacina para este novo coronavírus que, apesar de aparentemente ser menos mortífero que a SARS, outro tipo de coronavírus que apareceu na China e matou cerca de 800 pessoas entre 2002 e 2003, é mais infeccioso.

“A rapidez de propagação do surto está a aumentar. Temo que isto continue assim durante algum tempo e que o número de casos de pessoas infectadas ainda aumente”, admitiu o ministro da Comissão Nacional de Saúde, numa conferência de imprensa sobre o surto este domingo. Segundo Ma Xiaowei​, os portadores da doença sem sintomas durante o período de incubação estão a fazer com que os casos se multipliquem mais rapidamente.

“Há sinais de que o vírus se está a tornar mais transmissível. Estes ‘agentes contagiosos’ ambulantes tornam o controlo do surto muito mais difícil”, referiu o ministro. Ao mesmo tempo, as autoridades chinesas não põem de parte a hipótese de que o vírus venha a sofrer mutações no futuro, espalhando-se por outras faixas etárias – até agora, a maioria das pessoas infectadas tem entre 40 e 60 anos.

Estão actualmente em observação 2700 pessoas em Wuhan, sendo que mil delas é muito provável que venham a ser confirmadas como estando infectadas. Mil que se juntarão aos 533 casos confirmados na cidade, 1988 em todo o país (incluindo Macau e Hong Kong). Fora da China já se registaram casos em 12 outros países, de acordo com o Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças: Austrália (4), Canadá (1), Coreia do Sul (3), Estados Unidos (2), França (3), Japão (3), Malásia (4), Nepal (1), Singapura (4), Tailândia (5), Taiwan (6) e Vietname (2).

Depois de, no sábado, o Presidente Xi Jinping ter dito que a “situação é grave”, ontem as autoridades anunciaram que o primeiro-ministro Li Keqiang irá chefiar o grupo de alto nível encarregado de lidar com a epidemia de coronavírus que já matou 56 pessoas até agora, sendo que 324 pacientes estão em estado grave.

O Centro de Prevenção e Controlo de Doenças (CPCD) chinês anunciou este domingo que conseguiu isolar o vírus e estão a seleccionar uma estirpe para desenvolver uma vacina. Xu Wenbo, do CPCD, afirmou, numa conferência de imprensa em Pequim, que os cientistas usaram um sequenciador genético de alto rendimento para identificar os patogénicos no dia a seguir à chegada das primeiras amostras enviadas de Wuhan, a 2 de Janeiro.

Macau drástico

Se Hong Kong decidiu fechar as fronteiras do território (depois de oito casos confirmados de coronavírus) à entrada de residentes de Hubei ou de pessoas que tenham estado naquela província nas últimas duas semanas (com excepção dos residentes na cidade), o executivo de Macau resolveu ser mais drástico.

As autoridades macaenses comunicaram aos 1100 visitantes provenientes de Hubei que estão no território que regressem à China continental ou terão de ser colocadas em isolamento.

As autoridades de saúde de Macau anunciaram este domingo a existência de mais três pessoas infectadas, elevando para cinco o número de casos no território.

Em comunicado, o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus indicou que os novos casos foram diagnosticados em três mulheres, de 58, 39 e 21 anos, residentes em Wuhan. As três mulheres fazem parte desses cinco milhões de pessoas que deixaram a cidade antes desta ser encerrada pelas autoridades e colocada sob quarentena.

Sugerir correcção
Comentar