Catarina Martins: “É muito difícil compreender que se vá atrás de Rui Pinto com tanta força”

A coordenadora do BE diz que a justiça ainda tem muita dificuldade em agir no que diz respeito ao futebol. “Existe quase uma excepção de Estado de direito no futebol português”, critica.

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Rui Pinto vai a julgamento por 90 crimes RODRIGO ANTUNES/Lusa

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, considera incompreensível que a justiça “vá atrás” de Rui Pinto “com tanta força” sem investigar os “crimes que as fugas parecem indicar”, criticando que exista quase “uma excepção de Estado de direito no futebol português”.

Em entrevista ao Porto Canal, transmitida este domingo, a líder bloquista foi questionada sobre o caso do pirata português Rui Pinto, criador do Football Leaks. Os elementos da Polícia Judiciária que continuam a investigar Rui Pinto acreditam que o hacker foi o denunciante por trás da fuga de informação de mais de 715 mil ficheiros conhecida como Luanda Leaks, revelou o PÚBLICO.

Para a dirigente bloquista, há três questões diferentes a ponderar. “Em primeiro lugar, as responsabilidades que Rui Pinto tenha tido devem ter o seu julgamento próprio, como é óbvio. Nós já tivemos denunciantes no passado que fizeram grandes fugas de informação de uma forma altruísta pelo interesse público e há outros casos em que há crime por trás e, portanto, não há esse altruísmo. O Ministério Público português tem de fazer esse trabalho”, defendeu.

Outro problema, na óptica de Catarina Martins “é saber o que é que se faz com a informação vinda deste processo”, defendendo que as fugas, “não sendo provas legítimas e não sendo fruto de uma investigação judicial”, a justiça “tem de investigar e tem de perceber o que lá está”.

“É muito difícil compreender que se vá atrás do denunciante com tanta força” e não se faça a investigação, criticou Catarina Martins. Para a coordenadora do BE, “essa é a parte inaceitável”: “A justiça tem de investigar as informações que tem, todas elas”.

“Há depois um terceiro aspecto que inquina normalmente este debate chamado Football Leaks e aqui inquina neste debate por duas razões: primeiro, porque há paixões futebolísticas e as pessoas acham que têm de estar de acordo ou contra de acordo com o seu clube de futebol”, apontou.

Catarina Martins assume que não tem clube de futebol, mas dá o exemplo da eurodeputada bloquista Marisa Matias “que é do Benfica e disse sempre que tem de ser investigado o que diz o Rui Pinto”.

“Há aqui um problema que é que existe quase uma excepção de Estado de Direito no futebol português, em todos os clubes, que não pode mais existir. Não só sobre crimes que têm a ver com crime económico, com questões de violência”, condenou.

“Acho que a Justiça tem muita dificuldade em agir no que diz respeito ao futebol e isso é um problema não pode haver excepções ao Estado de direito”, disse.

De que é acusado Rui Pinto?

O Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decidiu, em 17 de Janeiro, levar a julgamento Rui Pinto, criador do Football Leaks, por 90 crimes de acesso ilegítimo, acesso indevido, violação de correspondência, sabotagem informática e tentativa de extorsão, deixando cair 57 crimes. (Passa do total de 93 para 90 crimes, e de 54 para 57 crimes).

Em Setembro de 2019, o Ministério Público acusou Rui Pinto de 147 crimes, 75 dos quais de acesso ilegítimo, 70 de violação de correspondência, um de sabotagem informática e um de tentativa de extorsão, por aceder aos sistemas informáticos do Sporting, da Doyen, da sociedade de advogados PLMJ, da Federação Portuguesa de Futebol, da Procuradoria-Geral da República e da Plataforma Score e posterior divulgação de dezenas de documentos confidenciais destas entidades.

Na leitura da decisão instrutória, a juíza de instrução criminal Cláudia Pina levou Rui Pinto a julgamento por 68 crimes de acesso indevido, por 14 crimes de violação de correspondência, por seis crimes de acesso ilegítimo e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e extorsão, na forma tentada, este último, crime pelo qual o advogado Aníbal Pinto também foi pronunciado. 

A instrução, fase facultativa que visa decidir se o processo segue e em que moldes para julgamento, foi requerida pela defesa dos dois arguidos no processo: Rui Pinto e o seu advogado, à data dos factos, Aníbal Pinto, acusado de intermediar a tentativa de extorsão, de entre 500 mil euros a um milhão de euros, ao fundo de investimento Doyen.

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