Pelo menos 140 crianças migrantes em Lesbos sem acesso a cuidados de saúde

Desde Julho que o Governo grego impede que os requerentes de asilo tenham acesso ao sistema de saúde público, denunciam os Médicos Sem Fronteiras.

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Mohamed tem problemas neuronais e não tem acesso a tratamento Anna Pantelia/MSF
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Abdul e epiléptico e está paralisado, e não tem acesso a uma clínica Anna Pantelia/MSF

Pelo menos 140 crianças com doenças crónicas que se encontram no campo de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos, estão privadas de cuidados médicos pelo Governo, diz a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Desde Julho do ano passado que o Governo grego tem impedido o acesso de milhares de migrantes e requerentes de asilo ao sistema de saúde público, deixando cerca de 55 mil pessoas sem cuidados médicos. Para as crianças com doenças crónicas e, por vezes, mortais, a situação é ainda mais dramática.

“Vemos muitas crianças a sofrer de condições médicas, como diabetes, asma, e doenças cardíacas, que são forçadas a viver em tendas, em condições chocantes e pouco higiénicas, sem acesso a cuidados médicos especializados e medicação necessária”, disse a coordenadora clínica dos MSF na Grécia, Hilde Vochten, num comunicado divulgado esta quinta-feira.

As condições do campo de Moria, o maior da Grécia com mais de cinco mil pessoas, são denunciadas há vários anos pelas organizações humanitárias que lá trabalham. Para além da sobrelotação, Moria é conhecida pela insegurança e pela falta de condições de higiene. Os MSF descrevem o local como “uma tragédia humana gerada por políticas governamentais”. Um dos aspectos mais criticados pela organização é o acordo entre a União Europeia e a Turquia assinado em 2016 que dizem estar a criar “sofrimento desnecessário”.

“Crianças, mulheres e homens estão a pagar um preço injusto por políticas de migração baseadas na dissuasão”, afirma o chefe da missão dos MSF na Grécia, Tommaso Santo. “Negar acesso a cuidados de saúde a crianças que sofrem de doenças graves é apenas a decisão mais cínica e é verdadeiramente inacreditável”, acrescenta.

As crianças em Moria podem recorrer apenas a um centro de saúde pediátrica fora do campo, mas que não está equipado para tratar doenças mais graves, como epilepsia, diabetes ou doenças cardíacas. Os médicos no centro dizem que, desde Março do ano passado, se depararam com 270 casos de crianças a sofrer de doenças crónicas graves, segundo os MSF.

Shamseye, uma requerente de asilo afegã, é mãe de uma criança com autismo. “Muitas vezes, a meio da noite, ela tem tonturas e não há ninguém para nos ajudar”, diz a mulher, citada pelos MSF.

A organização humanitária diz estar em conversações com as autoridades gregas para que as crianças com doenças crónicas possam ser transferidas para hospitais onde possam ser tratadas.

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