Metro do Porto reformula actual frota enquanto espera por novos veículos

Chineses da CRRC começam a entregar as 18 novas composições no segundo semestre de 2021. Contrato foi assinado esta terça-feira.

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António Costa garantiu continuidade do investimento no transporte público Fernando Veludo/Lusa

Quem não tem cão caça com gato, e enquanto espera que, em pleno ano do Rato, os chineses da CRRF ponham a andar a produção dos novos 18 veículos que lhes encomendou, para os receber a partir do segundo semestre de 2021, a Metro do Porto vai aproveitar melhor o que tem para dar resposta a uma procura em crescendo. O teste à modificação de duas composições da série Eurotram está a permitir aumentar em 10%, em média, a ocupação destes veículos, e se a reacção dos utentes for positiva, a empresa vai mesmo alterar o desenho interior de mais 70 viaturas.

A modificação, pensada em colaboração com a Escola Superior de Arte e Design, de Matosinhos, levou à perda de oito lugares sentados por composição, mas, em contrapartida, nas três semanas decorridas desde a entrada em operação destas viaturas alteradas, “os dados preliminares já obtidos confirmam a melhoria da fluidez, bem como um aumento do nível médio de ocupação em 20 passageiros, ou seja, 10%” do número de pessoas transportadas neste tipo de veículo, o primeiro a equipar a frota do Metro, divulgou, esta terça-feira o presidente da empresa, Tiago Braga, durante a cerimónia de assinatura do contrato de aquisição do novo material circulante, um investimento de 49,6 milhões de euros.

A Metro vai esperar até Março para, nessa altura, avançar com um inquérito de satisfação aos clientes que usam estes Eurotram modificado, e perante os resultados decidirá se alarga, então, o redesenho a toda a frota de 72 veículos desta série. A empresa pública tem grande expectativa neste projecto pois, neste momento, e enquanto aguarda que, ao ritmo de um por mês, lhe cheguem, a partir do primeiro semestre de 2021, 18 novos veículos, tem pouca margem de manobra para aumentar a oferta de lugares por quilómetro percorrido. E do lado da procura conta com números que estouraram, já, com os melhores cenários imaginados aquando da concepção do sistema.

A “culpa” é do PART, o Programa de Apoio à Redução Tarifária, celebrado por todos os intervenientes na sessão que decorreu na estação de São Bento. O Metro do Porto foi, em percentagem, o sistema explorado pelo Estado que mais beneficiou dele, alcançando 71,5 milhões de validações, ou seja, transportando mais 11,5 milhões de pessoas do que seria inicialmente expectável. E fonte da empresa explicou ao PÚBLICO que a margem de crescimento não se esgotou em 2019, tendo em conta que os números de Janeiro mostram subidas próximas dos 20%. Há um ano, nesta altura, ainda não havia PART, mas estas percentagens estão acima das do período em que este vigorou, a partir de Abril.

Mobilidade essencial para neutralidade carbónica

Comprometidos com o objectivo de fazer de Portugal um país neutro em termos de emissões de gases com efeito de estufa em 2050 – o que implica um forte impulso de descarbonização do sector da mobilidade - quer o primeiro-ministro, quer o Ministro do Ambiente e da Acção Climática garantiram a continuidade dos investimentos do lado da oferta do transporte público. Seja em infra-estrutura, seja em material circulante. E a encomenda ao gigante chinês do sector ferroviário vai permitir aumentar em 60 mil lugares diários a oferta do metro do Porto, preenchendo não apenas as necessidades das novas linhas a construir mas reforçando, também o serviço de outras linhas em hora de ponta.

Os clientes não esperam outra coisa, mas têm um ano de espera pela frente. “Estamos conscientes que em consequência do aumento da procura, as condições da oferta, de conforto dos clientes, nem sempre estão de acordo com o nosso grau de exigência. Estamos conscientes que com o aumento da procura o número de ocorrências de sobrelotação e o número de reclamações do serviço aumentaram, apesar do aumento da oferta em 2,5%. Mesmo registando valores muito significativos de fiabilidade, de cumprimento de oferta, superiores a 97%, esse não é o nosso padrão”, assumiu o presidente da Metro no seu discurso.

A garantia de padrões de conforto no serviço é essencial para a atracção de mais gente para o transporte público, e principalmente de gente que pode optar pelo automóvel, como admitiu o ministro do Ambiente. Antes de Matos Fernandes, o autarca do Porto assumia que, por outro lado, a continuidade deste esforço de investimento por parte da administração central e dos municípios será essencial para “resolver os problemas das cidades” e torna-las “mais competitivas”. Trata-se, Rui Moreira, de um “impulso civilizacional” que, espera o autarca, conseguirá suplantar o egoísmo que leva muitos cidadãos a optar pelo transporte individual.

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