Fruta Feia evita duas mil toneladas de desperdício alimentar e paga um milhão de euros a agricultores

Frutas e legumes eram destruídos por ter mau aspecto, com impactos económicos, sociais e ambientais. Projecto cooperativo nasceu há seis anos

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Projecto já leva seis anos de existênica. Emprega 11 pessoas, além dos voluntários Nuno Ferreira Santos

O projecto Fruta Feia evitou que duas mil toneladas de frutas e legumes fossem parar ao lixo somente devido à sua aparência, nos seis últimos anos, colocando nas mãos dos 235 agricultores parceiros cerca de um milhão de euros.

Isabel Soares, mentora da cooperativa Fruta Feia, explicou que chegar a este número em seis anos de existência do projecto significa que este é “um modelo que funciona e que conseguiu, baseado na responsabilidade do consumidor, salvar duas mil toneladas [de alimentos] do lixo”.

“Significa que já não é só uma ideia, só uma vontade de alguém de fazer alguma coisa para contrariar o desperdício alimentar devido à aparência”, afirmou, acrescentando também que os recursos naturais, por detrás da produção - solos, água, mão-de-obra - também estão a ser poupados.

Isabel Soares lembrou que a fruta que não era aproveitada e ficava a apodrecer nos solos resultava em emissões com gases de estufa e que o projecto foi igualmente importante, neste sentido, para a “redução das alterações climáticas ao contribuir para a redução desses gases”.

A cooperativa Fruta Feia, que tem hoje 235 agricultores como parceiros, resulta de uma ideia de Isabel Soares para aproveitar cerca de um terço da fruta e vegetais que os supermercados desperdiçam por considerarem que não têm o aspecto perfeito que os consumidores procuram ou o calibre necessário.

Quando arrancou, em 2013, a Fruta Feia abastecia 120 consumidores e salvava do lixo, por semana, cerca de 400 quilos. Seis anos depois, fazem parte do projecto 235 agricultores, cooperativa tira do lixo semanalmente 15 mil quilos de hortofrutícolas, conta com 5500 associados e tem uma lista de espera de 15 mil pessoas.

“Neste momento trabalhamos com 235 produtores. Se, no início, foi dar uma esperançazinha a esses poucos agricultores, hoje em dia, é uma economia alternativa através da qual podem escoar o que não conseguem no mercado convencional”, adiantou.

De acordo com Isabel Soares, chegar às duas mil toneladas significou também “chegar praticamente a um milhão de euros nas mãos dos agricultores”, o que fez com que muitos pudessem comprar maquinaria ou contratar um trabalhador a tempo inteiro: “é uma rentabilidade extra muito importante”, frisou.

Na calha está já a abertura de um 12.º posto, de forma a dar resposta aos associados em espera, referiu Isabel Soares, frisando que um novo local de distribuição “só abre quando é sustentável” e que, neste momento, as três carrinhas que asseguram o projecto têm capacidade para este novo posto.

“Abrir um 13.º, apesar do número de consumidores que está em espera, implica uma quarta carrinha para a distribuição e isso é mais investimento”, explicou, acrescentando que, seis anos volvidos, a Fruta Feia paga o salário a 11 pessoas.

“Gente bonita come fruta feia” é o lema do projecto desde o primeiro dia, um projecto que pretende associar “bons ideais às pessoas que estão dispostas a comer” esta fruta não normalizada, para evitar o desperdício alimentar, concluiu Isabel Soares.

A Fruta Feia distribui à segunda-feira os cabazes nos Anjos, Matosinhos e Telheiras, à terça-feira no Rato, Almada e Gaia, na quarta-feira na Amadora, Campo Santa Clara e Porto e à quinta-feira na Parede e em Braga.

As cestas de fruta feia podem ser pequenas com três a quatro quilos e cinco a sete variedades, pelo custo de três euros e meio, e a grande com seis a oito quilos e sete a nove variedades, com o custo de sete euros. São compostas por frutas e hortaliças, que variam semana a semana conforme a altura do ano.

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