Antiquários franceses compram ceptros reais do Benim para os devolver ao país

Duas importantes colecções de peças do antigo reino do Daomé ingressaram num museu do Benim que os próprios doadores ajudaram a fundar.

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Récade real zoomórfico DR
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Vista geral do novo museu DR
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Récade contemporâneo, autoria de Dominique Zinkpè DR
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Récade contemporâneo, autoria de Glèlè DR

Um grupo de antiquários franceses dirigido por Robert Vallois, presidente da associação de antiquários do bairro parisiense de Saint-Germain-des-Prés, doou na passada sexta-feira a um museu do Benim 28 artefactos, incluindo 16 ceptros reais, adquiridos com o único propósito de serem restituídos ao seu país de origem, descendente do antigo reino do Daomé.

Usados pelos monarcas que governaram o Daomé desde o início do século XVII até ao final do século XIX, estes ceptros ornamentados são ali designados récade, uma palavra que se crê derivar do português “recado”, que tem o sentido de mensagem, mas também de incumbência. Os primeiros navegadores portugueses chegaram ainda no século XIII a esta região, que funcionou durante séculos como entreposto de escravos, e onde D. Pedro II mandou erigir a fortaleza de S. João Baptista de Ajudá, hoje convertida em museu com o auxílio da Fundação Calouste Gulbenkian.

Compradas pelos antiquários franceses num recente leilão em Nantes, as peças provinham de duas antigas colecções privadas europeias, a do abade Le Gardinier, um missionário colonial, e a de Alfred Testard de Marans, um dos responsáveis pela organização de uma expedição militar francesa no Daomé, em 1890, para responder a ataques de um regimento de amazonas do Daomé a uma povoação sob protectorado francês.

“Acolhemos agora 28 novas peças – duas esculturas, oito sabres, 16 récades e duas facas –, e isso vai permitir-nos aumentar consideravelmente a nossa colecção”, afirmou Marion Hamard, responsável pelo Centro de Artes onde está instalado o destinatário desta doação, o Petit Musée de la Récade.

Inaugurado em 2015 num edifício projectado pelo arquitecto e designer francês René Bouchara, o museu foi já uma iniciativa do grupo dinamizado por Robert Vallois, que também ofereceu o núcleo original da sua colecção: um conjunto de 37 ceptros, a que se somam seis peças relacionadas com a antiga realeza do Daomé ou usadas em cerimónias de culto.

Marion Hamard espera que esta nova doação, que inclui um magnífico sabre de amazona ornamentado com figuras de animais, possa aumentar o número anual de visitantes do museu, que em 2019 registou sete mil entradas. “Estes magníficos récades regressam ao país que os viu nascer”, congratulou-se, por seu turno, o chefe de gabinete do ministro da Cultura do Benim, Eric Totah.

“Estes objectos coleccionados no século XIX remetem para o riquíssimo passado do Benim e são o testemunho de uma África de pé, combatente, resistente”, disse ainda à agência France-Presse um dos antiquários envolvidos na doação, Bernard Dulon.

A iniciativa deste grupo privado não só constitui um precedente invulgar como contrasta, em França, com a já criticada lentidão da resposta dos museus públicos do país ao repto lançado pelo próprio presidente Macron há dois anos, quando garantiu que a antiga potência colonial iria fazer todos os esforços para devolver aos seus países de origem as peças pilhadas em África, e se comprometeu a criar as condições para esta restituição num prazo de cinco anos.

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