Povos indígenas brasileiros denunciam política de “genocídio, etnocídio e ecocídio” de Bolsonaro

Líderes indígenas juntam-se para denunciar projectos para avançar com exploração de recursos naturais nas suas terras, mesmo à sua revelia, e aumento de violência.

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O cacique Raoni e Sonia Guajajara, durante a reunião Ricardo Moraes/REUTERS

Mais de 600 líderes indígenas brasileiros, de 45 etnias diferentes, reunidos na floresta em torno do emblemático chefe Kayapó ​Raoni Metuktire, denunciaram  a política de “genocídio, etnocídio e ecocídio” que dizem ser incentivada pelo Governo de Jair Bolsonaro e rechaçaram o projecto de lei que o executivo está a preparar para permitir a exploração mineira e outros empreendimentos mesmo sem a aprovação dos indígenas.

Reunidos no estado de Mato Grosso, acusaram o Governo de ameaçar o modo de vida dos povos indígenas com as suas políticas. O Presidente Jair Bolsonaro “ameaça os nossos direitos, a nossa saúde e o nosso território”, sublinha-se no texto, que foi lido em português e depois nas diferentes línguas indígenas da “casa dos homens” de Piaraçu, uma localidade afastada dos grandes centros urbanos, localizada nas margens do rio Xingu, no meio da floresta.

“Não aceitamos a mineração nas nossas terras, madeireiros, pescadores ilegais ou hidroeletricidade. Somos contra qualquer coisa que destrua a floresta”, acrescenta no documento, insurgindo-se contra os anúncios de Bolsonaro da intenção de rever a demarcação de terras indígenas para permitir o garimpo e a exploração dos recursos naturais em geral. O Presidente brasileiro diz ser necessário ​um novo modelo de desenvolvimento indígena” no Brasil, como defendeu no seu discurso na abertura da assembleia-geral das Nações Unidas.

Os líderes indígenas também lamentaram que “ameaças e discursos de ódio do Governo incentivem a violência contra os povos indígenas e os assassínios dos (...) líderes” e exigem “punição para aqueles que matam” os seus “entes queridos”.

Os nativos enfrentam “não apenas o Governo, mas também a violência de uma parte inteira da sociedade que expressa claramente o seu racismo”, denunciam. Em 2019, pelo menos oito líderes indígenas foram assassinados, três deles em menos de uma semana.

O chefe Raoni, de 89 anos, pretende levar o manifesto ao Congresso Nacional em Brasília, pessoalmente. O Presidente Bolsonaro tem, repetidamente, desacreditado o estatuto do cacique. Mas a consideração, até em termos internacionais, por este chefe indígena, só tem crescido.

Na quinta-feira, as lideranças indígenas brasileiras já tinham lançado uma aliança de oposição às políticas ambientais defendidas pelo Governo.

“Estamos vivendo um momento dramático, quase uma situação de guerra”, disse então a coordenadora da Associação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sonia Guajajara, durante a reunião.

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