Algarve continua em seca “severa e extrema”, apesar da chuva de Dezembro

Os autarcas estendem a mão a São Pedro para os ajudar no curto prazo. Ao Governo, a médio prazo, pedem a construção de uma nova barragem, uma central de dessalinização e a reutilização das águas residuais.

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O Algarve está há meses em situação de seca Helena Rodrigues

A região algarvia continua à míngua de água. No mês de Dezembro, durante uma semana, choveu durante quatro a cinco dias. A situação de stress hídrico no solo diminuiu, mas os problemas de fundo – seca severa e extrema – pairam no horizonte. Os presidentes das câmaras dizem-se “muito preocupados” com a falta de chuva e decidiram na sexta-feira, por unanimidade, pedir a convocação de uma assembleia-geral da empresa Águas do Algarve — responsável pelo abastecimento público — para que sejam tomadas medidas urgentes, com vista a pôr em prática soluções há muito equacionadas. O conjunto de sugestões vai desde a construção de uma nova barragem (Foupana) à reutilização das águas residuais para rega, passando pela dessalinização. Tudo está em aberto.

O presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (Amal), António Pina, também presidente do município de Olhão, defendeu a necessidade de “passar das palavras aos actos” nas medidas de combate à seca. “Vamos pedir à Águas do Algarve que nos apresente, no prazo de três meses, um plano de investimentos”, disse.

Além de elencar a questão da reutilização das águas residuais para rega de espaços verdes, o autarca socialista reclama que se comece, “a partir da próxima semana, a fazer o Estudo de Impacto Ambiental (EIA)” com vista a avaliar a possibilidade da construção da barragem da Foupana, que se discute há décadas.

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“Fala-se muito, elaboram-se estudos, mas o que é que já se fez?”, questionou por sua vez o autarca de Albufeira, José Carlos Rolo, manifestando preocupação em relação ao clima de aridez. A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) suspendeu entretanto as licenças para abertura de novos furos na bacia do principal aquífero Querença-Silves e noutros locais sensíveis à intrusão salina, como é caso das campinas de Faro.

A precipitação ocorrida em Dezembro, diz o director regional de Agricultura e Pescas, Pedro Monteiro, “devolveu ao solo um teor de humidade entre os 20% e os 50%”, o que permitiu recuperar a vegetação autóctone. Porém, de acordo com a APA, a região ainda se encontra em situação de “seca severa e extrema”.

A água não chegou aos aquíferos, razão pela qual estão proibidas captações de água subterrânea para uso particular nas principais zonas do barrocal e litoral (Querença-Silves; Albufeira-Ribeira de Quarteira; Peral-Moncarapacho; Almancil-Medronhal; São João da Venda-Quelfes; Almádena-Odeáxere; Quarteira; Campina de Faro). A medida é justificada pela necessidade de um eventual reforço ao abastecimento público. As reservas existentes nas barragens, prevê a empresa Águas do Algarve, garantem que, mesmo que não chova durante um ano, não faltará água nas torneiras.

Do lado das actividades económicas, a agricultura tem como principal fonte de abastecimento os furos artesianos. De acordo com a Direcção Regional de Agricultura, cerca de 70% da água — destinada à rega de cerca de 20 mil hectares, 16 mil dos quais são citrinos — tem origem no subsolo. Os restantes 30% vêm das barragens.

Por conseguinte, o presidente da Câmara de Alcoutim, Osvaldo Gonçalves, na reunião do conselho intermunicipal, lembrou a necessidade de serem criadas novas reservas estratégicas. “Se já tivéssemos a barragem da Foupana não se tinha perdido a água que caiu em Dezembro na ribeira do Vascão”, sublinhou.

O Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas (PIAAC), mandado elaborar pela Amal, aponta como “inevitável”, a partir de 2080, a construção de uma central de dessalinização. “A dessalinização poderá resolver o problema do litoral, mas não de toda a região”, sublinhou o autarca de Alcoutim, o concelho do sotavento algarvio onde mais se faz sentir o efeito da seca.

Por fim, António Pina propôs a criação de um grupo de trabalho intermunicipal para fazer o acompanhamento da situação e apresentar propostas para discutir com o Governo. “Temos de ser mais exigentes com a Águas do Algarve”, rematou o autarca de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro, destacando a necessidade de ser agendada uma reunião com o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, que na anterior legislatura afastara a hipótese de construir uma nova barragem na Foupana.

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