Debate de investidura: Sánchez promete que diálogo com Catalunha é “prioridade absoluta”

Socialista foi atacado pela direita, que o acusou de estar a atacar a Constituição. Casado, do PP, ameaça levá-lo a tribunal. Assumindo já o papel de vice-presidente, Iglesias (Unidos Podemos) alia-se a Sánchez e diz “vocês não conhecem Espanha”.

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Iglesias e Sánchez esperam ter luz verde para governar terça-feira Juan Carlos Hidalgo/EPA

O candidato à presidência do Governo espanhol, Pedro Sánchez, garantou neste sábado que o diálogo na Catalunha é uma “prioridade absoluta” para a legislatura, prometendo que não vai romper com a Constituição, nem dividir o país. Sánchez recebeu a confirmação de que os independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) se vão abster na votação, abrindo caminho para a sua investidura.

“A Espanha não vai romper com a Constituição. Vamos é romper com o bloqueio”, disse Pedro Sánchez durante o debate de investidura. A previsão é que Sánchez perca a primeira votação, neste domingo, na qual é exigida maioria absoluta (176 votos entre os 350 deputados). Mas espera vencer a segunda, na terça-feira, que exige apenas maioria simples. 

Pouco depois de Pedro Sánchez discursar, foi a vez do seu parceiro de coligação, Pablo Iglesias, da formação de esquerda Unidas Podemos. Também ele disse haver a intenção de estabelecer diálogo com os independentistas catalães. “Não sou ingénuo, sei que vão continuar a ser independentistas e isso é legítimo em democracia. Mas acredito que há valores democráticos e sociais que nos unem para enfrentar democraticamente os conflitos”, disse Iglesias.

Sánchez apresentou aos deputados em Madrid o programa, já conhecido, com que o seu executivo de coligação pretende governar, salientando o aumento dos salários mais baixos e o aumento dos impostos para as grandes empresas.

Com este programa, Sánchez disse estar convencido de que vai conseguir reunir o número de votos suficientes para governar, após vários meses de impasse político (e de várias eleições), assegurando a maioria através do apoio do Podemos e da ERC.

A resposta foi dura da parte da oposição, com Pablo Casado, presidente do Partido Popular (direita), a referir-se a Sánchez como o “líder de uma coligação que quer acabar com a Espanha constitucional”. Ao futuro executivo do PSOE com o Podemos, chamou de “Governo Frankenstein”, formado por “comunistas e separatistas”.

Casado fez uma intervenção muito dura, em que ameaçou Sánchez com os tribunais devido ao prometido diálogo com os catalães, e com uma grande mobilização nas ruas. Chamou sociopata e mentiroso ao socialista a quem tratou por “presidente fake”.

“Enfrentamos uma situação de derrube da Constituição”, disse Casado, que exigiu a Sánchez que obrigue o presidente do governo catalão, Quim Torra, a abandonar o cargo, uma vez que a Junta Eleitoral se pronunciou pela sua destituição depois de ter sido julgado - e condenado a não ocupar cargos públicos durante um ano e meio - por não retirar os símbolos independentistas dos edifícios públicos durante a campanha eleitoral.

Casado disse que se Torra não se afastar - e não pretende fazê-lo; esta tarde o parlamento em Barcelona reuniu-se e juntou-se numa resolução que classifica de “golpe de Estado” a sentença de Torra -, deve aplicar-se novamente o artigo 155 que retira autonomia à Catalunha. Se isso não acontecer, garantiu Casado, o PP acusará judicialmente Sánchez de “prevaricação”.

“Muito obrigada pela sua moderação”, respondeu Sánchez.

Iglesias, já no tom de vice-presidente, atacou as “forças da direita, da ultra-direita e da extrema-direita”. “Vocês não entendem Espanha. Espanha está aqui e é muito diversa”, afirmou.

Santiago Abascal, líder do partido Vox (extrema-direita), que é a terceira força política no Parlamento, tinha acusado Sánchez de ser um “bandido” e um “traidor” - ao dizer também a Sánchez que, devido à questão catalã, está a deturpar a Constituição espanhola.

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