Descoberto túmulo com três gerações de mulheres guerreiras na Rússia

No crânio de uma das mulheres foi encontrada uma cobertura para a cabeça feita de ouro. De acordo com os arqueólogos, pertencia a uma amazona, uma mulher guerreira que viveu no século IV a.C.

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Reconstituição do uso da cobertura para a cabeça encontrada no crânio de uma das mulheres www.archaeolog.ru

Num cemitério de Devitsa, uma povoação no Oeste da Rússia, foi encontrado um túmulo com esqueletos de quatro mulheres de três gerações diferentes e que terão vivido na segunda metade do século IV a.C. Além de serem citas – povo nómada que habitou vastas extensões de terra no Sul da Rússia, na Ucrânia e na Ásia Central desde o século IX a.C. até ao século IV d.C. –, a equipa de cientistas que as encontrou considera que eram amazonas, mulheres guerreiras que terão vivido nesta região durante este período de tempo. Enterrado juntamente com uma dessas mulheres, descobriu-se uma cobertura para a cabeça. De acordo com a equipa, é o primeiro adorno deste género encontrado numa sepultura de uma amazona por arqueólogos e no troço intermédio do rio Don, na Rússia.

A descoberta foi feita por uma equipa do Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências no âmbito da Expedição Arqueológica Don (um dos maiores rios da Rússia). Desde 2010 que cientistas desta equipa têm estudado o cemitério de Devitsa, composto por 19 montes praticamente imperceptíveis numa área dominada pela agricultura e perto do rio Don.

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Esqueleto da mulher a quem pertencia a cobertura para a cabeça www.archaeolog.ru

Num desses montes, o grupo encontrou vestígios de um túmulo onde estavam sepultadas quatro mulheres: uma com 20 a 29 anos; outra com 25 a 35 anos; outra ainda com 45 a 50 anos; e uma adolescente de 12 a 13 anos. Segundo o comunicado do Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências, os enterros ocorreram ao mesmo tempo, durante o Outono.

Na parte sul e oeste do túmulo, estavam esqueletos de duas mulheres em “camas” de madeira e ervas. Uma delas estava posicionada “como uma cavaleira”. Para os antropólogos, a mulher estava assim posicionada porque os tendões das suas pernas tinham sido cortados. Por baixo do seu ombro esquerdo tinha um espelho de bronze e, ao lado, duas lanças. Já na mão esquerda tinha uma pulseira com contas de vidro. Perto das pernas havia um vaso e um cântaro do segundo quartel do século IV a.C.

Numa outra parte, estava a mulher de 45 a 50 anos. “Para a época dos citas, esta mulher tinha uma idade considerável. A esperança média de vida era entre os 30 e os 35 anos”, informa-se no comunicado. Foi então perto desta mulher que se descobriu uma cobertura para a cabeça, isto é, uma chapa ornamentada. Esta cobertura é uma liga que tem entre 65 a 70% de ouro. Tinha também cobre, prata e uma pequena percentagem de ferro. Quanto à quantidade de ouro encontrada nesta peça, está acima da média para as peças dos citas, refere-se no comunicado. Normalmente, eram feitas de electro (uma liga de ouro com prata) e a percentagem de ouro era de cerca de 30%.  

Quem eram as amazonas?

“É um achado único: é a primeira cobertura para a cabeça da época dos citas encontrada na parte intermédia do curso do rio Don e, além disso, foi descoberta num crânio”, afirma Valery Gulyaev, líder da expedição e investigador do Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências. “Claro que já foram descobertas outras coberturas para a cabeça em túmulos de citas ricos, mas poucas por arqueólogos. Estes adornos foram encontrados quase sempre por camponeses, que os levaram para a polícia e, desta forma, acabaram por passar por várias mãos até chegarem aos especialistas. Neste caso, podemos ter a certeza de que foram encontrados bem preservados.”

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A cobertura para a cabeça agora encontrada www.archaeolog.ru

Valery Gulyaev considera ainda que este adorno pertencia a uma amazona, isto é, uma mulher armada. “Durante esta expedição, só no curso intermédio do Don, foram descobertas 11 sepulturas destas mulheres armadas na última década”, conta o arqueólogo.

Mas quem foram realmente as amazonas? Há muitas histórias, lendas e especulações sobre estas figuras. “Durante muito tempo, acreditou-se que as verdadeiras amazonas eram puramente imaginárias”, afirmou a historiadora Adrienne Mayor à revista National Geographic. Já à revista The New Yorker, a também autora do livro The Amazons explicou que a maioria das pessoas supunha que as amazonas retratadas nos vasos gregos eram apenas simbólicas e que representavam mulheres que não eram casadas, por exemplo. Mas, descobertas arqueológicas mais recentes têm mostrado que mulheres que usavam armas, andavam a cavalo e que viveram na Antiga Grécia existiram mesmo. “Contudo, não é possível saber, de forma concreta, como era a vida das amazonas”, destaca.

“Provavelmente, as amazonas foram citas nómadas que viajaram a norte do mar Negro – mais ou menos entre os Balcãs e o Cáucaso”, considera Adrienne Mayor. Também o historiador grego Heródoto (485-420 a.C.) escreveu sobre o encontro e relações entre citas e amazonas.

Além dos esqueletos das mulheres e dos seus pertences, foram descobertos no cemitério mais de 30 pontas de setas, um gancho de cabelo em forma de ave, facas (todos de ferro), fragmentos de arreios de cavalo, bocados de vasos e vários ossos de animais. A equipa também destaca que há algum tempo o sítio foi assaltado, mas que só foi saqueada a parte norte do túmulo, onde veio a encontrar-se a adolescente e uma das mulheres mais novas.

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