Trânsito caótico e estradas cortadas atrasam fuga às chamas na Austrália

Pelo menos 381 casas foram destruídas pelos fogos em Nova Gales do Sul e no estado vizinho de Vitória, os mais populosos do país.

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Pelo menos 60 mil pessoas estarão em fuga das chamas,Pelo menos 60 mil pessoas estarão em fuga das chamas LUSA/DELWP GIPPSLAND HANDOUT,LUSA/DELWP GIPPSLAND HANDOUT
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O filho de um bombeiro morto em serviço durante o combate aos incêndios na Austrália recebeu esta quinta-feira uma medalha de honra em representação do pai. Geoffrey Keaton, de 32 anos, foi um de dois bombeiros voluntários que morreram a 19 de dezembro, durante os fogos no sudeste do país Reuters/NSW RURAL FIRE SERVICE
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Propriedade queimada em East Gipland, na costa de Vitória AAP Image/News Corp Pool, Jason Edwards/via REUTERS

Dezenas de milhares de pessoas fogem dos incêndios florestais na costa sudoeste da Austrália, numa das maiores movimentações de emergência na história australiana. Não é claro quantas pessoas estão a sair das suas casas, diz o Guardian, mas pelo menos 60 mil estarão em fuga das chamas, alimentadas pelas condições meteorológicas extremas - calor e vento a grandes velocidades.

Muitas destas pessoas enfrentam grandes dificuldades para conseguirem abandonar as zonas de risco. Devido ao trânsito caótico, viagens com 30 quilómetros podem demorar até cinco horas. Em alguns percursos com acessos fechados devido às chamas, torna-se obrigatório encontrar caminhos alternativos. A dimensão desta evacuação em massa tem sido um desafio logístico para as autoridades, mas a dimensão das chamas torna esta operação inevitável. 

“Não temos capacidade de conter estes incêndios. As chamas vão fazer aquilo que tiverem que fazer e as pessoas têm de fugir daquela área”. O vice-comissário do Serviço de Incêndios Rurais de Nova Gales do Sul, Rob Rogers, não esconde a impotência sentida pelas autoridades que tentam impedir mais vítimas nos incêndios que assolam o país nos últimos três meses. O comissário do Serviço de Incêndios Rurais de Nova Gales do Sul, Shane Fitzsimmons, adiantou que as condições meteorológicas previstas para domingo serão mais agrestes do que as sentidas no período de ano novo. 

Na última semana do ano, os incêndios crescerem em intensidade e provocaram nove mortes. Nos últimos dias, as temperaturas baixaram ligeiramente a a humidade aumentou, mas a vegetação seca que continuava a servir de combustível aos incêndios não facilitou o trabalho aos bombeiros. “Estes fogos espalharam-se até ao pior cenário possível, algo que não é tipicamente o que acontece”, afirmou por dizer o comissário, acrescentando que as áreas no “quadrante sudoeste do estado [de Nova Gales do Sul] têm probabilidade de ser atingidas com grande impacto”.

Neste estado, o estado de emergência permitirá que, a partir de sexta-feira, as autoridades possam proceder a evacuações forçadas, no caso de encontrarem resistência por parte das famílias.

Navios militares e helicópteros foram mobilizados para retirar as pessoas da costa, que fogem dos mais de 200 incêndios que lavram nos estados de Nova Gales do Sul e Vitória, ameaçando várias cidades. Formaram-se enormes filas em supermercados e estações de gasolina, porque tanto moradores como turistas procuravam abastecer-se, tanto para fugir aos incêndios como para encher as despesas. Leite e pão foram alguns dos mantimentos que mais rapidamente desapareceram, relata a Reuters.

Em Nova Gales do Sul as autoridades ordenaram aos turistas que abandonassem uma área de 250 km ao longo da costa. O responsável pelos transportes daquele estado, Andrew Constance, disse ser “a maior deslocalização em massa de pessoas para fora” da região.

Em Vitória, onde 68 casas arderam esta semana, militares australianos estão a ajudar hoje milhares de pessoas que fugiram para a costa devido aos incêndios que ameaçavam as suas habitações, na cidade costeira de Mallacoota. “Estimamos que cerca de 3000 turistas e 1000 habitantes estejam lá. Nem todos vão querer partir, nem todos podem entrar no navio de uma só vez”, disse o chefe de governo de Vitória, Daniel Andrews, citado pela imprensa local.

Este é o pico do Verão na Austrália, e estão a ser afectadas cidades de veraneio. Algumas zonas deixaram de ter acesso a água canalizada. “Isto é o inferno na Terra. É o pior que já se viu”, disse à Reuters, por telefone, Michelle Roberts, a partir do café Croajingolong, em Mallacoota, da qual é proprietária. Roberts esperava conseguir levar a sua filha de 18 anos para um barco, para escapar ao fumo espesso dos incêndios que cobriu a cidade. 

“Há uma forte possibilidade de que as condições no sábado sejam tão más ou piores do que as que vimos [na terça-feira]”, afirmou o comissário adjunto do serviço de combate a incêndios rurais de Nova Gales do Sul, Rob Rogers. As temperaturas devem continuar na casa dos 40 graus.

De acordo com as autoridades, pelo menos 381 casas foram destruídas pelos fogos em Nova Gales do Sul e no estado vizinho de Vitória, os mais populosos da Austrália.

O início precoce e devastador dos incêndios florestais este Verão na Austrália levou as autoridades a classificar esta temporada como a pior de que há registo. Cerca de cinco milhões de hectares de terra arderam, pelo menos 17 pessoas morreram e mais de 1300 casas foram destruídas. Florestas classificadas como Património da Humanidade arderam pela primeira vez, e calcula-se que tenham morrido milhões de animais da fauna única da Austrália.

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, já advertiu que a crise pode durar meses. O fumo dos incêndios fez da qualidade do ar na capital, Camberra, a pior do mundo no primeiro dia de 2020, e cobriu a ilha Sul da Nova Zelândia numa névoa alaranjada.

“Não és bem-vindo, idiota”

O primeiro-ministro voltou, esta quinta-feira, a ter contacto directo com as críticas das populações das áreas afectadas pelos incêndios. Esta quinta-feira, o governante visitou a cidade de Cobargo, cercada pelas chamas na manhã de terça-feira. Os habitantes desta localidade do estado de Nova Gales do Sul não receberam Morrison de braços abertos, forçando-o a abandonar o local poucos minutos após ter chegado.

“Não és bem-vindo, idiota”, gritou um dos habitantes, enquanto o governante se dirigia para o carro. Uma mulher recusou cumprimentá-lo, pedindo mais fundos para o serviço de combate aos incêndios. “Não me surpreende que as pessoas se sintam assim. Foi por isso que vim hoje, para estar aqui e vê-lo pessoalmente, oferecer o apoio possível”, explicou Scott Morrison.

O primeiro-ministro tem sido alvo de críticas pela forma como o Governo australiano tem respondido aos incêndios. O facto de estar de férias com a família no Havai — num período crítico de combate às chamas —, juntamente com o facto de Sydney ter avançado com o espectáculo de fogo-de-artifício de fim de ano, não foram bem recebidos por alguns segmentos da sociedade australiana.

Notícia actualizada às 21h29: Acrescentadas informações sobre as evacuações

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