Trabalhadores da Cervejaria Galiza assumiram gestão e pagam salários em atraso

Trabalhadores, que gerem a cervejaria desde Novembro, regularizaram salários em atraso. Dívidas ao fisco levam sindicato a apelar a que o Governo seja “parte activa” na solução.

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Os trabalhadores da Cervejaria Galiza assumiram a gestão do espaço Anna Costa

Os trabalhadores da Cervejaria Galiza, no Porto, regularizaram esta terça-feira os salários de Dezembro, transportando para o próximo ano apenas “o fardo das dívidas a fornecedores”, aos quais agradecem a “solidariedade e compreensão”, e ao fisco, disse à agência Lusa fonte sindical.

“A partir de hoje [terça-feira] não há nada em falta [aos trabalhadores]. Infelizmente, continuam as dívidas, um fardo do passado. Continuam a aparecer facturas de luz, água, gás e outras em atraso. Mas os fornecedores têm tido compreensão e mostram muita solidariedade”, referiu Nuno Coelho, do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares.

O dirigente sindical aproveitou para fazer um apelo ao Governo: “As dívidas principais são à Autoridade Tributária e à Segurança Social. Era importante que o Estado interferisse no processo, não apenas como mediador, mas como parte activa.”

Em comunicado, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares defende que é ao Governo “quem compete defender os interesses do Estado”, lembrando que este é “o principal credor” da Cervejaria Galiza, que há várias semanas está a ser gerida pelos trabalhadores que entraram em conflito com a gerência.

[O Governo] Nada tem feito para assegurar um processo claro, transparente, legal e justo. Deixa os trabalhadores abandonados à sua sorte, ao não tomar posição, ao não tomar a iniciativa, ao não intervir no processo”, lê-se na nota do sindicato.

Trabalhadores gerem cervejaria desde Novembro

O conflito dos trabalhadores da Galiza com a gerência teve início depois de atrasos no pagamento do subsídio de Natal de 2018, bem como uma parte do salário de Outubro, pagamentos que, entretanto, já foram assegurados.

Trinta e um trabalhadores da cervejaria estão desde o início de Novembro a gerir o espaço, mantendo-o a funcionar, depois de uma tentativa frustrada da empresa de fechar o estabelecimento.

Para o dia 25 de Novembro estava agendada uma reunião dos trabalhadores com representantes da Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), bem como a gerência da cervejaria Galiza e o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares, mas a pedido dos proprietários da empresa o encontro foi adiado.

Esta terça-feira, uma nota do sindicato indica que vai realizar-se no dia 17 de Janeiro uma reunião no Ministério do Trabalho.

“Mas os trabalhadores e o sindicato receiam que até lá não haja uma solução justa e definitiva que permita a viabilização da empresa e a garantia dos postos de trabalho”, acrescenta o comunicado, enquanto, à Lusa, Nuno Coelho referiu que a reunião servirá para “continuar as negociações” porque, frisou, “falta algo concreto, uma solução definitiva para este caso”.

O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares refere que “os trabalhadores continuam apreensivos quanto ao futuro da empresa, face ao arrastamento do processo e à falta de informação”.

O sindicato conta, ainda, que “com a receita obtida [ao longo da gestão dos funcionários] para além de pagarem todos os produtos necessários ao bom funcionamento do restaurante a pronto, os trabalhadores receberem na nova gestão cinco salários [Outubro, Novembro e Dezembro, bem como os subsídios de Natal de 2018 e 2019] e libertaram dinheiro para pagar impostos e outras despesas”.

Dois milhões em dívidas

A Cervejaria Galiza está, desde há quatro anos, em dificuldades, com dívidas aos funcionários, ao fisco e à Segurança Social que ascendem aos dois milhões de euros.

A tentativa de resolver o problema passou pelo recurso a um Processo Especial de Revitalização (PER), aceite pelo Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia, e pela chegada de um gestor.

Os 31 trabalhadores mantêm-se, desde o dia 11 de Novembro, de dia e de noite de forma alternada nas instalações, depois de se terem apercebido, nesse dia, da tentativa da retirada do equipamento pela proprietária da cervejaria.

Fundada a 29 de Julho de 1972, a cervejaria detida pela empresa Actividades Hoteleiras da Galiza Portuense é uma das referências da restauração do Porto.

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