Votação “exemplar” vai dar legitimidade ao próximo Presidente da Guiné-Bissau

Só quarta-feira haverá resultados. Domingos Simões Pereira (PAIGC) e Umaro Sissoco Embaló (Madem-G15) disputam o lugar em eleições cruciais para a estabilidade do país.

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A votação está a decorrer sem incidentes Christophe Van Der Perre/Reuters
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Domingos Simoes Pereira votou acompanhado da mulher Christophe Van Der Perre/Reuters
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Umaro Sissoco Embaló Christophe Van Der Perre/Reuters
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,Eleições na Guiné-Bissau
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Os primeiros resultados das eleições na Guiné-Bissau, que decorreram este domingo, devem ser anunciados na quarta-feira, segundo a Comissão Nacional de Eleições. A votação decorreu de forma “exemplar”, disse à agência Lusa o chefe da missão de observação da União Africana, Rafael Branco.

Comentário idêntico fez o chefe da missão de observação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Sumeylu Bubeye Maiga para quem o clima da votação  “é bom sinal” porque “a legitimidade do próximo Presidente será forte para poder trabalhar e mobilizar todo o país para a resolução das necessidades do povo”.

Os eleitores — 760 mil registados — puderam escolher entre Domingos Simões Pereira, de 56 anos, candidato do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e Umaro Sissoco Embaló, 47 anos e candidato do Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15). A eleição do Presidente encerra um ciclo eleitoral iniciado a 10 de Março, quando se realizaram as legislativas ganhas pelo PAIGC, com 46,1% dos votos, precisando por isso de fazer acordos parlamentares para garantir a maioria.

A eleição abre a expectativa do fim de um período de cinco anos de grande instabilidade política.

O chefe da missão da CEDEAO disse que a forma como o dia decorreu é “motivo de orgulho” para a organização e para a Guiné-Bissau, e sublinhou, citado pela Lusa, que a consolidação da democracia e a criação de uma cultura democrática, através de um processo eleitoral regular, dão uma perspectiva de alternância pacífica a todos os actores políticos.

Simões Pereira disse, após votar, que ia esperar “serenamente” que a Comissão Nacional de Eleições o proclamasse vencedor das eleições que definiu como o momento da “colocação do povo guineense no poder”. 

Umaro Sissoco Embaló, em entrevista à Deutsche Wella África, acusou o presidente da Comissão Nacional de Eleições de estar a preparar uma fraude eleitoral a favor de Domingos Simões Pereira — garantiu que os responsáveis serão responsabilizados.

O 12º Presidente da Guiné-Bissau vai ter pela frente o desafio de garantir a estabilidade política e governativa e criar um amplo consenso nacional num país dividido e onde a pobreza é generalizada. As grandes reformas do Estado e a revisão constitucional estão também à espera do sucessor de José Mário Vaz, que se recandidatou mas não passou da primeira volta

A Constituição permite ao Presidente demitir o Governo, mesmo havendo maiorias no Parlamento. Foram sete os primeiro-ministros desde que José Mário Vaz tomou posse em 2014 e a instabilidade teve consequências profundas na economia que depende do preço volátil do caju, a maior fonte de receita. Ainda assim, Mário Vaz foi o primeiro Presidente a completar o mandato. 

“Tudo corre tranquilamente, os cidadãos exerceram os seus direitos, havia delegados dos dois candidatos presentes [nas mesas de voto]. Vamos estando habituados a este comportamento exemplar do povo guineense”, disse Rafael Branco que, a meio do dia eleitoral (as urnas fecharam às 17h), dizia ter notado um “aumento da participação em relação à primeira volta. Um dado partilhado por Maiga. “Antes das 11h já tínhamos perto de 50% de votantes, isto quer dizer que a mobilização das pessoas é forte”, comentou à DW África.

Percepção diferente tinha o coordenador da célula da sociedade civil para a monitorização das eleições, Rui Semedo, que garantiu à Lusa que a afluência às urnas estava a “ser fraca”. “Pelas informações, a afluência é muito fraca em relação à primeira volta. As pessoas estão a ir a conta-gotas às assembleias do voto e isso preocupa-nos”. Semedo disse que os primeiros resultados podem ser conhecidos já na terça-feira e pediu que o sejam quanto antes, “para evitar especulações e tensões pós-votação”.

A afluência, a margem de votos que vão ditar a vitória e a reacção dos dois protagonistas vão decidir se estas eleições abrem ou não a nova era que os eleitores desejam. Caminho Injai, empregada de limpeza de 65 anos, resumiu à Reuters o que os cidadãos querem: “Voto para restaurar a paz e a tranquilidade na Guiné-Bissau, e para contribuir para eleger um Presidente que una todo o país”.

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