Marcelo diz que Governo “percebeu a importância do que se passou” no Mondego

O Presidente visitou umas das zonas mais afectadas pelas cheias da última semana. O ministro do Ambiente desvalorizou barragem para aquela zona que nunca saiu do papel

Marcelo Rebelo de Sousa visitou as zonas inundadas do Baixo Mondego, em Montemor-o-Velho
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Marcelo Rebelo de Sousa visitou as zonas inundadas do Baixo Mondego, em Montemor-o-Velho LUSA/PAULO CUNHA
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“Saio daqui com a certeza de que o Governo percebeu a importância do que se passou e é isso que explica a presença continuada de governantes aqui.” Foi com esta confiança que o Presidente da República terminou a sua visita a uma das zonas mais afectadas pelas cheias da última semana, em Montemor-o-Velho, Coimbra. Depois de visitar a região do Baixo Mondego, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que as cheias no Baixo Mondego são “um problema nacional” que exige soluções diferentes das do passado. O chefe de Estado elogiou ainda a “capacidade de resistência” das populações e deixou um aviso aos governantes: os portugueses “estão mais exigentes”. 

Marcelo Rebelo de Sousa visitou a região no mesmo dia que o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes. Para Marcelo Rebelo de Sousa, a presença de governantes no local mostra que “perceberam que [os estragos provocados pelas cheias] tinham um significado nacional e não apenas regional”. E “se o problema é maior, as soluções não são exactamente as mesmas do passado”, avisou o Presidente da República, também para responder à exigência acrescida das populações. “Isso é a democracia. A exigência subiu no tempo”, justificou.

Do lado do ministro do Ambiente, o balanço é igualmente assertivo, mas Matos Fernandes descarta que os estragos poderiam ter sido evitados com a construção da barragem de Girabolhos em 2016.

Para o presidente da secção regional da Ordem dos Engenheiros, Armando Silva Afonso, “sem [a barragem de] Girabolhos será muito difícil travar a repetição destes fenómenos”. Silva Afonso defendeu que se deixe de olhar para as barragens associadas à energia e se passe a olhar para as barragens “com todas as suas funções, de regularização, de armazenamento de água, de controlo de cheias e penso que isso vai ser cada vez mais importante no futuro”.

Mas o argumento não convenceu o responsável pela pasta do Ambiente. Matos Fernandes defendeu que não se pode “artificializar” o leito dos rios para travar cheias, respondendo assim às críticas e à tese de que a construção da barragem teria evitado o cenário das cheias no Mondego.

“A água não é só da espécie humana. A água é de todos os ecossistemas e de todas as espécies que neles vivem. E por isso, não podemos imaginar que vamos artificializar, para sempre, o leito dos rios e o seu curso”, defendeu o ministro do Ambiente. Em resposta à Ordem dos Engenheiros do centro, Matos Fernandes nota que existe já em curso uma intervenção no rio Ceira.

“Trata-se de um rio que corre livremente e que, com o apoio de fundos europeus, estamos a começar a regularizar, utilizando apenas métodos de engenharia natural. Trata-se do oposto daquilo que é fazer uma barragem e termos um rio com capacidade de diminuir afluência de caudais ao próprio rio Mondego”, explicou o governante.

Ao mesmo tempo, Matos Fernandes insiste que devem ser as populações a adaptarem-se aos rios e não o inverso. “É mesmo esta que deve ser a nossa acção, e não adaptar o rio ao nosso gosto e sermos, nós, espécie humana, a adaptarmo-nos e aos nossos hábitos a aquilo que os recursos têm para nos dar”, disse.

A visita de Marcelo Rebelo de Sousa estava planeada desde o início da semana quando o Presidente da República prometeu deslocar-se à região para “observar, ver e contactar com a realidade, conforme prometi, no tempo adequado, que é estabilizada a situação e não durante o período crítico”. “Entendo que ganho em perceber o que se passou e aquilo que está a ser pensado”, justificou à data.

A passagem das depressões Elsa e Fabien provocaram vítimas e inundações em todo o país. No total, morreram três pessoas, 144 pessoas desalojadas e outras 352 deslocadas por precaução. As inundações causaram condicionamentos na circulação rodoviária e ferroviária, bem como danos na rede eléctrica, afectando a distribuição de energia a milhares de pessoas, em especial na região Centro.

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