Recuperação da camada de ozono pode ser atrasada devido às emissões da China

Se continuar a ser lançado CFC 11 para a atmosfera de forma contínua, isso pode contribuir para o atraso da recuperação da camada de ozono durante mais de uma década.

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Buraco da camada de ozono sobre a Antárctida em Setembro de 2019 NASA

Em 2018, verificou-se que a taxa de declínio do clorofluorocarboneto (CFC) 11 tinha abrandado 50% desde 2012, o que significava que esta substância proibida em todo o mundo estava a ser lançada na atmosfera. Já este ano, confirmou-se que essas emissões vinham sobretudo de duas províncias chinesas: Shandong e Hebei. Agora, uma equipa de cientistas do Reino Unido e dos Estados Unidos simulou o que acontecerá se o CFC 11 continuar a ser lançado. Num artigo científico publicado na revista científica Nature Communications, refere-se que a recuperação da camada de ozono pode atrasar-se durante bem mais de uma década. 

Conhecido como triclorofluorometano, o CFC-11 foi desenvolvido para ser usado em refrigerantes, aerossóis ou solventes. Depois de ser libertado, poderá permanecer na atmosfera durante 50 anos. O triclorofluorometano faz parte da família dos químicos sintéticos CFC. Estas substâncias são consideradas as grandes culpadas pela destruição do ozono estratosférico, isto é, pelo buraco da camada de ozono sobre a Antárctida descoberto nos anos de 1980.

Para resolver este problema, 150 países assinaram o Protocolo de Montreal, em que se comprometeram a eliminar a produção dos CFC. No caso do CFC 11, a sua produção foi proibida nos anos 90 e no resto do mundo em 2010. Através da aplicação deste protocolo, esperava-se que a camada de ozono voltasse aos valores anteriores à redução verificada nos anos de 1980 no início da segunda metade do século XX.

Algumas investigações científicas chegaram mesmo a mostrar que esta camada estava a recuperar e que o buraco ozono diminuiu para o menor tamanho desde 1988. Mas, em Maio de 2018, uma equipa de cientistas revelou que as emissões de CFC-11 estavam a contribuir para a destruição da camada de ozono.

Também no final de Outubro deste ano, a NASA anunciou que o buraco de ozono tinha atingido o seu menor tamanho desde a sua descoberta. “Padrões meteorológicos anormais na atmosfera superior sobre a Antárctida limitaram drasticamente a diminuição da camada de ozono em Setembro e Outubro, resultando no buraco de ozono mais pequeno observado desde 1982”, lê-se num comunicado da NASA.

Segundo os dados dos satélites da NASA e da NOAA (a agência para os oceanos e a atmosfera dos Estados Unidos), o buraco de ozono anual alcançou o seu pico a 8 de Setembro quando se estendia por 16,4 milhões de quilómetros quadrados. Mas, diminuiu para menos de dez milhões de quilómetros quadrados no restante mês de Setembro e Outubro. Em condições meteorológicas normais, o buraco da camada de ozono estende-se por cerca de 21 milhões de quilómetros quadrados entre o final de Setembro e o início de Outubro. 

“Estas são grandes notícias para a camada de ozono do hemisfério Sul”, assinalou no comunicado Paul Newman, cientista do Centro Espacial Goddard da NASA. “Mas é importante reconhecer que o que estamos a observar este ano aconteceu devido às temperaturas estratosféricas mais elevadas. Não é um sinal de que o ozono estratosférico está, de repente, numa rápida recuperação.”

No artigo científico, avisa-se mesmo: “O buraco de ozono sobre a Antárctida está a diminuir em tamanho, mas a recuperação será afectada pela variabilidade atmosférica e por mudanças inesperadas nas emissões gasosas de fontes com cloro.”

Por isso, uma equipa de investigadores liderada por Martyn Chipperfield (da Universidade de Leeds, em Inglaterra) usou um modelo detalhado do transporte químico atmosférico para perceber quais serão os impactos das emissões de CFC 11 na recuperação da camada de ozono. A partir deste modelo, estudaram-se três hipóteses: se as emissões parassem imediatamente; se continuassem a ser lançadas de forma contínua; e se fossem eliminadas gradualmente nos próximos dez anos.

As simulações descritas num artigo científico publicado na revista Nature Communications mostraram então que, se as emissões continuarem a ser lançadas a um nível constante, isso pode atrasar a recuperação da camada de ozono até durante 18 anos. Mas, se as emissões forem eliminadas de forma faseada na próxima década, o atraso será, provavelmente, de cerca de dois anos.

“Temos muitas dúvidas quanto à quantidade de CFC 11 que foi mesmo produzida. Mas, ao usarmos um modelo computacional, percebemos que pode haver apenas um pequeno atraso na recuperação da camada de ozono – isto se conseguirmos parar rapidamente as emissões do CFC 11 – ou pode haver um atraso de cerca de 18 anos se as emissões continuarem”, frisa ao PÚBLICO Martyn Chipperfield.  

Como houve “um grande interesse e preocupação sobre este tema”, o cientista refere que será improvável que as emissões de CFC 11 continuem a não ser controladas. “Por esta razão, um pequeno atraso na recuperação da camada de ozono é mais provável do que um grande atraso.”

Neste momento, Martyn Chipperfield diz que o mais importante é identificar os locais exactos onde se produziu este clorofluorocarboneto. Afinal, sabe-se que as emissões vêm sobretudo das ou à volta das províncias de Shandong e Hebei, no Leste da China, mas não se determinou o seu sítio de origem exacto dentro de cada província chinesa. “A partir do momento em que se emite o CFC 11 já não se pode fazer nada. Contudo, quanto menos emissões houver, menor será o impacto. Idealmente, qualquer CFC 11 que já foi produzido e que ainda não foi emitido deverá ser destruído antes de ser lançado na atmosfera”, avisa.

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