Salários dos dirigentes no privado sobem acima da média dos trabalhadores

Dados do Ministério do Trabalho mostram que os salários das mulheres continuam 19% abaixo dos vencimentos dos homens.

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A remuneração média dos trabalhadores está nos 992,54 euros e o ganho médio nos 1188,06 euros Bruno Lisita

Os trabalhadores das empresas que ocupam posições hierárquicas de dirigentes e aprendizes estão a registar subidas salariais mais altas do que a média dos trabalhadores, revela o inquérito aos ganhos e à duração do trabalho no sector privado, divulgados esta semana pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, referentes a Abril.

As estatísticas, citadas na edição desta sexta-feira do jornal Correio da Manhã e publicadas no site do ministério, mostram que os dirigentes estavam, em média, a ganhar 2886,8 euros ilíquidos, mais 301 euros do que um ano antes. A subida é de 12%, quando a valorização média do conjunto dos trabalhadores por conta de outrem era de 2%, comparando o valor ganho em Abril com o montante de Abril do ano anterior.

Os valores referidos são ilíquidos, ou seja, são contabilizados antes de quaisquer descontos (de IRS, Segurança Social e outros).

O ganho médio dos funcionários enquadrados pelo Ministério do Trabalho no grupo profissional empregados/operários, a principal franja de trabalhadores, foi de 2% e correspondeu a 24 euros mensais. Se em Abril de 2018 a remuneração média era de 1127,5 euros, um ano depois estava nos 1151,29 euros. Os aprendizes registam uma subida média de 10%, equivalente a uma melhoria de 73 euros. A remuneração média passou dos 719,08 euros (Abril de 2018) para 791,69 euros (Abril de 2019).

Estes valores dizem respeito a todo o ganho do trabalhador, isto é, à remuneração-base, mais os valores pagos pelas horas extra ou pelas horas suplementares, mais os subsídios ou prémios pagos mensalmente (como os subsídios de alimentação, de função, isenções de horário, diuturnidades). É à soma de todas estas parcelas que se referem aqueles dados. Quando se olha apenas para o valor das remunerações-base, o padrão das variações salariais é idêntico.

Fosso salarial entre homens e mulheres

Em termos médios, “o ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem a tempo completo foi 1188,06 euros, traduzindo aumentos nominais de 1,8% comparativamente ao período homólogo de 2018 e de 1% relativamente a Outubro de 2018”. A remuneração-base média é de 992,54 euros. Foi nas indústrias extractivas, nas actividades artísticas, de espectáculos, recreativas e desportivas que se registaram as subidas mais acentuadas. 

Continua a existir um fosso salarial entre os salários dos homens e das mulheres. Nota o gabinete de estudos do Ministério do Trabalho que “os homens ganharam em média 1300,95 euros mensais, contra os 1055,43 euros observados para as mulheres. Deste modo, o ganho das mulheres ficou 18,9 % abaixo do ganho dos homens.”

Onde se ganha mais? E menos?

É nas empresas que trabalham nos sectores da electricidade, gás, vapor, água e ar que os trabalhadores têm um salário médio mais alto (a remuneração base está, em média, nos 2107,15 euros e, se forem tidas em conta as outras componentes salariais, o ganho mensal médio é de 2929,33 euros).

Em sentido contrário, “os valores mais baixos verificaram-se no sector de alojamento e restauração, com um ganho médio mensal de 811,93 euros e uma remuneração-base mensal média de 739,28 euros”.

Quem recebe o salário mínimo?

Um quarto dos trabalhadores (25,6%) recebia o salário mínimo (fixado nos 600 euros em 2019). A percentagem mantinha-se estável em relação aos valores registados um ano antes. Nas empresas de restauração e alojamento, perto de 40% dos funcionários recebem a remuneração mínima — é o sector de actividade onde o número de trabalhadores nesta situação salarial tem mais peso. Pelo contrário, é nas empresas do sector financeiro, de seguros, de electricidade, gás, vapor, água e ar que há uma menor percentagem de trabalhadores a receberem o salário mínimo.

A proporção de mulheres a ganharem o ordenado mínimo é superior à dos homens; entre as mulheres que estão no mercado de trabalho, 31% recebe a remuneração mínima prevista na lei para o trabalho a tempo completo, enquanto entre os homens essa percentagem é de 21%.

A síntese do ministério mostra ainda que “a duração média remunerada semanal de trabalho foi 39,5 horas, das quais 0,5 horas corresponderam a trabalho suplementar”.

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