Escócia questiona-se sobre o seu lugar no Reino Unido e na UE

Poderá a saída o “Brexit” levar à desagregação da monarquia britânica, com a ruptura definitiva do pacto de mais de 300 anos que juntou a Escócia à Inglaterra?

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A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon Reuters

Assim que foram anunciados os resultados do referendo à União Europeia, os nacionalistas escoceses reconheceram uma oportunidade política pela qual não esperavam tão cedo. Em 2014, a vitória do “Não” no referendo sobre a independência da Escócia (55%) tinha, aparentemente, arrumado com a questão por pelo menos uma geração. Derrotados, os líderes do Partido Nacional Escocês (SNP) reconheceram não ter condições políticas para reclamar uma nova consulta. 

Deixaram, no entanto, uma porta aberta, alegando que uma nova consulta ao povo escocês se justificava se houvesse uma “mudança material significativa” das circunstâncias do país, que justificaram esse resultado (na campanha pela independência prevaleceram os alertas dos unionistas sobre os riscos e prejuízos económicos do divórcio). O “Brexit” oferece um argumento poderoso.

“A Escócia não votou pela saída”, proclamou a primeira-ministra, Nicola Sturgeon, num primeiro aviso à navegação em Londres, a 24 de Junho de 2016. “Pelo contrário, o povo escocês deixou claro que vê o seu futuro como parte da UE”, acrescentou.

Os 62% obtidos pelo “Remain” na Escócia não foram suficientes para garantirem ao país um estatuto especial durante as negociações com Bruxelas. Deixados de fora das conversas, os escoceses viram a sua descrença aumentar a cada desenvolvimento do caótico processo negocial que deu origem ao acordo de saída. A Irlanda do Norte manteve o seu acesso ao mercado único europeu, mas não a Escócia. Segundo estudos do governo autónomo escocês, o “Brexit” levará a uma quebra do rendimento nacional de cerca de 1600 libras per capita.

As eleições antecipadas convocadas por Boris Johnson para fazer aprovar o seu acordo de saída ofereceram aos independentistas uma segunda oportunidade. O SNP fez campanha para travar o “Brexit”, mas depois de conseguir eleger 47 dos 59 deputados reservados à Escócia em Westminster fez subir a parada: este é um mandato claro para a realização de um novo referendo à independência, já em 2020, alegou Nicola Sturgeon. O primeiro-ministro não tem intenção de autorizar uma nova consulta. Mas se as eleições na Escócia de 2021 resultarem numa nova maioria absoluta do SNP, Boris Johnson não terá como impedir um novo referendo. Poderá ficar na história como o líder que tirou os britânicos da Europa — e que desfez o Reino Unido.

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