Boris Johnson, a vitória sobre a agonia

Os britânicos estão cansados da novela do “Brexit”. Tal como o doente que desespera em agonia sem saber quanto termina o torpor, anseia pelo seu fim, um fim qualquer desde que o pesadelo termine e possa saber com o que vai contar a partir dali.

O Reino Unido falou, e a sua mensagem foi inequívoca: “Queremos o fim da agonia!”

Não é para menos, há três longos anos que o impasse se instalou e os cidadãos vivem um lento estertor sem fim à vista. As pessoas votaram massivamente na única solução que lhes garantia uma saída, não há que negar, gostemos ou não do protagonista. A mensagem de Johnson era clara – “Get 'Brexit’ Done” –​, enquanto Corbyn mantinha o futuro em banho-maria, com a promessa de novo referendo, o prolongamento da indefinição, sem nunca assumir uma posição.

Esta vitória de Boris Johnson transformou, aliás, Corbyn num líder com os dias contados. A sua derrota histórica nem foi tanto pela escolha do que os britânicos queriam, mas sobretudo do que não queriam. Não querem mais impasse, não querem mais indecisão, querem saber que, apesar do diagnóstico da saída da UE prever dias muitos difíceis, pelo menos sabem que há um ponto de partida, um cenário real e não a lenta agonia que lhes matou a esperança.

Boris foi o homem com a mensagem certa, com a opção definitiva, mas o "Brexit” continuará a ser um problema delicado porque nem todos querem que se concretize da mesma forma, nem todos querem efectivamente que se concretize, e adivinham-se tempos sombrios para a união do reino da coroa britânica.

Boris Johnson não perdeu tempo a anunciar que pretende cumprir a sua principal promessa antes do Natal, levando o acordo de saída ao parlamento, para poder concretizar o “Brexit” definitivamente a 31 de janeiro. 

Apesar de tudo, o logo impasse viu a luz ao fundo do túnel quando em outubro Boris propôs um acordo de “Brexit” sem controlos na Irlanda do Norte, altura em que se aceleraram as negociações com a UE para uma saída ordenada, tantos meses depois de várias ameaças de saída desordenada que trariam imprevisiveis impactos para o Reino Unido e para a União Europeia.

Os britânicos estão cansados da novela do “Brexit”. Tal como o doente que desespera em agonia sem saber quanto termina o torpor, anseia pelo seu fim, um fim qualquer desde que o pesadelo termine e possa saber com o que vai contar a partir dali.

Quanto a mim, os trabalhistas podiam ter feito isto mesmo há três anos atrás após o referendo que decidiu pelo “Brexit”. Por muito disparatado que pudesse ser, cumpriam a decisão da maioria, teriam respeitado a vontade expressa dos britânicos, e hoje com certeza não teriam sido tão castigados nas urnas. 

É a democracia, mesmo quando divergimos da opção da maioria expressa, a funcionar. E ainda bem que funciona.

Calha bem que este ambiente de nova esperança tenha vindo em período natalício. A Europa precisa de serenidade para voltar a enfrentar os desafios coletivos do futuro, e todos sabemos que o Reino Unido não vai a lado nenhum, manter-se-á aqui mesmo ao lado, à mesma distância de sempre, e a conduzir em faixa própria ou a usar unidades de medida que mais ninguém usa, como sempre. E nós gostamos assim. 

Que este tempo de esperança nos traga a todos a serenidade para que o nosso futuro seja mais feliz e mais próspero.

Feliz Natal.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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