Quase 600 pessoas internadas com distúrbios psicóticos tinham usado cannabis

Investigadores do Porto mostram, num estudo publicado numa revista internacional, que houve um “aumento constante” destes episódios, ao longo do período em análise: dos 20 internamentos por distúrbios psicóticos, aos quais estava associado o consumo de cannabis, registados em 2000, passou-se para 588, em 2015. São quase 30 vezes mais.

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A grande maioria dos casos de internamento envolve homens, com uma idade média de 30 anos. Paulo Pimenta

Quase 600 pessoas que foram internadas, em 2015, por causa de distúrbios psicóticos ou esquizofrenia, tinham consumido cannabis. O número destes episódios hospitalares tem vindo a crescer desde o início do século, conclui um estudo realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (Cintesis), que foi publicado numa revista científica internacional.

O estudo analisa dados de todos os hospitais públicos portugueses, entre 2000 e 2015, elencando os casos de internamento em que o diagnóstico principal é um distúrbio psicótico ou esquizofrenia, ao qual está associado um diagnóstico secundário de uso de cannabis. Nesses 15 anos, foram 3233 casos.

Os dados mostram um “aumento constante” destes episódios, ao longo do período em análise: dos 20 internamentos por distúrbios psicóticos, aos quais estava associado o consumo de cannabis, registados em 2000, passou-se para 588, em 2015. São quase 30 vezes mais.

No mesmo sentido, enquanto em 2000 apenas 0,87% das pessoas internadas com distúrbios psicóticos tinham um diagnóstico secundário de uso de cannabis, 15 anos volvidos, estes já representavam 10,6% de todos os episódios registados nos hospitais públicos portugueses.

Estes números, avançados na edição deste sábado do Jornal de Notícias, constam de um estudo de Manuel Gonçalves‐Pinho, Miguel Bragança e Alberto Freitas, investigadores da FMUP e Cintesis. O artigo foi publicado este mês na revista científica International Journal of Methods in Psychiatric Research.

Os investigadores advertem que o aumento do número de casos que associam o uso de cannabis ao internamento por distúrbios psicóticos ou esquizofrenia não significa necessariamente que o consumo uso daquela substância esteja a aumentar, podendo ficar a dever-se a uma “crescente codificação do diagnóstico secundário nas bases de dados dos hospitais administrativos”, que elevam a contabilidade dos casos de consumo.

Ainda assim, os dados do estudo mostram um aumento transversal dos casos de diagnóstico secundário de uso de cannabis em todos os tipos de internamento. Mais de 2100 pessoas que deram entradas nos hospitais portugueses em 2015 tinham usado esta droga. Eram apenas 73 os diagnósticos em 2000.

O estudo de Manuel Gonçalves‐Pinho, Miguel Bragança e Alberto Freitas faz também uma caracterização desta população: masculina e jovem. A grande maioria dos casos (89,8%) envolve homens, com uma idade média de 30 anos.

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