A Madeira vista do céu

Há 26 anos que o arquipélago da Madeira não tinha dedicado a si um livro de fotografia, diz o fotojornalista Gregório Cunha. Agora, há uma oportunidade para folhear as paisagens do arquipélago como se estivéssemos a vê-las do céu. Livro é apresentado esta quinta-feira, na Assembleia Regional.

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Gregório Cunha

Lá estão os montes e os picos, a floresta Laurissilva, selvagem, singular, a contrastar com as praias de calhaus escuros — mas também únicas. Mas estão também as areias douradas de Porto Santo. Estão os povoados perdidos na montanha, as estradas que a rasgam, e os turistas a percorrerem as levadas. Estão lá também as piscinas dos luxuosos hotéis na costa madeirense, a baía do Funchal, as marinas e os cruzeiros. Os canteiros de flores, o jardim botânico do Funchal, e as piscinas naturais de Porto Moniz. Se a paisagem tem lugar de destaque nestas páginas, o fotojornalista Gregório Cunha não esqueceu a gente de trabalho nas vindimas ou nas plantações de cana-de-açúcar. E fotografou-as como se estivesse a vê-las do céu.

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Gregório Cunha

Um dia, Gregório Cunha “apanhou boleia” num helicóptero da Força Aérea do Porto Santo para a Madeira. Quando se aproximava da ilha e a aeronave onde seguia se preparava para aterrar, fazendo um compasso de espera e dando uma volta nas imediações do aeroporto, pensou: “Tenho de fazer um livro de fotografia aérea da Madeira.”

Esse episódio, conta, foi há 25 anos. Demorou algum tempo a concretizar essa vontade, mas está finalmente cumprida e, por coincidência ou não, no ano em que se assinalam os seis séculos da descoberta da ilha por João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira. Madeira Vista do Céu - From the Sky reúne num livro paisagens aéreas de todos os concelhos da ilha da Madeira e de Porto Santo. 

Gregório Cunha
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Gregório Cunha

Há 26 anos que não se fazia um livro de fotografia sobre a Madeira, assegura o fotojornalista de 48 anos, que é também colaborador do PÚBLICO. O último, “Madeira - Porto Santo”, foi feito pela lente de Maurício Abreu com textos de Vicente Jorge Silva, fundador e primeiro director do PÚBLICO. Por isso, a ideia de fotografar de cima as paisagens do arquipélago não esmoreceu, acabando por ganhar novo fôlego quando os drones começaram a aparecer.

Depois disso, andou a subir e a descer montanhas ao amanhecer ou ao pôr-do-sol, por toda a ilha, de carro e a pé, à mercê da inconstância das condições climatéricas da ilha, em golpes de persistência e de alguma sorte — que “dá muito trabalho”, assegura Gregório Cunha. “Quando o drone não atrapalhava comecei a conceber o enquadramento que queria para o livro. Passados seis meses já tinha muitas fotografias e foi aí que decidi o formato do livro.”

Acabou por dedicar um capítulo a cada concelho da região autónoma — Funchal, Santa Cruz, Machico, Santana, São Vicente, Porto Moniz, Calheta, Ponta do Sol, Ribeira Brava, Câmara de Lobos, mais Porto Santo, com fotografias panorâmicas destas terras.

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Gregório Cunha

Demorou cerca de dois anos e meio a fotografar o que queria. Percorreu quase 20 mil quilómetros. Fez cerca de 22 mil fotografias para, no final, reunir no livro 180 imagens de paisagens intercaladas com o quotidiano da Madeira e Porto Santo. Em cada capítulo há ainda sempre um texto a retratar a suas gentes, as suas tradições, escrito ora por Cristina Costa e Silva, Emanuel Bento ou João Márcio, também traduzidos em inglês. 

“Há lugares onde ainda não cheguei”

No ano passado, quase 1,4 milhões de turistas passaram pelo arquipélago. Foi também por isso que Gregório Cunha decidiu escolher para capa do livro uma fotografia das piscinas naturais do Porto Moniz com duas turistas russas, que lhe contaram estar a viver em Inglaterra, estando ali de férias para comemorar os 25 anos de uma delas. “Duas turistas a desfrutar na natureza. A fotografia acaba por reflectir bem aquilo que eu queria mostrar”, nota o fotojornalista. Este, diz, é um livro “para quem nos visita e para quem nos quer visitar”. 

Gregório Cunha
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Gregório Cunha

Gregório Cunha é filho de pais que, como tantos madeirenses, tinham emigrado para a Venezuela. Ele nasceu lá, mas voltou à ilha com quatro anos. Por ali ficou. Licenciou-se em Artes e Multimédia, já depois de ter começado a trabalhar. Conhece, por isso, muito bem a ilha, mas acabou surpreendido com as vistas que encontrou. 

“Ando muito na serra, tenho um grupo que faz acampamentos todos os meses e mesmo conhecendo a ilha toda, houve sítios onde nunca tinha estado. Tenho a certeza que há lugares onde ainda não cheguei. Mas vou chegar.” Quem sabe esses sítios fiquem também mais acessíveis num próximo livro, mas, para já, Madeira Vista do Céu - From the Sky está à venda na Fnac na ilha, por 47 euros, e será apresentado esta quinta-feira no Salão Nobre da Assembleia Regional pelo vice-reitor da Universidade da Madeira, Sílvio Fernandes. Em Janeiro chegará ao continente. 

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