Russos nas Olimpíadas e Mundial 2022? Apenas como independentes

A Agência Mundial de Antidopagem excluiu a Rússia de participar em “grandes eventos” desportivos nos próximos quatro anos.

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Reuters/KIM HONG-JI

A história chegou a conhecimento público em 2016, com a divulgação de um relatório da Agência Mundial de Antidopagem (AMA) que denunciava a existência de um sistema de doping institucionalizado na Rússia que envolvia atletas, treinadores, agência antidoping (Rusada), federações desportivas e governo do país. As ondas de choque do escândalo resultaram na exclusão de 110 atletas da Rússia dos Jogos Olímpicos (JO) de Verão, em 2016, e da bandeira e do hino do país nos JO de Inverno, em 2018. Nesta segunda-feira, o enredo ganhou mais um capítulo. Numa decisão tomada “por unanimidade”, a AMA excluiu a Rússia de todos os “grandes eventos” desportivos mundiais por quatro anos, o que significa que o país deverá voltar a não ser representado pela sua bandeira ou hino nos JO de Tóquio e no Mundial de futebol do Qatar. Os atletas russos, no entanto, poderão participar como independentes.

A sanção ainda não é definitiva — a Rússia tem 21 dias para contestar a decisão —, mas volta a colocar em xeque todo o desporto russo. Após reunir-se em Lausanne, na Suíça, James Fitzgerald, porta-voz da AMA, anunciou a decisão que penaliza a Rússia depois de a Rusada ter sido declarada conivente na manipulação de dados laboratoriais e na ocultação de supostos casos positivos de doping de atletas russos no início deste ano.

Caso a Rússia opte por não recorrer da decisão ou se o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) indeferir a eventual contestação russa, a 24 de Julho do próximo ano, na cerimónia de abertura dos JO de Tóquio, a bandeira da Rússia não será exibida no Estádio Olímpico. Porém, como aconteceu em Pyeongchang, na Coreia do Sul, durante os JO de Inverno de 2018, os atletas de nacionalidade russa podem ser convidados pelo Comité Olímpico Internacional (COI) a participar na competição como independentes, envergando equipamentos com a bandeira olímpica. “Os atletas russos, se quiserem participar dos Jogos Olímpicos ou Paralímpicos, ou qualquer outro grande evento, deverão demonstrar que não estão envolvidos nos programas de doping descritos no relatório ‘McLaren’ ou que suas amostras não foram falsificadas”, esclareceu Fitzgerald.

As repercussões da decisão da AMA podem afectar também o Campeonato do Mundo de futebol, que será realizado em 2022, no Qatar. As consequências para o futebol russo serão, no entanto, pouco relevantes. Tal como sucede nos JO, a Rússia não terá permissão para fazer-se representar como país na competição da FIFA, mas será autorizada a participar na qualificação para o evento, com início marcado para Março de 2021. Caso seja um dos 13 países europeus apurados, no Qatar haverá então uma selecção composta por jogadores russos, mas sem “o hino ou a bandeira” da Rússia, afirmou ontem Olivier Niggli, director-geral da AMA.

De fora de tudo isto ficam as competições da UEFA, para alívio dos seus responsáveis. O organismo responsável pela organização do futebol europeu não é considerado pela AMA como “organização de grandes eventos”. Assim, em Junho do próximo ano, a bandeira e o hino da Rússia estarão presentes no Euro 2020, e São Petersburgo vai acolher três partidas da fase de grupos e um jogo dos quartos-de-final da competição. A cidade russa mantém-se, também, como o palco da final da Liga dos Campeões em 2021.

Reagindo à penalização imposta ao seu país, o primeiro-ministro russo Dmitry Medvedev admitiu ser “impossível negar” que “existe um significativo problema de doping na Rússia”, mas qualifica a decisão da AMA como parte de “uma crónica histeria anti-russa”.

Diferente foi a reacção de Grigory Rodchenkov, antigo director do laboratório antidoping de Moscovo que denunciou o esquema de dopagem generalizado. “Há muito tempo que esperava esta decisão, que reconhece que a Rússia não tem cumprido com o código mundial de antidopagem”, afirmou Rodchenkov,  que se encontra exilado nos Estados Unidos, em comunicado, no qual se congratula ainda com a “punição da fraude, das mentiras e das falsificações de proporções inimagináveis”.

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