Na moda, quais serão os materiais do futuro? As fábricas portuguesas estão atentas

Há alguns anos que a indústria têxtil portuguesa começou a preocupar-se com a sustentabilidade.

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Na fábrica Tintex há preocupação com o ambiente Adriano Miranda / PUBLICO

A preocupação com a sustentabilidade tem revelado experiências inovadoras e de sucesso na indústria da moda, como a Tintex, em Vila Nova de Cerveira — que usa extractos de plantas e de cogumelos para tingir os têxteis, de modo a minimizar o impacto ambiental –; ou a Scooop, em Vila Nova de Famalicão — que usa materiais ecológicos oriundos de fibras naturais. Estes foram alguns dos exemplos dados durante a conferência internacional “ModaPortugal Sustainability Talks”, nesta quinta-feira, na Alfândega do Porto.

“Os materiais do futuro são bio, adaptados à economia circular e de produção renovável e sustentável”, antecipa Braz Costa, do Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário (Citeve). Para já, assegura, “há um nível de consciência social e ambiental nas empresas”. Mas urge, sublinha, “pensar de maneira diferente a forma como se produz as peças, porque são difíceis de reciclar”. Para Manuel Lopes Teixeira, da ModaPortugal, por seu lado, “este novo modelo da sustentabilidade está assente na economia circular”, num consumo mais consciente. 

Há já alguns anos que as indústrias se preocupam com a sustentabilidade. “O tingimento é um dos processo mais poluentes da indústria têxtil”, explica Ana Tavares, responsável pelo departamento de sustentabilidade da Tintex, empresa familiar produtora de malhas circulares. Ana Tavares levou à Alfândega do Porto o processo patenteado, de seu nome Picasso, que consiste na extracção de compostos naturais, a partir de cogumelos e plantas, com base em processos ecoeficientes e de fácil implementação industrial. Este método mais sustentável permite o desenvolvimento de um processo industrial de tingimento natural, minimizando o impacto ambiental, porque não utiliza corantes sintéticos. 

A escassez de água

Será a sustentabilidade uma tendência ou uma necessidade na indústria da moda em prol do meio ambiente? Mais do que nos preocuparmos apenas com o plástico como material poluente, devemos focarmo-nos também no problema de escassez da água? Daniel Mota Pinto, da Scoop, empresa com foco no vestuário tecnológico, sublinha a importância da redução da utilização de água. Esta é uma preocupação que deve ser mundial, alerta Ali Azumi, da marca germânica Blue Ben, fazendo referência à fast fashion e ao modo que a sua produção polui as águas dos países mais pobres, onde as grandes marcas produzem. 

Voltando aos exemplos portugueses de sustentabilidade, a Scoop tem já provas dadas com produtos como o blusão Musgo, que integra tecnologia de iluminação activa. É feito com materiais ecológicos oriundos de fibras naturais, ou seja, com um tecido que incorpora partículas de carvão obtidas a partir de cascas de coco recicladas. Pode ser usado por desportistas ou por peregrinos porque tem um sistema de iluminação inteligente com fibras ópticas. No âmbito da sua política de sustentabilidade, a empresa tem ainda uma horta biológica de onde são colhidos vegetais e frutas para as refeições da equipa.

A sustentabilidade também é uma preocupação da Riopele, de Famalicão, que se dedica à criação e produção de tecidos para colecções de moda e vestuário. “Vamos apostar nas fibras recicladas, instalar uma central de biomassa, mais painéis fotovoltaicos e ainda criar soluções de embalagens mais sustentáveis porque os nossos tecidos são embalados em plástico”, revela, durante a conferência, Isabel Domingues, da marca. Por enquanto, a empresa aposta em matérias-primas sustentáveis, está “a trabalhar a questão do poliéster reciclado e a apostar na utilização de desperdícios, como fios gerados da actividade da empresa que transforma depois em tecidos”. 

A Valérius, por exemplo, investiu numa unidade de reciclagem. “Recolhemos peças de clientes, fazemos a separação por cor e composição, e vamos fazer novo fio e papel”, descreve Patrícia Ferreira, da fábrica de têxteis de Barcelos. 

Também da Alemanha chegaram casos de sucesso e preocupação ambiental. Ali Azumi defendeu que quando se começa um negócio, é preciso ter algo que o distinga de outros e, no caso da Blue Ben a decisão não foi apostar no algodão orgânico, mas na produção e uso de fibras feitas na Europa. Para Ricardo Garay, da Circular Systems, uma empresa que produz fibras, “este tipo de problemas com a água não podem continuar”. Por isso, na sua empresa os resíduos da agricultura são aproveitados e transformados em fibras.

Este encontro foi promovido pelo Centro de Inteligência Têxtil (Cenit), em parceria com a Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confecção (ANIVEC), a Associação Portuguesa Indústria de Calçado Componentes Artigos Pele Sucedâneos​ (APICCAPS) e a Associação ModaLisboa. Durante o evento decorreu ainda o sexto concurso ModaPortugal, que reuniu dezenas de jovens designers europeus. 

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