PISA: outros olhares

Os estudos e as estatísticas só são importantes se estivermos dispostos a fazer alguma coisa com os seus resultados, se não, não servem para nada.

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Nuno Ferreira Santos/Arquivo

E lá estamos nós de ego insuflado! Tudo por causa dos resultados globais do PISA de 2018, onde Portugal aparece acima da média da OCDE nas competências avaliadas. Esta leve e genérica apreciação é muito global, pois a leitura do relatório mostra-nos as diferenças entre rapazes raparigas, desníveis socioeconómicos, estudantes imigrantes e alguns outros indicadores. Um dos aspectos interessantes é que os países são tratados como “economias” e o investimento que fazem na área da educação — em recursos educativos humanos ou materiais —, são também alvo de análise. Neste aspeto, Portugal tem ainda caminho para percorrer. É certo que desde 2015 que temos vindo sempre a evoluir, mas o investimento que o Governo faz na Educação ainda não é equiparável a outras economias mundiais, concretamente na Europa.

Muito do que se tem feito na Educação tem sido à custa da capacidade de adaptação e flexibilidade dos profissionais, dos alunos e dos encarregados de educação. Fala-se muito de mudança do paradigma educativo, e discute-se até o sistema não permitir a retenção dos alunos. Ora, a realidade que conhecemos é a dos professores, mesmo com a possibilidade de chumbarem os alunos, fazerem o pino para que isso não aconteça. Portanto, não é necessário tomar decisões por decreto. E, já agora, qual será a intenção de ser por decreto?

Em setembro, o Centro Norte-Sul do Conselho da Europa fez sair a actualização das Global Education Guidelines, destinadas a todos os que se interessam por Educação, incluindo os políticos. Estas orientações focam-se na construção das aprendizagens baseadas nos valores e direitos humanos. A construção da paz é uma das linhas principais, uma vez que o respeito, a inclusão e a preservação das liberdades fundamentais de qualquer cidadão global são princípios dos quais não se abre mão. A pedagogia centrada no conhecimento, a construção de um espírito de análise crítica, com capacidade de apontar soluções, a participação dos alunos na determinação dos objectivos das aprendizagens — o que torna a aprendizagem altamente poderosa e transformadora e geradora de cultura —, são premissas da Educação Global.

Também o PISA refere competências globais que se devem aplicar tendo em vista a prática futura de uma vida que se aprende e apreende localmente. Um bom resultado no PISA é, para muitos dos que o analisam de modo simplista, sinónimo de bom desempenho académico, mas significa muito mais pois traduz o estado da economia, das desigualdades sociais, do investimento financeiro feito na Educação, dos desníveis vs. possibilidades educativas dentro do sistema educativo e do país, de entre outros insights que quisermos valorizar, como bandeiras a perseguir ou não. Os estudos e as estatísticas só são importantes se estivermos dispostos a fazer alguma coisa com os seus resultados, se não, não servem para nada.

Não restam dúvidas que através do nosso trabalho, que é a forma mais elevada de expressar o nosso compromisso com o desenvolvimento do mundo, iremos interagir com cidadãos globais, de todos os lugares, com backgrounds diversos, que alargam a nossa visão e tornam o modo como trabalhamos e o que produzimos passível de ser aqui ou noutro canto do mundo, dirigido a qualquer ser humano.

Num muro de Lisboa está escrito qualquer coisa como isto: “No mundo não há estrangeiros.” Excelente maneira de apontar o caminho! Mais do que resultados, é preciso perceber o caminho. E por falar em caminho, ao olharmos para estes resultados do PISA de que professor falamos, de Nuno Crato ou de Tiago Brandão Rodrigues? Fica a deixa.

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