Entrar em Hogwarts através de Lisboa: o mundo mágico de Harry Potter está em exposição

Oito anos depois de ter saído o último filme da saga, a exposição Harry Potter chega a Portugal pela primeira vez, com centenas de adereços utilizados nos filmes, como os seis horcruxes o elfo Dobby ou a varinha de sabugueiro de Albus Dumbledore. Os gémeos Weasley (James e Oliver Phelps) estarão presentes na inauguração e falaram com o PÚBLICO.

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Alohomora! As portas da exposição Harry Potter: The Exhibition abrem-se pela primeira vez em Portugal neste sábado e dentro delas podem ver-se centenas de roupas e adereços, os mesmos que foram utilizados nos oito filmes da saga: desde os mais pequenos, como a varinha e os óculos de Harry Potter, a pedra filosofal ou o livro de poções rabiscado do Príncipe Misterioso até aos maiores, como a cabana de Hagrid e o hipogrifo Buckbeack. “Quando estávamos na rodagem, ficávamos estupefactos com a imaginação e com toda a atenção que era dada aos pormenores — e isso torna-se claro quando se visita esta exposição”, diz ao PÚBLICO o actor James Phelps que, com um toque de magia e tinta ruiva se transformava em Fred Weasley nos filmes. “Até se consegue ver todo o detalhe que é dedicado a um rebuçado”, espanta-se o irmão, Oliver (George Weasley).

Estamos no Grande Salão de Hogwarts, uma das oito divisões que fazem parte da exposição que se estende ao longo de 2000 metros quadrados numa estrutura improvisada por baixo da pala do Pavilhão de Portugal, em Lisboa. James e Oliver Phelps têm sido “embaixadores” da exposição desde que se estreou em Chicago, há dez anos. “Desde o primeiro filme que o fascínio com Harry Potter tem estado sempre a crescer, já houve mais de cinco milhões de pessoas que viram a exposição por todo o mundo. E é fantástico, porque pode ter-se quatro ou 94 anos; pode ser-se uma menina pequena ou um culturista gigante. É toda a gente”, afirma James, ao lado das roupas idênticas que usaram no último filme e das suas varinhas expostas numa vitrina ao lado. “Sempre pensei que nos dariam as varinhas no final das filmagens”, indigna-se Oliver.

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Os gémeos James (à esquerda) e Oliver Phelps (à direita)

No início da exposição, um feiticeiro convida-nos a sentar para que o chapéu seleccionador falante — agora em português — determine a casa a que se pertence: Gryffindor, Slytherin, Ravenclaw ou Hufflepuff. É uma lógica diferente da dos filmes mas, escolhida a casa, a locomotiva do Expresso de Hogwarts espera-nos sob a neve para que possamos entrar no mundo encantado de Harry Potter. A viagem não é longa, Hogwarts fica já na porta ao lado.

Para júbilo dos fãs, são salas repletas de objectos e roupas que entraram nos filmes de Harry Potter: desde o execrável gabinete cor-de-rosa da professora Dolores Umbridge à sala comum de Gryffindor e às mandrágoras que guincham ao ser arrancadas na aula de Herbologia; há a carta de admissão de Harry Potter e um dos Mapas do Salteador (Marauder’s Map) — como era um objecto mais frágil, foram feitos cerca de 30. Varinhas há muitas: a de Voldemort, Severus Snape, Draco Malfoy, Bellatrix Lestrange, Sirius Black, da professora McGonagall, de Lockhart, e Alastor Moody. Há roupas e roupas, sejam elas dos prisioneiros de Azkaban ou dos dementors ou o vestido usado por Hermione Granger no baile de Inverno.

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Antes de se chegar à Floresta Proibida, um lugar seguro: a rústica cabana de Hagrid, onde se podem ver as suas roupas gigantes, assim como a poltrona (que, ao contrário do que se vê noutras exposições, tem a indicação “por favor, sente-se”) e o monstruoso livro dos monstros. Saindo-se da cabana, o cenário fica mais negro: chegámos à Floresta Proibida. Lá, a fauna é diversa: o hipogrifo Buckbeack saúda-nos, mas há criaturas menos acolhedoras. Há centauros, um Thestral bebé, uma acromântula, e ainda a cabeça do dragão cauda-de-chifre da Hungria que Harry enfrenta no quarto filme, O Cálice de Fogo.

Álvaro Covões
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Passear pelos corredores da exposição é revisitar o mundo mágico de Hogwarts, sobretudo da memória vinda dos filmes (mas também dos livros de J. K. Rowling que lhes deram origem). Sempre com a banda sonora dos filmes a tocar no fundo, a exposição pode ser visitada todos os dias pelos muggles de Portugal até 8 de Abril.

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“Testemunhar tudo isto em primeira mão foi maravilhoso”

Os gémeos Phelps têm acompanhado a exposição itinerante desde 2009, que já passou desde então por Nova Iorque, Toronto, Sydney, Madrid, Paris ou Tóquio. Depois da experiência de Harry Potter, os irmãos decidiram continuar no mundo da representação, de forma mais subtil: “Claro que nada foi tão grande” como a saga mágica. “Lembro-me que, no primeiro filme, o Robbie Coltrane [actor que faz de Hagrid] nos disse que isto era como ter um Rolls Royce como primeiro carro, para não esperarmos que fosse tudo igual. E deu-nos, sem dúvida, oportunidades que não teríamos de outra forma”, sintetiza James, em conversa na apresentação à imprensa da exposição. De vez em quando, encontram-se com outros actores dos filmes “para uma cerveja ou uma jogada de golfe”. A melhor maneira de descrever a relação com o resto do elenco, dizem, é como “as pessoas com quem se andou na escola secundária ou na universidade — quando nos encontramos, é como nos tempos antigos”.

Numa das cenas finais do último filme, Oliver Phelps conta que se sentiu emocionalmente afectado por ter de imaginar a morte do irmão, ainda que no mundo ficcional. “Foi terrível para mim. Mas ele estava bem, a dormir no chão”, conta Oliver. “Gosto de pensar que sou um actor de método”, justifica James, sorrindo.

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E há alguma coisa de que se arrependam de toda a experiência? “Só do penteado no último filme”, responde James. “E no primeiro. E no terceiro. E no quinto”, brinca Oliver. “Mas no geral, não. Tivemos tantas oportunidades de viajar e conhecer pessoas. Até testemunhar toda a tecnologia daquilo que estávamos a filmar: a forma como filmaram o Quidditch [o desporto mais popular neste mundo de feitiçaria] no primeiro filme é completamente diferente da forma como o fizeram nos últimos filmes”, explica James. “Testemunhar tudo isto em primeira mão foi maravilhoso.”

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Com os pés assentes em terra e sem vassouras, é possível ter-se um vislumbre de como seria jogar Quidditch longe de feitiços: num pequeno campo presente na exposição, pode atirar-se bolas quaffle, tentando trespassar um dos três arcos. Estão também expostas as vassouras Nimbus 2000 (de Harry Potter) e a cobiçada Nimbus 2001 (de Draco Malfoy), a snitch de ouro e os fatos do desporto fictício usados por Harry, Ron Weasley e também por Cedric Diggory.

Em Portugal, a exposição demorou três semanas a ser montada. À falta de melhores alternativas, a promotora Everything is New, responsável pelo evento em Portugal, decidiu criar uma estrutura improvisada por baixo da pala do Pavilhão de Portugal; cá fora, um outdoor de 50 metros com as personagens Harry, Hermione e Ron, de varinha em riste, anuncia a exposição que se esconde por trás. O promotor Álvaro Covões refere que, “do que está nos planos para já, esta é a última vez que a exposição se apresenta” — daí que não haja previsões de que possa ir para outras cidades portuguesas. Antes de Lisboa, a exposição esteve em Valência e Madrid. “É uma das melhores e maiores exposições do mundo e da actualidade aqui em Lisboa. Nas outras cidades tiveram 300 a 500 mil visitantes, portanto os indicadores são muito bons”, garante. Antes do início da exposição, já tinham sido vendidos mais de 22 mil bilhetes.

Criar um mundo mágico de raiz

A britânica Miraphora Mina e o brasileiro Eduardo Lima começaram a trabalhar juntos como designers há quase 20 anos, para criar todo o estilo gráfico dos filmes Harry Potter. “Não podíamos imaginar que isto se tornaria tão grande, na altura fomos chamados para fazer um único filme, ainda que soubéssemos que já havia dois ou três livros, ninguém falava muito nisso”, conta Miraphora. “Eu tenho de confessar que às vezes ainda acho que não é bem verdade. Porque eu venho de uma cidadezinha bem pequena no Brasil e, no meio disto tudo, penso ‘como é que isto aconteceu?’ — mas recebi a minha carta, enviada por um papagaio, como acontece lá em Minas Gerais”, ri-se Eduardo, por baixo dos decretos educacionais que criaram cuidadosamente para os filmes.

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Miraphora Mina

A autora J. K. Rowling e os produtores deram-lhes liberdade para criar os adereços. “Até porque não havia muita informação inicial nos livros, era mais os conceitos”. Inspiraram-se nas construções soviéticas para o Ministério da Magia, invocaram um estilo mais gótico para o jornal mágico O Profeta Diário. “Quando começámos o Harry Potter não tínhamos computadores decentes até ao segundo filme, era tudo feito à mão, com cola. Agora temos softwares e programas fantásticos de computador que nos ajudam muito”, explica Eduardo. Na sua empresa MinaLima, criaram também os adereços para outros filmes fora do mundo Harry Potter, como o musical Sweeney Todd ou A Bússola Dourada.

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Eduardo Lima

“Tudo o que era muggle era chato de fazer”, brinca o designer brasileiro. “No filme Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los é diferente, porque passamos muito mais tempo no mundo dos muggles, mas é o mundo dos muggles dos anos 1920, é maravilhoso recriar”, acrescenta. Mas no mundo de Harry Potter, era o fantástico que lhes sabia a desafio. Muitos dos adereços na exposição foram criados por eles, e há um certo sentimento de nostalgia e de pertença. Nas palavras de Eduardo Lima, “é como visitar a casa de um familiar.”

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