ILGA Portugal renova direcção com aposta na saúde das pessoas LGBTI

Ana Aresta é a segunda mulher a liderar a ILGA Portugal, fundada em 1995. Garantir acesso à saúde das pessoas trans e intersexo entre prioridades do novo mandato.

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Ana Aresta e Joana Cadete Pires encabeçam a nova direcção da ILGA Portugal Cortesia Fátima Nobre / Arraial Lisboa Pride

Cinco anos depois de Isabel Advirta se ter tornado na primeira mulher a liderar a ILGA — Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero, a associação volta a ter uma mulher aos comandos. Ana Aresta, vice-presidente da associação desde 2016, foi eleita presidente da ILGA Portugal na sexta-feira, sucedendo a Nuno Pinto, que abandona a direcção.

Ao PÚBLICO, Ana Aresta destaca os cuidados de saúde entre as prioridades de acção da ILGA no próximo mandato. “Temos uma grande preocupação actualmente que é garantir a monitorização dos cuidados de saúde no SNS para as pessoas LGBTI, nomeadamente para as pessoas trans e intersexo.” A dirigente diz que a associação tem recebido muitas denúncias e queixas sobre esta matéria, apontando como necessário “articular com o Governo quer mecanismos de denúncia, quer que essas pessoas trans e intersexo tenham cuidados de saúde dignos e acessíveis”, mantendo “uma postura de contínuo diálogo com os sucessivos governos”. Ana Aresta sublinha que “é importante que se fale mais sobre saúde e sobre especificidades da população LGBTI”, combatendo, por exemplo, “o isolamento e o silenciamento que existe também em torno das questões de saúde relacionadas com as mulheres”.

Ana Aresta alerta ainda para a importância de garantir a ONG, associações e IPSS que “complementam o trabalho do Estado e muitas vezes se substituem ao Estado” mecanismos de financiamento estrutural que permitam a prestação de serviços como a linha de apoio LGBTI e o atendimento na área da saúde mental “às diversas pessoas que compõem este grande espectro de população”. Nos últimos anos, a ILGA entregou ao Instituto da Segurança Social várias candidaturas para acordos atípicos de financiamento de serviços à população, para os quais ainda não teve resposta.

A nova direcção da ILGA, que assume funções numa altura de renovação do Parlamento, vê também “com preocupação a ascensão do populismo anti-LGBTI em Portugal”, sendo necessário reforçar “mecanismos de informação da população, esclarecimento de notícias falsas e um trabalho que continua a ser necessário de promover continuadamente a igualdade na sociedade”.

Diversidade

A nova presidente da ILGA, ​Ana Aresta, tem 30 anos, trabalha na área da comunicação e foi vice-presidente da associação no último mandato, liderado por Nuno Pinto, depois de ter sido membro suplente da direcção de Isabel Advirta, entre 2014 e 2016. Pertenceu à equipa responsável pela organização do Encontro Europeu de Famílias Arco-Íris, em 2015, e integrou a organização do Arraial Pride. Tornou-se voluntária na ILGA em 2011, um trabalho que considera uma forma de “retribuir o apoio comunitário” que encontrou na associação, procurando mostrar “é possível vivermos plenos e plenas no nosso direito a sermos quem somos.”

É a primeira vez que a mais antiga associação portuguesa pelos direitos LGBTI tem duas mulheres nos cargos de liderança, com Joana Cadete Pires a assumir a vice-presidência. Hélder Inês, João Valério, Daniela Bento (membros efectivos), Teresa Amor, Isaac dos Santos, Pedro Carreira, Diana Amado e Nuno Gonçalves (suplentes) completam a direcção que Ana Aresta assume como de continuidade, sublinhando o “trabalho importantíssimo de liderança” de Nuno Pinto, nomeadamente com “a grande conquista legislativa da Lei da Identidade de Género”. A direcção conta pela primeira vez com duas pessoas trans, “uma posição que não é alheia aos dinamismos sociais e políticos emergentes sobre a igualdade de género”. “A ILGA sempre entendeu que, se quer valorizar a diversidade e igualdade na sociedade, deve também fazê-lo dentro das entidades, neste caso, dentro da associação”, diz Ana Aresta.

Apesar da evolução legislativa em matéria de protecção e promoção dos direitos das pessoas LGBTI, “a verdade é que ainda existem muitas pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans, intersexo ou percepcionadas como tal que continuam a sofrer em silêncio a discriminação de que são alvo”, refere o comunicado da ILGA divulgado nas redes sociais.

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