Donald Tusk: “Estou à espera da carta”

Dias depois de fechar o novo acordo para a saída do Reino Unido, os líderes europeus vão ter de encontrar uma nova data para a separação.

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Donald Tusk: "Estou à espera da carta" OLIVIER HOSLET/EPA

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, manteve o silêncio sobre os últimos desenvolvimentos no parlamento de Londres até ter receber um telefonema do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a confirmar que vai cumprir a lei que o obriga a pedir um adiamento do prazo do Brexit. “Estou à espera da carta”, escreveu Tusk no Twitter.

Só depois da carta chegar, e mediante o que disser, é que Tusk vai decidir o que fazer. O que se espera é que convoque uma cimeira extraordinária para que os lideres possam concertar a sua resposta ao pedido do primeiro-ministro britânico. Os representantes permanentes dos 27 reúnem este domingo pela manhã para debater os últimos desenvolvimentos, e começar a definir uma resposta.

Ao início da tarde, a porta-voz da comissão Europeia, Mina Andreeva, tinha reagido. “Tomámos nota da aprovação da chamada emenda Letwin na Câmara dos Comuns, que na prática impediu que o acordo de saída fosse submetido a votação este sábado. Caberá agora ao Governo do Reino Unido informar-nos dos próximos passos que pretende tomar”, reagiu a porta-voz da Comissão Europeia numa mensagem no Twitter logo após a confirmação da moção para o adiamento da data da saída. 

Na última quinta-feira, os líderes europeus concordaram em assinar com Boris Johnson um novo acordo para a saída ordenada do Reino Unido da UE, alcançado após negociações frenéticas e dramáticas que se estenderam quase até ao início dos trabalhos do habitual Conselho Europeu de Outubro. No fim do encontro, antecipando novos dissabores do lado de Londres, os chefes de Estado e governo deixaram várias palavras de aviso aos legisladores britânicos antes destes se pronunciarem mais uma vez sobre os termos do “Brexit”. “Esperamos que à quarta seja de vez. Creio que chegámos ao fim da linha”, resumiu o primeiro-ministro português, António Costa.

Sabendo que Boris Johnson tinha as mãos atadas para evitar uma nova extensão do prazo, vários líderes foram ainda mais longe na pressão que colocaram sobre os deputados britânicos, afirmando, como fez o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, que “seria um erro assumir que um adiamento é garantido”, uma vez que essa decisão exige a unanimidade dos líderes. “Alguma coisa terá de acontecer: novas eleições, ou um novo referendo, nem que seja sobre este acordo. Terá de haver uma razão”, completou o líder luxemburguês, Xavier Bettel.

Agastados e fartos das discussões do “Brexit”, os líderes até podem ter endurecido a sua retórica no final da semana. Mas a realidade é que nenhum deles está preparado para ser o mau da fita que atira o Reino Unido para o precipício do no-deal - não faria o mínimo sentido que o fizessem dias depois de fecharem um novo acordo que garante um quadro de previsibilidade para a (inevitavelmente) dolorosa separação.

Assim, e voltando à questão das expectativas, o que os 27 devem acabar por fazer é aceitar o pedido do Reino Unido, mas limitando o prazo da extensão, para ajudar Boris Johnson e forçar a Câmara dos Comuns a assumir uma posição definitiva sobre o ‘Brexit”. Salvaguardando a hipótese de a legislação necessária para implementar o acordo de saída ainda vir a ser aprovada até 31 de Outubro, os líderes poderão atrasar o dia-D apenas mais um mês, para que, como foi a ideia deste atraso, o Reino Unido abandone a UE na véspera da tomada de posse da nova Comissão Europeia.

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