Clínica que fez ecografias a bebé que nasceu com graves deformações está encerrada

Ministra pede esclarecimentos à Ordem sobre médico que não detectou malformações em bebé. Hospital de Setúbal, onde o clínico também trabalha, esclarece que nas funções deste “não estão incluídas a realização de ecografias obstétricas”.

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RG Rui Gaudencio

A clínica Ecosado, onde a mãe do bebé que nasceu no dia 7 deste mês no Hospital de Setúbal com graves malformações na cabeça e rosto fez ecografias durante a gravidez, já não está a realizar exames. “A clínica está encerrada. Só os serviços da recepção estão a funcionar”, disse ao PÚBLICO uma funcionária. A mãe fez três ecografias de seguimento nesta clínica privada que fica em Setúbal — exames realizados pelo médico Artur Carvalho —, tendo sempre recebido a informação de que estava tudo normal, contou a família ao Correio da Manhã. A criança nasceu sem nariz, olhos e uma parte do crânio.

A Ecosado apresenta um corpo clínico de dez médicos, incluindo mais dois de Ginecologia e Obstetrícia, além de Artur Carvalho. O PÚBLICO deslocou-se à clínica, que funciona em Setúbal, onde foi informado que a administração está reunida a analisar a situação e que decisão tomar. Constatou que as grávidas não estão a ser encaminhadas para outro local. Está apenas a ser-lhes dada a informação que esta sexta-feira não estão a realizar ecografias.

O Ministério da Saúde vai “solicitar à Ordem dos Médicos esclarecimentos sobre os processos que envolvem este médico”, disse ao PÚBLICO fonte do gabinete da ministra Marta Temido. A mesma fonte adiantou que o Ministério da Saúde “tem estado a acompanhar o caso junto do Conselho de Administração do Hospital de Setúbal, aguardando resultado das diligências em curso, nomeadamente do processo de averiguações instaurado ontem [quinta-feira] pelo hospital relativamente às circunstâncias do parto”.

A Ordem dos Médicos esclareceu esta quinta-feira que o médico em causa tem quatro processos a decorrer no conselho disciplinar do Sul, que estão em fase de instrução. O presidente do conselho disciplinar do Sul, Carlos Pereira Alves, disse ao PÚBLICO esta quinta-feira que nenhum deles era referente ao caso do bebé que nasceu em Setúbal.

O médico já tinha sido investigado em 2011 pelo Ministério Público por causa de uma situação semelhante. Uma bebé que nasceu com malformações graves. Foi Artur Carvalho quem fez as ecografias numa clínica privada. O caso acabou por ser arquivado.

O PÚBLICO questionou ainda o Ministério da Saúde sobre se haveria intervenção da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS). “Uma vez que a entidade patronal — Centro Hospitalar de Setúbal — instaurou um processo disciplinar, a IGAS apenas irá acompanhar o processo, através da abertura de um processo de acompanhamento”, esclareceu.

Médico não tem funções de chefia

O Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) esclareceu esta sexta-feira que, atendendo à reclamação apresentada por parte da família, “deliberou proceder à abertura de um processo de inquérito, para apurar se tudo foi feito de acordo com a legis artis desde que a parturiente deu entrada no bloco de partos”. O CHS já tinha esclarecido que esta gravidez não foi seguida no hospital.

Contudo, o obstetra que realizou as ecografias e não terá detectado as malformações no bebé faz parte dos quadros do CHS. Na rede social Linkedin, o médico diz ser chefe de serviço de ginecologia/obstetrícia do quadro do Hospital de Setúbal.

Em resposta ao PÚBLICO, o CHS afirma que nas tarefas que estão atribuídas a este médico “não estão incluídas a realização de ecografias obstétricas, nem desempenha qualquer cargo ou função de chefia no Hospital de São Bernardo”. Mas não esclareceu se existem queixas apresentadas ao hospital relacionadas com o desempenho daquele médico.

O PÚBLICO também enviou várias perguntas à Ordem dos Médicos, mas até ao momento não obteve respostas. Com Mariana Adam

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