Menopausa, porque mexes com o meu humor?

É importante dar oportunidade às mulheres de falarem dos seus problemas sexuais, fomentar o diálogo com o parceiro, para em conjunto, superarem esta etapa da vida com qualidade.

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Uma mulher de 52 anos, divorciada com filhos independentes, com emprego, vem à Consulta de Menopausa por medo de engordar: teve um ligeiro aumento de peso e do diâmetro da cintura, as mamas mais flácidas e tem um pavor de envelhecer (alterações da pele, cabelo, unhas). Esta mulher tem ansiedade, perda de auto-imagem, medo de ser preterida e sobretudo da solidão. Não conseguiu integrar a sua imagem corporal e novas oportunidades.

Este é apenas um exemplo de problemas na menopausa, tantos outros existem... Imaginemos uma outra mulher: aos 56 anos, com antecedentes de depressão, desempregada e pais doentes a seu cargo, tem agravamento de cansaço e de queixas de insónia, alterações do sono e dificuldades sociais e conjugais. É fundamental nesta situação, perceber se a causa é um agravamento da sua depressão ou se existem outras causas médicas ou sociais que a debilitam e que podem agravar a sua depressão de base. Temos de pesquisar outras patologias frequentes na menopausa e que podem ter sintomas similares, como hipotiroidismo, etc..

Uma outra mulher, um pouco mais velha, com 60 anos: é casada, reformada com diminuição da libido e desinteresse sexual — nela a baixa de estrogénios, sobretudo se não for apoiada e orientada pelo seu médico, ginecologista ou de Medicina Geral e Familiar, com uma terapêutica adequada, poderá originar secura vaginal, por baixa lubrificação e aperto vaginal que pode provocar dor nas relações sexuais. Estes sintomas levam a diminuição do desejo sexual e do número de relações sexuais.

As alterações de humor e de ansiedade, a deterioração da imagem corporal e, por vezes, problemas sexuais do parceiro, podem desencadear conflitos, idas frequentes a consultas e a urgência, por medos de doença e da implicação do desinteresse sexual na sua vida conjugal. Os casais podem desenvolver ou acentuar dificuldades de relacionamento, agravando a sua vida sexual.

É importante dar oportunidade às mulheres de falarem dos seus problemas sexuais, fomentar o diálogo com o parceiro, para em conjunto, superarem esta etapa da vida com qualidade. A sexualidade é um factor de bem-estar que deve ser conseguido com o envolvimento do casal.

Dou-vos outro possível exemplo de problema vivido na menopausa: Uma mulher de 58 anos, divorciada, na pré-reforma, com hábitos de leitura revela uma procura constante de informações sobre saúde, sexualidade e hábitos de vida saudáveis.

A procura de literatura, jornais, revistas, livros sobre a temática da menopausa pode, em mulheres obsessivas, levar ao medo das alterações psíquicas da menopausa ou de alterações emocionais.

As crenças que a mulher tem em relação à menopausa parecem ter um factor preponderante na sua vivência. Vários estudos mostram um aumento de risco de humor depressivo e episódios depressivos maior na transição para a menopausa.

Vários autores referem também que as mulheres que antecipadamente têm medo de vir a ter problemas emocionais e físicos, têm uma maior probabilidade de virem a ter humor depressivo na menopausa. Quanto mais negativas forem as atitudes mais exagerados serão os sintomas. A influência destes medos na menopausa é uma constatação.

Na menopausa e perimenopausa, podem surgir sintomas depressivos e ansiosos, alterações do sono, afrontamentos, além de problemas relacionados com a imagem corporal e a sexualidade. Na causa destas situações, podemos considerar factores fisiológicos, socioculturais e psicológicos.

Na pré-menopausa inicia-se uma baixa da função ovárica, que se traduz em alterações endócrinas, com repercussões no aparelho genital, esquelético, cardiovascular e urinário.

Os factores socioculturais relacionados com o meio ambiente da mulher, a cultura, as crenças e os mitos, têm uma grande importância social.

Na cultura ocidental podem surgir crises de identidade e conflitos variados.

A perda da capacidade reprodutora, pode criar ansiedade e depressão, que coincide com saída dos filhos “ninho vazio” e a sensação de perda e objectivo de vida.

Esta situação é mais frequente nas mulheres que não têm trabalho externo.

Contudo, também na sociedade ocidental, esta pode ser também uma época de libertação, em que a mulher tem mais tempo para se dedicar ao trabalho, à relação conjugal e a si própria.

Esta fase da vida da mulher pode coincidir com factores sociais complexos, tais como, uma maior necessidade de apoio aos pais, doenças dos familiares e amigos próximos, além de situações conjugais de divórcio; todas estas situações, podem agravar a saúde da mulher, levando a situações de cansaço, stress que podem coincidir com o aparecimento de doenças.

O papel dos clínicos e psicoterapeutas é ajudar as mulheres que por si só não conseguem ultrapassar os medos, angústias e sintomas que para outras mulheres são apenas inerentes a mais uma fase da vida que têm de ultrapassar tranquilamente, tentando ser saudáveis e felizes.

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