Montenegro aposta na “vida própria” do PSD contra Rio

Miguel Pinto Luz só deverá falar depois de o actual líder se pronunciar sobre o seu futuro no partido.

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Mafalda Neves

Foi a tónica do anúncio da sua candidatura à liderança do PSD e parece que continuará a sê-lo, à medida que se desenham os contornos do futuro Governo: Luís Montenegro rejeitaria fazer acordos com o executivo minoritário de António Costa. É o contraste que o antigo líder parlamentar tenta fazer sobressair no momento em que a sua candidatura à presidência do partido arrancou com um jantar que teve como pretexto a comemoração dos dez anos de vitória autárquica em Espinho. O sinal está dado: Nessa altura, em 2009, o PSD conquistou uma câmara que era do PS há 16 anos.

Enquanto esta candidatura traça as suas fronteiras, o PSD espera pela decisão de Rui Rio, que só reunirá a comissão política na próxima quarta-feira. Miguel Pinto Luz só falará depois de uma decisão do actual líder quanto à continuidade, apurou o PÚBLICO.

O jantar desta sexta-feira, marcado para a nave desportiva de Espinho, foi apresentado pela autarquia local como uma festa, com música ao vivo e insufláveis para crianças. Esperavam-se os apoiantes de Luís Montenegro, entre os quais, Hugo Soares, que também tinha ontem um jantar comemorativo da vitória autárquica em Braga.

 Entre os críticos da actual direcção acredita-se que Rui Rio virá a jogo com o argumento de que o resultado das legislativas foi “honroso” e que o partido pode crescer nas autárquicas de 2021, em resultado de um trabalho que tem de começar a ser preparado desde já.

Figuras próximas de Rui Rio têm vindo a abrir espaço para uma recandidatura do líder do PSD. “Se fosse por minha vontade, ele devia continuar”, declarou o vice-presidente David Justino na quinta-feira à noite na RTP. O certo é que Rui Rio disse antes da campanha que estaria disposto a tentar mais um mandato, se fosse “útil ao partido”, isto é, se conseguisse pôr em marcha reformas estruturais fruto de um entendimento com o PS. Se esse for o pilar da sua eventual candidatura, cabe aos militantes do PSD decidirem se essa é a melhor estratégia para o partido ou se preferem que o PSD faça uma oposição mais intransigente e que tenha “vida própria”, como defendem os apoiantes de Luís Montenegro.  

Salvador Malheiro, vice-presidente de Rui Rio, assegura que o “militante de base está muito agradado” com o presidente e que o partido está a ser afectado por alguns projectos e interesses pessoais”. Mas do lado dos críticos há quem lembre que Rui Rio, durante a sua liderança e até chegar à campanha das legislativas, não fez um esforço para comparecer em iniciativas locais e assim poder motivar os militantes.

No momento em que arranca a corrida à liderança do partido há eleições na distrital de Lisboa. Ângelo Pereira, que foi vice-presidente de Miguel Pinto Luz, já se apresentou como candidato e poderá ser o único. Rodrigo Gonçalves, ex-líder da concelhia de Lisboa e que foi apoiante de Rui Rio, disse ao PÚBLICO estar empenhado na união do partido. “Estou a procurar fazer parte desta solução alargada e com isso podemos alargar a base eleitoral. Estou empenhado em unir e enquanto estiver nesta solução não alimentarei outra alternativa”, disse o social-democrata. Rodrigo Gonçalves esteve na apresentação da candidatura assim como Miguel Pinto Luz e Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais. As eleições estão marcadas para 9 de Novembro.

Lobo d’Ávila sem pressa

No CDS, o momento é de alguma confusão. Ao que o PÚBLICO apurou, a candidatura de João Almeida, que está em ponderação, tentará ser agregadora de outras possíveis candidaturas, como a de Filipe Lobo d’Ávila.

Mas o ex-deputado, que liderou uma lista de oposição a Assunção Cristas ao conselho nacional, garante que se mantém em reflexão e que não está condicionado por outras candidaturas. “Continuo a ponderar as minhas circunstâncias pessoais, familiares, profissionais e políticas e não tenho pressa nessa decisão”, afirmou ao PÚBLICO Filipe Lobo d’Ávila.

O conselheiro nacional, que no último congresso, em 2018, conseguiu 18,5% dos votos na lista que encabeçou, foi um crítico da estratégia de Assunção Cristas e saiu do Parlamento nessa altura, em discordância com a direcção.

O nome de João Almeida, que foi porta-voz da direcção de Assunção Cristas, surgiu depois de na cúpula do partido se ter apontado para um candidato que seja deputado. João Almeida cumpre esse requisito e estará a tentar que a sua candidatura seja consensual, para evitar que o partido fique ainda mais fragilizado. É certo que as duas figuras do CDS são próximas pessoalmente, mas nos últimos tempos mantiveram-se em lados diferentes. João Almeida foi porta-voz e nessa condição fez parte da direcção de Cristas, enquanto Lobo d’Ávila esteve entre os críticos da líder do CDS.

De fora da corrida está Nuno Melo que, numa declaração à Lusa, disse não tomar posição sobre os candidatos já “em reflexão” e referiu que fora do Parlamento, haverá também potenciais candidatos com muito peso e “capacidade política” para liderar os centristas, como Nuno Magalhães, Lobo Xavier, Adolfo Mesquita Nunes, Diogo Feio e Filipe Lobo D'Ávila.

O eurodeputado e vice-presidente de Assunção Cristas também deixa recados para o partido nas redes sociais. Numa nota publicada esta sexta-feira no Facebook, escreveu que é preciso que o CDS “páre para reflectir”, “antes precipitar numa sucessão de candidaturas”. E numa frase deixou uma farpa: “Ideias antes de egos”.

Até agora há um candidato assumido à sucessão de Assunção Cristas, que é Abel Matos Santos, porta-voz da Tendência Esperança em Movimento, corrente interna do CDS, que conseguiu 8,5% dos votos no congresso de 2018. Já está marcado para a próxima quinta-feira um conselho nacional que se adivinha quente depois do pior resultado de sempre do partido em legislativas. 

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