Google fez donativos a empresas que contestam mudanças climáticas

A empresa lembra que nem sempre concorda e defende todos os ideais das empresas e organizações que apoia.

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Trabalhadores do Google protestaram contra as alterações climáticas em Setembro na cidade de Seattle Lindsey Wasson/Reuters

O Google está a ser alvo de críticas por apoiar financeiramente algumas organizações que contestam a gravidade das mudanças climáticas. Várias empresas e institutos norte-americanos que negam a interferência das actividades do ser humano nas alterações de temperatura – ou rejeitam alarmismos sobre o aquecimento global – estão entre a lista de empresas que recebem mais donativos da gigante tecnológica. A informação foi avançada, esta sexta-feira, pelo jornal The Guardian que obteve um documento que identifica as 351 entidades que receberam “as contribuições mais substanciais” da equipa de Politicas Públicas e Assuntos Governamentais do Google nos EUA.

A lista inclui nomes como o Competitive Enterprise Institute, um think thank com sede em Washington que se opõe a medidas para diminuir os gastos energéticos como o acordo climático de Paris, e a União Conservadora Americana que defende que o tempo de escola deve ser dedicado a matérias como matemática e literatura e não activismo climatérico.

O Google nota, no entanto, que nem sempre concorda com todas as ideias e projectos das empresas com quem trabalha ou a quem faz doações financeiras. “Nós patrocinamos organizações com várias posições e ideais no espectro político”, diz fonte oficial do Google em resposta a perguntas do PÚBLICO. Trata-se da mesma resposta enviada a outros órgãos da imprensa internacional. “Temos sido extremamente claros em como um patrocínio do Google não quer dizer que apoiemos toda a agenda de uma organização – podemos discordar fortemente sobre alguns assuntos.” 

É a mesma ideia defendida na secção do site do Google dedicada a assegurar a transparência das suas políticas públicas onde se lê que a colaboração do Google com uma organização de terceiros não significa que a empresa apoie todas as ideias da organização, nem todas as ideias dos seus membros e líderes. 

Nos últimos anos, o Google tem desenvolvido várias iniciativas para tentar travar o impacto da crise climática global. Esta semana, por exemplo, a empresa disponibilizou uma ferramenta para as cidades europeias medirem níveis de poluição. Inclui dados sobre as emissões geradas pelos transportes públicos, edifícios e o potencial da energia solar. O objectivo é reunir dados para travar as mudanças meteorológicas. Em Agosto, a empresa também se comprometeu a usar material reciclável em todos os aparelhos com assinatura Google ("Made by Google"), como telemóveis, colunas inteligentes e acessórios.

“Desde 2007 que somos uma empresa neutra em carbono”, lembrou o porta-voz do Google que nota que a tecnológica não é a única empresa a apoiar organizações com quem discorda sobre o aquecimento global. 

Não é a primeira vez que a tecnológica é alvo de atenção negativa devido ao tema: em 2014, a empresa já tinha sido criticada por apoios dados ao Conselho Legislativo de Intercâmbio Americano, uma organização que considera que o comportamento humano não tem influências no aquecimento global. Na altura, Eric Schmidt, o ex-presidente executivo do Google, descreveu o apoio como “um erro” e disse que a empresa ia evitar repetir a situação no futuro.

Em Setembro, centenas de membros do Google fizeram greve em protesto às alterações climáticas juntamente com milhares de outros trabalhadores de grandes empresas tecnológicas norte-americanas como a Amazon, a Microsoft e o Facebook. Na altura, o grupo de trabalhadores do Google queixou-se da política da empresa continuar a apoiar financeiramente membros do congresso norte-americano que votam contra legislação para travar o aceleramento do aquecimento global.

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