A revolução não será geolocalizada

Apple bloqueia em Hong Kong o HKMap Live, um serviço utilizado por manifestantes para evitar a polícia, mas também por cidadãos comuns para contornar os protestos. Empresa é acusada de ceder à China por razões comerciais.

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Activistas pró-democracia num protesto num centro comercial de Hong Kong, na quarta-feira Reuters/ATHIT PERAWONGMETHA

A batalha entre as autoridades pró-Pequim de Hong Kong e o vasto movimento popular pró-democracia também se trava na Internet. E, esta semana, o movimento popular contra a crescente influência da China naquele território autónomo sofreu uma importante derrota. A Apple decidiu retirar da sua loja de aplicações móveis naquela cidade o HKMap Live, um serviço de mapas que, nos últimos meses, tem sido utilizado por centenas de milhares de manifestantes ou simples cidadãos de Hong Kong para conhecer a localização dos protestos em curso e sobretudo onde está a polícia. “A sua aplicação contém conteúdo — ou facilita, permite e encoraja uma actividade — que não é legal. Especificamente, a aplicação permite aos seus utilizadores escaparem às autoridades”, lê-se numa mensagem que a Apple enviou aos responsáveis pela aplicação e que estes partilharam através da rede social Twitter.

O HKMap Live alimenta os seus mapas através de informações enviadas pelos seus utilizadores através de plataformas de mensagens encriptadas como o Telegram, outro recurso muito utilizado durante os protestos (tal como os serviços de mensagens Bridgefly e Firechat, que permitem comunicar através de Bluetooth, dispensando uma ligação à Internet). Os alertas surgem no mapa através de ícones. Um cão representa uma patrulha policial. Um sinal de proibição ilustra as estações de metro encerradas naquele momento. O símbolo de uma casa representa um lugar seguro.

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O mapa HKMap Live, com ícones a indicar a presença da polícia ou de estações de transportes públicos encerradas

Os seus criadores defendem-se. “Tudo pode ser utilizado para fins ilegais nas mãos erradas. A nossa aplicação serve para informar e não encorajamos actividades ilegais”, afirmam os responsáveis, que admitem que a decisão da Apple seja um “erro burocrático” e não uma acção de censura.

Uma visão mais crítica têm outros observadores. A influente investigadora turca de questões tecnológicas e políticas Zeynep Tufekci acusa a Apple de “lamber as botas” à China, um importante mercado para a empresa norte-americana. Maciej Ceglowski, empresário tecnológico e outro influente polemista, lembra que o HKMap Live também é utilizado por meras famílias que tentam evitar as manifestações e a violência policial. “A justificação da Apple não faz sentido e creio que estão simplesmente a mentir para evitar enfurecer a China”, afirmou no Twitter.

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