Vai votar

Cabe a todos contrariar a tendência dos últimos anos e baixar a taxa de abstenção para nosso bem, para bem da democracia.

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Nuno Ferreira Santos

Quando, em Maio, fui seleccionada para participar no programa Women2Women 2019, o desafio proposto foi o de pensar num problema na minha comunidade, de maneira a desenvolver um plano de acção, durante a conferência em Boston, EUA, que pudesse implementar quando regressasse a Portugal.

Tratando-se de um programa vocacionado para raparigas, cerca de uma centena, do mundo todo, pensei em vários problemas com que nos debatemos no dia-a-dia, desde a violência no namoro às desigualdades de género. Mas foi na noite de dia 26 de Maio que me deparei com o que considero o maior problema de todos, que pode mesmo estar na génese de tantos outros: a abstenção – sendo que a taxa nas eleições europeias incidiu sobretudo na faixa etária em que me insiro, dos 18 aos 45 anos.

Então compreendi que antes de almejar resolver qualquer problema de carácter social, em primeiro lugar estava o lutar pela voz política de cada um. No caso daquelas eleições, como é possível que apenas 30,7% dos eleitores portugueses tenha algo a dizer sobre aquilo a que vai ser sujeito pela Europa?

Inicialmente pensei num projecto que consistisse em falar nas escolas, educando desde cedo para a cidadania, e não falo daquelas aulas em que os directores de turma desabafam sobre a semana, refiro-me a consciencializar os alunos para a responsabilidade cívica e consciência social. Acredito que a chave para os problemas do mundo se encontra na educação, no entanto, tenho 20 anos e não posso esperar que um projecto só dê frutos daqui a uma geração, quero que o impacto seja agora, antes que seja tarde de mais, porque é agora que vejo a força que ganham sistemas políticos cada vez menos democráticos e não é isso que desejo para o país em que vivo.

Talvez nós, os mais novos, nos tenhamos esquecido, mas os mais velhos ainda se lembram de viver sem liberdade e essa será uma das razões por que a taxa de abstenção é menor nessa faixa etária. O fim da ditadura ainda não tem 50 anos e os nossos avós têm presente a memória do que é não poder votar, não poder exprimir aquilo que se quer ou não ter uma alternativa ao regime. Isto, aliado ao facto de que todos os cidadãos possuem o direito de escolha, sublinha a importância do voto.

Por mais diversas que dez milhões de pessoas possam ser, todas têm a oportunidade de ser representadas através dum sistema político que procura ser justo. Logo, os maiores de 18 anos devem usar o poder inerente ao voto para que qualquer mudança seja expectável.

Depois do programa em Boston, o meu Verão foi passado a conversar com muitas pessoas da minha idade para perceber o porquê de não votarem; e a convencê-las a votarem na primeira oportunidade — agora nas legislativas. O que ouvi? Das duas uma: ou não têm esperança nos políticos — “são todos iguais” —. ou não estão informados. Na primeira opção encontramos as pessoas que preferem ficar no sofá a participar em algo de que apenas ouviram falar mal. Na segunda estão as que não querem dar um voto ignorante, mas também não se dão ao trabalho de se informarem para dar um voto consciente.

Confesso que me é difícil compreender que exista um grande grupo que esteja alheado de que há eleições este domingo. Isso parece quase impossível, quando os meios de comunicação nos bombardeiam diariamente com informação, quando há órgãos e até pessoas que fazem comparadores interactivos dos programas dos partidos, ou quando há um programa humorístico diário em que a campanha eleitoral é escrutinada de maneira crítica e divertida.

Sem ser através de um programa de educação cívica nas escolas, cujos resultados chegam daqui a uma década, como posso eu contribuir para que mais jovens queiram votar? Embora não seja blogger, youtuber ou instagrammer, pensei que a forma de alcançar os que não votam pode ser através de uma mensagem que circule nesses canais. E o que dizer? Falar de alguns dos problemas com que se debatem aqueles que fui ouvindo durante o Verão e que até estão nos programas dos partidos: da educação à igualdade de género, dos direitos humanos aos direitos dos animais, do arrendamento de um quarto aos transportes, passando pelo acesso à saúde, ao trabalho e às alterações climáticas.

É uma mensagem de um minuto em que enuncio algumas destas questões. Um minuto que é o tempo suficiente para agarrar a atenção de quem vê. Um minuto que pode ser partilhado e chegar a um maior e mais variado número de pessoas. Porque o desafio é chegar a diferentes observadores e incitá-los a serem participantes activos na democracia,  ou seja, sensibilizá-los para a importância de votar, porque a nossa participação colectiva fortalece o regime em que quero continuar a viver. Daí o convite para que faças chegar esta mensagem a mais gente!

Não há desculpa para não votar! É possível fazê-lo antecipadamente e de maneira informada. É urgente resolver esta questão para passarmos, com conhecimento de causa, às próximas, para que sejamos participantes activos numa sociedade melhor. Cabe a todos contrariar a tendência dos últimos anos e baixar a taxa de abstenção para nosso bem, para bem da democracia. Dia 6 de Outubro vai votar!

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