Coleman, de “vice” a campeão em dois anos

Norte-americano sucede a Justin Gatlin como rei da velocidade e já é o sexto mais rápido de sempre no hectómetro.

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Coleman, um campeão que esteve quase para não o ser Reuters/KAI PFAFFENBACH

Há dois anos, em Londres, o mundo assistiu ao fim, com pouca glória, de um dos maiores desportistas de sempre. Usain Bolt queria despedir-se em alta em Londres, mas acabou por fazer a passagem de testemunho a um “velho” rival que até era mais velho que ele, Justin Gatlin. Bolt nem sequer foi segundo nessa corrida, tendo de se contentar com o terceiro lugar atrás de Gatlin e de outro norte-americano, esse sim, olhado como um futuro rei da velocidade. Dois anos depois, Christian Coleman cumpriu essa promessa, triunfando com enorme autoridade na final dos 100m dos Mundiais de atletismo que se estão a realizar em Doha, no Qatar.

Coleman já era o favorito para estes Mundiais e mais do que confirmou esse estatuto numa final que dominou do princípio ao fim, apesar dos nomes sonantes que tinha ao lado. Tinha a concorrência, por exemplo, de dois campeões mundiais que eram também dois dos cinco mais rápidos de sempre, Gatlin e Yohan Blake, dois sprinters veteranos que tinham ficado quase sempre na sombra de Bolt. Mas Coleman não deu hipótese à concorrência e terminou com um fantástico novo recorde pessoal, 9,76s, que faz dele o sexto mais rápido de sempre. As pernas de 37 anos de Gatlin ainda o levaram até à prata, com 9,89s, enquanto Andre de Grasse, um triplo medalhado com bronze nos Jogos de 2016, voltou a ficar no terceiro lugar, com 9,90s, um novo máximo para o jovem canadiano.

Esta foi, aliás, a segunda final do hectómetro mais rápida de sempre, apenas perdendo para a de Berlim 2009, na qual Bolt fez aquele que ainda vale como recorde mundial da distância, 9,58s. E o facto de os cinco primeiros terem corrido abaixo dos dez segundos prova que esta era, como se esperava, uma pista rápida, mesmo que sem grande ambiente - as bancadas do estádio Khalifa voltaram a estar bastante despidas.

“Campeão mundial, é incrível, demasiado bom para ser verdade. Chegar aqui e ganhar a medalha de ouro é incrível. Há dois anos, estava a sair da universidade e ninguém esperava que ganhasse a prata. O que eu esperava era um upgrade em relação a essa prata”, disse no final Coleman, que já pensa na glória olímpica em Tóquio. “É difícil não pensar nisso. Se eu lá estiver, todos vão esperar que eu ganhe uma medalha, mas não posso deixar de trabalhar”, acrescentou o vencedor, que tirou três centésimos ao seu recorde e já tem os olhos postos em corridas mais rápidas: “O céu é o limite. Há muitas coisas que posso melhorar e acho que posso ir baixando o meu tempo.”

O caminho até ao seu primeiro título mundial esteve quase a ser interrompido. A menos de dois meses dos Mundiais, a Agência Antidoping dos EUA (USADA) avançou para a suspensão temporária de Coleman por entender que este tinha violado o código antidoping depois de ter falhado três controlos. O atleta recorreu, com o argumento de que tinham sido apenas dois, e ganhou - uma derrota teria deixado Coleman dois anos sem competir, falhando estes Mundiais e os próximos Jogos Olímpicos.

Treze centésimos depois de Coleman, Gatlin cortou a meta para uma prata que, para o veterano sprinter, só pode saber a ouro e é um testemunho à sua durabilidade competitiva. É que já passaram 14 anos desde que  foi campeão mundial pela primeira vez, em Helsínquia 2005, e tem conseguido manter-se ao mais alto nível até agora, mesmo com um par de suspensões pelo meio. 

“Tive alguns contratempos esta época, mas queria estar focado para esta corrida. O Christian fez uma época espectacular e para mim não foi um choque ele ter vencido. Só tinha era de aguentar e confiar na minha técnica”, disse Gatlin depois de ter sido vice-campeão mundial no hectómetro pela terceira vez. E que pensa ele de Tóquio 2020? “Vou lá estar. Vou melhorar. Estou pronto.”

Recorde na estreia

Em mais um dia de ar condicionado, alta temperatura atmosférica e pouco calor humano, houve outro grande resultado na final masculina do salto em comprimento. O jamaicano Tajay Gayle ficou com o ouro graças a um salto de 8,69m, que é nada menos que o melhor que se viu no comprimento nos últimos dez anos, deixando o cubano Juan Echevarría, o grande favorito, sem resposta à altura, e “empurrado” para um inesperado bronze pelo norte-americano Jeff Henderson.

Será, provavelmente, um recorde de curta duração, mas terá o seu valor simbólico. Caiu o primeiro recorde do mundo na estreia absoluta da estafeta mista de 4x400m em grandes campeonatos internacionais. Aconteceu logo na primeira eliminatória, com o quarteto dos EUA formado por Tyrrell Richard, Jessica Beard, Jasmine Blocker e Ogi Igbokwe a fixar esse máximo em 3m12,42s. 

Resultados

Maratona (F)
1.º Ruth Chepngetich (QUE)        2h32m43s
2.º Rose Chelimo (BRN) 2h33m46s
3.º Helalia Johannes (NAM)         2h34m15s
(…)
28.º Salomé Rocha (POR)              2h58m19s

Martelo (F)
1.º DeAnna Price (EUA) 77,54m
2.º Joanna Fiodorow (POL)           76,35m
3.º Zheng Wang (CHI)     74,76m

10.000m (F)
1.º Sifan Hassan (Hol)     30m17,62s
2.º Letesenbet Gidey (ETI)           30m21,23s
3.º Agnes Tirop (QUE)    30m25,20s

Comprimento (M)
1.º Tajay Gayle (JAM)     8,69m
2.º Jeff Henderson (EUA)              8,39m
3.º Juan Echevarría (CUB)             8,34m

100m (M)
1.º Christian Coleman (EUA)        9,76s
2.º Justin Gatlin (EUA)    9,89s
3.º Andre de Grasse (CAN)           9,90s

Finais no terceiro dia
18h01    Vara (F)
19h45    Triplo (M)
20h35    4x400m (X)
21h20    100m (F)
21h30    20km marcha (F)

Portugueses em acção
19h45 Pedro Pablo Pichardo       Triplo (Final)
20h30 Ana Cabecinha     20km marcha (Final)

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