O Presidente da República é o “papagaio-mor do Reino”? “Não necessariamente”, disse Vasco Brazão

O major da Polícia Judiciária Militar foi confrontado no interrogatório com a presumível identidade de quem chamava “papagaio-mor do reino”. Falou de vários nomes.

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Paulo Novais/Lusa

É numa conversa telefónica interceptada pela investigação que o major Vasco Brazão fala à irmã de uma personagem que designa de “papagaio-mor” e “papagaio-mor do Reino”.

“Mas isto aqui é de propósito que é para meter outros nervosos. (...) Vais ver que o papagaio-mor não vai falar sobre Tancos tão cedo. O papagaio (...) do Reino não vai falar sobre Tancos tão cedo. Pois, porque eles sabem, o Sá Fernandes já fez chegar à Presidência que eu tenho um e-mail que os compromete. Portanto, eles não vão falar sobre Tancos tão cedo. (...) E quando for o julgamento isto vai rebentar.”

Quando foi interrogado no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), Vasco Brazão é questionado sobre a identidade do “papagaio-mor”. Segundo a acusação, a que o PÚBLICO teve acesso, o major da Polícia Judiciária Militar (PJM) responde de várias formas, ora incluindo, ora excluindo Marcelo Rebelo de Sousa.

Diz a acusação que Vasco Brazão “reconheceu que ‘papagaio-mor do Reino são vários: desde o Júdice, o Presidente da República, ao Miguel Sousa Tavares que andam sempre aqui à volta, à volta de Tancos e outros”.

E como disse que “papagaios-mor” seriam várias pessoas, não se recordava a qual deles estava a referir-se na conversa telefónica que tinha tido com a irmã em Abril.

“O Marques Mendes é um deles, o Presidente da República também, no fundo o que eu me queria aí referir tem a ver, tem a ver com a direita.” E continua a acusação: “Mais elucidou que, quando falou em papagaio-mor do Reino e Presidência, estava, de facto, a falar da Presidência da República e dos lobbies que existem na protecção da Presidência da República, quanto ao caso de Tancos. Esclareceu, ainda, que papagaio-mor do Reino não é necessariamente o Presidente da República. Referia-se ao Presidente da República e a quem fala por ele, o Júdice, Marques Mendes e... a outra também do PSD.”

Vasco Brazão disse ainda no interrogatório, segundo está transcrito na acusação, que “quanto a José Miguel Júdice, Miguel Sousa Tavares e Marques Mendes, eles são a voz do Presidente da República”, acabando depois por referir, mais à frente no interrogatório, que essas pessoas a certa altura “estranhamente" deixaram de falar de Tancos.

Foi depois de a TVI ter voltado a dar conta desta escuta que já tinha sido divulgada em Agosto pela revista Sábado, que Marcelo Rebelo de Sousa reagiu dizendo: “É bom que fique claro que o Presidente não é criminoso.”

Vasco Brazão está acusado da co-autoria de cinco crimes: associação criminosa; tráfico e mediação de armas; falsificação ou contrafacção de documento; denegação de justiça e prevaricação e favorecimento pessoal.

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