Marcelo quer que “fique claro” que “não é criminoso”

Presidente da República reitera que nunca foi informado sobre o encobrimento da recuperação das armas furtadas de Tancos.

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LUSA/JUSTIN LANE

O Presidente da República reiterou esta terça-feira nunca ter sido informado, por qualquer meio, sobre o alegado encobrimento na recuperação das armas furtadas de Tancos, e sublinhou que “é bom que fique claro” que “não é criminoso”.

“Nem através do Governo, nem através de ninguém no parlamento, nem através das chefias militares, nem através de quaisquer entidades de investigação criminal, civil ou militar, nem através de elementos da minha equipa, da Casa Civil ou da Casa Militar, nem através de terceiros, não tive”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa às televisões, à margem da Assembleia-geral das Nações Unidas, em Nova Iorque.

O chefe de Estado, que é comandante supremo das Forças Armadas, disse que soube que “a defesa de um dos implicados fez questão de afirmar expressamente que não envolvia o Presidente da República”.

“Espero que seja a última vez que falo sobre a matéria, até porque se aguarda a todo o momento a acusação, no caso de ela existir, e o que haja a investigar contra quem quer que seja, sem qualquer limitação, seja investigado”, afirmou.

O Presidente sublinhou que se trata dos “mesmos factos, os mesmos elementos”, de “há três ou quatro meses, que são reapresentados”.

“Mas para que não restem dúvidas, por uma questão, não só de honra pessoal, mas porque estou aqui a defender a posição de Portugal, é bom que não esteja a defender a posição de Portugal na Assembleia-geral das Nações Unidas ao mesmo tempo que surge uma vaga dúvida sobre se o Presidente é criminoso, é bom que fique claro que o Presidente não é criminoso”, frisou.

Estas declarações surgem na sequência de uma notícia da TVI, que no Jornal da Noite desta terça-feira recuperou as escutas feitas entre Vasco Brazão e a irmã que constam do acórdão do Tribunal da Relação quando decidiu passar Vasco Brazão para prisão domiciliária. Nesse documento, que foi revelado em Agosto, surgem então frases retiradas dessa conversa do major da PJ Militar e a irmã que se refere ao “papagaio-mor”.

Na altura, a revista Sábado escrevia que estavam no documento as seguintes frases atribuídas a Vasco Brazão: "Mas isto aqui é de propósito para meter outros nervosos”, “vais ver que o papagaio-mor não vai falar sobre Tancos tão cedo”, “o papagaio-mor do Reino não vai falar sobre Tancos tão cedo”, “pois eles sabem, aliás o Sá Fernandes já fez à Presidência que eu tenho um e-mail que os compromete”, “portanto, eles não vão falar de Tancos tão cedo” e “quando for o julgamento isto vai rebentar”.

Advogado de Vasco Brazão nega ligação a PR

Em declarações à TSF, Ricardo Sá Fernandes, advogado de Vasco Brazão, nega totalmente qualquer ligação com o Presidente da República. “Dessa conversa, ou do conhecimento do major não há nada que ligue ao Presidente da República. As pessoas, quando estão a falar ao telefone, e não sabem que estão a ser escutadas, podem dar origem a equívocos. Admito que dessa conversa pudesse haver esse equívoco. A verdade foi reposta no processo e esclarecida. Não há nada que ligue o major Vasco Brazão ao Presidente da República, não há nada do conhecimento do major Vasco Brazão que ligue ao Presidente da República”, afirmou.

Em Abril o major foi um dos inquiridos na comissão parlamentar de inquérito para apurar responsabilidades políticas no caso. Contou como fez, sob as ordens do então director da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira, uma investigação paralela à da Polícia Judiciária civil de forma a recuperar as armas que tinham sido furtadas em Tancos.

“Fomos instruídos pela hierarquia para não revelar este acontecimento a ninguém, a não ser a recuperação do material de guerra se viesse a aparecer”, disse. E depois contou que após a recuperação do material foi com o director ao gabinete do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, contar o que tinham feito.

O furto de armas de guerra nos paióis de Tancos foi divulgado em 29 de Junho de 2017.

Um dos arguidos do processo é o ex-ministro da Defesa Nacional José Azeredo Lopes, que está proibido de contactar com os outros arguidos, com o seu ex-chefe de gabinete e com o antigo chefe de Estado Maior do Exército, general Rovisco Duarte.

Quase três meses após a divulgação do furto das armas, a Polícia Judiciária Militar (PJM) revelou o aparecimento do material, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração com elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.

O processo de recuperação do material militar levou a uma investigação judicial, por suspeitas de associação criminosa, tráfico de armas e terrorismo no furto do armamento e durante a qual foram detidos o agora ex-director da PJM Luís Vieira e o antigo porta-voz da PJM Vasco Brazão e três militares da GNR, num total de oito militares.

Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.

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