Uma Madeira menos irredutível e mais bipolarizada

Nas eleições deste domingo, muitos eleitores inclinaram-se para a mudança, retirando a maioria absoluta ao PSD e abrindo portas a que seja necessário um entendimento entre forças políticas à direita para assegurar uma governação estável.

As contas podem ser feitas, mas não é arriscado dizer que não devem restar em Portugal muitos órgãos de representação democrática que não tenham mudado de força política em 43 anos de democracia. No todo nacional, a permanente maioria absoluta do PSD na Assembleia Regional da Região era uma anomalia. Que numa animação bem-humorada, distribuída pelas redes, os sociais-democratas se tenham representado como a aldeia gaulesa de Astérix só reforça essa ideia. Mas ontem o que os madeirenses mostraram foi a vontade de serem menos “irredutíveis”.

A alternância democrática é um dos mecanismos virtuosos da democracia e nas eleições deste domingo muitos eleitores inclinaram-se para a mudança, retirando a maioria absoluta ao PSD e abrindo portas a que seja necessário um entendimento entre forças políticas à direita para assegurar uma governação estável. Que esse resultado se tenha registado com uma diminuição da abstenção só pode ser visto como um dado positivo deste sufrágio.

Há quatro anos, Alberto João Jardim saía de cena e contestava o seu sucessor. O PSD conseguiu por pouco manter a maioria absoluta. Nesta campanha, Miguel Albuquerque foi buscar o ex-líder madeirense e praticou um discurso de diabolização do seu principal adversário que fez lembrar os idos anos do pós-revolução. O passado não funcionou, não chegou para inverter a queda regional do partido e mesmo que tenha averbado o maior número de mandatos permitiu que caísse a aura de invencibilidade do PSD.

Apesar de não ter ultrapassado os sociais-democratas, o PS tem razões para falar em vitória, mesmo que aquém dos objectivos. Teve o seu melhor resultado de sempre, mais do que triplica a sua representação e viu a vontade de mudança dos madeirenses traduzir-se numa bipolarização da vida política do arquipélago. Esta tendência e a pulverização dos pequenos partidos fez desaparecer o BE e diminuiu em muito a força do CDS, que, no entanto, pode também falar em vitória, porque, pela primeira vez, tem a possibilidade de ascender ao poder de forma a garantir uma maioria absoluta com PSD.

Estas são eleições regionais e, apesar de acontecerem no meio das legislativas, as tentativas de uma leitura nacional são algo forçadas. Pode o PS olhar para diminuição da força do PSD, nomeadamente nas áreas urbanas, como uma tendência, mas também haverá quem não se esquecerá de apontar que os portugueses já não privilegiam as maiorias absolutas como outrora. Certo é que o PSD ganhou as eleições, mas terá de partilhar o poder, acrescentando diálogo e compromisso ao seu exercício. Os eleitores assim o determinaram.

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