Escalada das tensões políticas no centro do debate da Assembleia Geral da ONU

A avalanche de tensões entre Irão, Estados Unidos e Arábia Saudita estará no centro das atenções, embora o clima e o ambiente sejam também temas estrela deste ano.

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A sala da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque Mike Segar/REUTERS

As ameaças no Golfo Pérsico e na Faixa de Gaza e as crises na Síria, Iémen e Venezuela são os maiores desafios em discussão nas Nações Unidas, na Assembleia-Geral em que se reúnem, a partir de terça-feira, em Nova Iorque, os 193 Estados-membros.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse na semana passada que se está a assistir a uma escalada de tensões muito perigosa no Golfo Pérsico, tendo o Irão e Arábia Saudita como principais potências da região, e os Estados Unidos, como uma superpotência que ora diz estar pronta a atacar Teerão, ora se diz aberta a negociar directamente a cúpula dirigente da República Islâmica. França tenta intermediar conversações pacíficas entre os presidentes Donald Trump e Hassan Rouhani.

Os ataques a refinarias de petróleo da Arábia Saudita, a 14 de Setembro, que levaram o Presidente Donald Trump a dizer que os EUA estavam “prontos a disparar” contra o Irão, para logo a seguir recuar, foram o sobressalto mais recente. Esta crise permanente, de múltiplos sobressaltos, deverá ser um dos pontos quentes do debate entre os vários Estados-membros da ONU, principalmente os que têm interesses económicos no Médio Oriente e nos países produtores de petróleo.

A 18 de Setembro, a ONU anunciou a viagem de uma equipa de peritos à Arábia Saudita para conduzir um inquérito internacional sobre os ataques contra instalações petrolíferas sauditas. O Presidente norte-americano, Donald Trump anunciou na sexta-feira novas sanções contra o sistema bancário iraniano, assegurando tratar-se das “mais severas jamais impostas a um país”. 

O Irão está no foco dos debates sobre a paz e segurança no mundo, devido à sua política nuclear, e em especial depois de os EUA terem rompido o acordo internacional assinado durante a Administração Barack Obama. Teerão é um dos focos de uma feroz disputa pela hegemonia regional no Médio Oriente, em que o outro protagonista é a Arábia Saudita. 

Os conflitos no Iémen, Síria, que se prolongam há vários anos, deverão ser entre os mais abordados, depois de a ONU ter dito, com vários relatórios, que a crise humanitária no Iémen, país que vive em guerra desde 2014, é a pior da actualidade e poderá ser a pior do século.

Os rebeldes iemenitas anunciaram na sexta-feira uma trégua nos ataques à Arábia Saudita, exigindo em contrapartida que cessem os ataques sauditas no Iémen.

O regime sírio, a oposição e as Nações Unidas chegaram a um acordo sobre a composição de um comité constitucional encarregado de estabelecer uma nova Constituição para a Síria, foi anunciado na quinta-feira.

A crise política na Venezuela é também uma crise económica e social, que desencadeou uma vaga de refugiados para os países vizinhos. Prevê-se que a comunidade internacional veja a Assembleia-Geral como uma oportunidade para colocar ainda mais pressão sobre o regime de Nicolás Maduro, que já anunciou que não vai estar presente em Nova Iorque.

Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, órgão que o proclamou presidente interino do país, argumentando com o facto de os resultados das últimas eleições presidenciais não terem sido reconhecidas internacionalmente, anunciou que vai entregar à ONU provas de violações dos Direitos Humanos na Venezuela, depois de a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, ter apresentado um relatório este mêsque alerta para o aumento de torturas e execuções. Na quinta-feira, Guaidó anunciou a criação de um Conselho de Estado Plural, para convocar novas eleições presidenciais.

Na Assembleia-Geral da ONU é esperado que a Colômbia apresente uma acção de condenação contra Nicolás Maduro, como chefe de Estado “responsável por uma catástrofe humanitária” na Venezuela e uma ameaça para a estabilidade na região, uma vez que alegadamente acolheu guerrilheiros rebeldes das FARC colombianas, escreveu a agência de notícias Associated Press.

Com o mundo de olhos postos no combate às alterações climáticas e, nomeadamente, sobre a região da Amazónia e a luta pelos direitos humanos dos povos indígenas, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, prometeu levar a Amazónia na agenda. Será o primeiro a abrir o debate geral na terça-feira, como tradição, antes do Presidente dos Estados Unidos da América.

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